Esboço de uma das obras que integram o projeto. Foto: mediotejo.net

Sabe onde fica o posto de transformação (PT) da EDP Distribuição no Alto da Fonte? E os da Atalaia, Tancos ou Limeiras? É provável que passe lá perto regularmente, mas não dê por eles. Vai passar a dar pois estas, outras cabines e fachadas de alguns edifícios públicos vão transformar-se nas telas de Alexandre Farto (aka Vhils), Manuel João Vieira, João Maurício (aka Violant) Violant e Carlos Vicente através do Programa Arte Pública da Fundação EDP. Os projetos ARTEJO foram apresentados este sábado, dia 17, no Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha e, além de eletricidade, também a arte passa a ser “distribuída” em rede nas quatro freguesias.

À semelhança das assembleias comunitárias realizadas durante o ano passado, a população barquinhense quis conhecer pessoalmente os projetos dos artistas envolvidos na iniciativa lançada em 2015 pela Fundação EDP. O Médio Tejo é uma das regiões abrangidas e as cerca de uma dezena intervenções artísticas que começam a ganhar forma a partir do mês de março integram a lista de 79 realizadas em 40 localidades do Algarve (projeto WATT?), Alto Alentejo (projeto Mayor.Art), Ribatejo (projeto UniArt) e Trás-os- Montes (projeto Voltagem).

Em Vila Nova da Barquinha, é o projeto ARTEJO que junta Alexandre Farto (aka Vhils), Manuel João Vieira, João Maurício (aka Violant) Violant e Carlos Vicente, quatro dos mais de 35 artistas envolvidos a nível nacional no programa que tem João Pinharanda como curador. Vhils, em viagem pelos Estados Unidos, não se sentou no centro cultural onde também esteve Fernando Freire, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, Sandra Santos, da EDP Distribuição, e outros elementos do executivo, entre os quais Marina Honório.

A última assembleia comunitária realizou-se no Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha. Foto: mediotejo.net

A vereadora da cultura sublinhou ao mediotejo.net a abrangência geográfica da iniciativa que diz deixar “uma marca (…) pela visão de futuro que este projeto poderá trazer” ao “percorrer as quatro freguesias do concelho, o que torna a arte transversal em todo o território concelhio” com ponto de partida na sede do município. Os artistas participantes e o seu envolvimento com a comunidade foram, igualmente, destacados, partilhando a expetativa de que o ARTEJO venha a “despertar uma semente junto dos jovens e das crianças” e crie um novo “polo de atração” turístico.

A maioria dos projetos revelados ao final do dia dão continuidade aos propostos à população do concelho durante a primeira fase do Programa Arte Pública, que terminou este fim-de-semana com a quinta e última assembleia comunitária. As primeiras foram realizadas nas quatro freguesias que vão receber a fase seguinte, na qual os esboços dos artistas saem do papel, e que passam a estar ligadas em rede na terceira fase através de um roteiro de arte pública. Os itinerários do Alto Alentejo, Ribatejo e Algarve foram lançados em Lisboa no passado dia 24 de janeiro.

O roteiro do Médio Tejo irá juntar-se aos três que já foram lançados. Foto: mediotejo.net

O que será criado no Médio Tejo integra o Parque de Escultura Contemporânea Almourol (PECA), outro projeto desenvolvido em parceria pela autarquia e a Fundação EDP. Além das onze esculturas que dividem a margem do rio Tejo, o município passa a ter como proposta cultural uma visita guiada em que, por exemplo, cada visitante cria a sua própria narrativa a partir dos painéis de azulejos de Manuel João Vieira no PT horizontal do Alto da Fonte, inspirados nos das estações ferroviárias nacionais e, em particular, na do Entroncamento, um dos ponto de chegada à região.

Na fachada da Junta de Freguesia de Tancos irá contar-se outra história – a do barqueiro, do lobo, da ovelha e da couve – através da arte conjunta de Carlos Vicente e Violant. O primeiro assume-se como “artista de atelier”, o segundo é conhecido no mundo da street art pelos murais pintados em locais públicos. Ambos também têm projetos próprios, estando entre eles as intervenções de Carlos Vicente nos PT do parque ribeirinho, das Limeiras e de Tancos, assim como as de Violant no edifício contíguo à Loja do Cidadão ou nos PT da Praia do Ribatejo e do Cardal.

Carlos Vicente, João Pinharanda, Violant e Manuel João Vieira. Foto: mediotejo.net

As obras do artista barquinhense e coordenador do Centro de Estudos de Arte Contemporânea (CEAC) recriam as imagens, que explicou ao mediotejo.net minutos antes de o fazer à plateia, presentes nos “livrinhos de desenhos em que víamos os corpos fracionados, em movimento… quase. Muitos esboços, uns por cima dos outros (…) um movimento criado quase como se fosse cinema”. Os desenhos serão “vestidos” com trajes ligados à região, desde os dos arrais aos dos camponeses, ou seja, “com aquilo que nos define enquanto concelho, que é o campo e o rio”.

Por seu lado, Violant, manterá o cunho pessoal de abordar temas atuais, não esquecendo o da poluição. Os PT juntam-se agora aos traços e às cores que a região conhece bem com murais, por exemplo, nos concelhos de Abrantes, Constância, Tomar e Vila Nova da Barquinha e adaptar um trabalho de autor tem os seus desafios. Para o artista natural de Riachos, no concelho de Torres Novas, “satisfazer todas as expetativas é complicado, mas há que ser fiel a nós próprios”.

Manuel João Vieira na apresentação da sua intervenção de arte pública. Foto: mediotejo.net

Entre os elementos que lhe são associados estão a água e o rio, assim como aquilo que diz ser uma chamada de atenção para “uma vertente um bocado mais negra do ser humano”, concluindo que espera que as pessoas vejam “para além da obra” e que “a arte não deve ser apenas bonita”. O lado “pacífico” das assembleias comunitárias referido por Carlos Vicente durante a última foi confirmado por Violant na conversa que tivemos no final em que referiu que “a população pode não colocar muitas questões, mas está interessada naquilo que se vai fazer”.

As caras dos habitantes locais no projeto ARTEJO não se limitam às do público nas assembleias comunitárias e uma delas poderá surgir na obra criada por Vhils no PT de Atalaia. João Pinharanda avançou alguns pormenores em complemento do vídeo com o artista que foi exibido durante a apresentação, tendo referido ainda que existe também a possibilidade da intervenção ter uma ligação aos peregrinos do Caminho de Santiago que passam regularmente no local.

O número global de pessoas envolvidas no Programa Arte Pública da Fundação EDP ultrapassa o meio milhar e a criatividade que surgirá a partir de março nas quatro freguesias do concelho pertence aos artistas e elementos de entidades locais uma vez que algumas obras são criadas em conjunto. No caso de Vila Nova da Barquinha são duas e unem o CEAC a Violant e a Escola Secundária D. Maria II a Carlos Vicente.

Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.

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