A fotógrafa Maria Isabel Clara foi a oradora da última sessão de “Palavras Soltas”, que decorreu na sala estúdio do Centro de Estudos de Arte Contemporânea (CEAC) esta quinta-feira, dia 12. A convidada assumiu a timidez vinda dos tempos de escola, mas se considerarmos a expressão “uma imagem vale mais do que mil palavras” as muitas fotografias reconhecidas e premiadas tornam Maria Isabel Clara tudo menos parca nas mensagens.
Maria Isabel Clara soltou palavras sobre as cinco décadas de vida e os oito anos de experiência como fotógrafa na última sessão de “Palavras Soltas” que a recebeu como convidada no Centro de Estudos de Arte Contemporânea (CEAC). A tertúlia decorreu na sala estúdio e a fotógrafa passou a integrar a lista de personalidades da região que têm respondido às questões de Carlos Vicente, coordenador do CEAC e moderador da iniciativa.
À pergunta de partida “A fotografia, porquê?” juntaram-se muitas outras com as memórias da infância em Abrantes a misturarem-se com os projetos futuros. Desde a Tele Escola em Martinchel, onde viveu com os pais até aos 18 anos, até às exposições previstas em Coimbra e Vila Franca de Xira. Nos anos intermédios frequentou o ensino secundário em Tomar, não em artes como seria expectável, mas em ciências motivada pelo desejo de ser enfermeira.
O tempo ditaria a carreira profissional que tinha traçado na primária: “trabalhar no escritório onde o meu pai trabalhava”. O local de trabalho situava-se na CAIMA e a entrada no curso de secretariado – foi uma das 15 pessoas selecionadas entre centenas de candidatos – acabaria por ditar um percurso ligado aos Recursos Humanos. Mais de três décadas depois mantém a função nesta empresa na área das celuloses localizada em Constância, entretanto enriquecida pelo curso de Contabilidade e Administração.
Quando apareceu a fotografia? Muito cedo. A máquina “daquelas baratuchas” que a acompanhava nos tempos de escola daria lugar a outras, como a Bridge ou a Reflex que comprou depois do nascimentos dos filhos. O gosto transformou-se em interesse e foi na companhia do amigo e fotógrafo José Ribeiro que começou a definir a forma como queria expressar mais de mil palavras de cada vez através de cada imagem captada.

A participação em encontros e workshops ajudou-a a criar “o próprio estilo” associado às fotografias de longa exposição em que se destacam as paisagens e os retratos. As partilhadas com o público presente esta quinta-feira oscilam entre momentos íntimos do quotidiano e a magnificência das infraestruturas urbanas. De mil em mil palavras passámos de aldeias a cidades, de pormenores de rostos a vistas que se perdem na linha do horizonte.
Está tudo lá e depressa esquecemos a menina tímida que era “metida de parte” na primária e nos diz no final da tertúlia que não tem “muito jeito para as palavras”. Na verdade, poucas conseguiriam descrever o Castelo de Almourol numa manhã de nevoeiro como a fotografia que lhe valeu o primeiro prémio do concurso “Imagens do concelho de Vila Nova da Barquinha”, em 2012, e integra o maior álbum fotográfico do mundo “Portugal, o Melhor Destino”, certificado pelo Guinness World Records.
A pergunta de partida ficou para o final e se a paisagem foi descrita como “uma forma de relaxamento e uma terapia natural”, a fotografia, por seu lado, é algo que lhe “dá vida” e é nela que diz espelhar os seus “sentimentos”. Desde o ano em que começou a espelhá-los através da máquina fotográfica, 2008, surgiram prémios nacionais e internacionais, fez trabalhos como freelancer em casamentos, espetáculos ou desfiles de moda, fundou o grupo “Fotógrafos Amadores do Ribatejo”, recebeu convites para capas de livros e CDs e expôs a forma como vê o mundo de forma individual e coletiva.
A tertúlia no CEAC, revelou-nos, levou-a a “fazer uma retrospetiva” do que “fiz e recebi”, concluindo que o percurso enquanto fotógrafa amadora apenas é pequeno no que respeita ao tempo. Para o futuro deixou no ar a vontade de juntar a todos os “desafios” que foi aceitando um possível projeto pessoal intitulado “Atrás de…”. Poucas palavras foram ditas sobre o assunto, desta vez não por timidez, mas por opção. Resta-nos aguardar pelas próximas fotografias de Maria Isabel Clara para descobrir mais.