Figura incontornável da história de Vila Nova da Barquinha, António Luís Roldão é estimado pela sua honestidade intelectual e sensibilidade humana, características que o acompanham na sua missão de perpetuar para as gerações vindouras o passado desta vila ribeirinha. Aos 86 anos, e prestes a lançar uma obra de poesia, este verdadeiro “homem dos sete ofícios” foi homenageado pelo Município com a atribuição do seu nome ao arquivo municipal.

“A todos muito obrigada por estarem presentes nesta cerimónia que me enaltece. Realmente não sei porquê, porque faço as investigações que faço a nível da história e deste concelho, sempre simplisticamente, da minha boa vontade, do meu querer”, começou por dizer António Luís Roldão na cerimónia de homenagem promovida pelo Município de Vila Nova da Barquinha.

No dia em que se assinalaram os 186 anos desde a assinatura pela rainha D. Maria II do decreto que criou o concelho de Vila Nova da Barquinha, o cronista, poeta, músico, jornalista, autarca, associativista e acérrimo investigador da história local viu o seu nome ser atribuído ao Arquivo Municipal.

Arquivo Municipal António Luís Roldão, em Vila Nova da Barquinha. Imagem: mediotejo.net

“Na altura, fazia uns serviços para a Câmara Municipal e no primeiro sótão da Câmara encontrei uma série de livros antigos dispersos, à solta. E, por espírito de curiosidade, comecei a organizá-los, a pô-los em ordem. Mais tarde, já no Centro Cultural atual, também no sótão, havia uma enormidade de livros também dispersos e eu lá estive a organizá-los. Entretanto, a Câmara resolveu definitivamente organizar o arquivo como está aqui”, lembra, admitindo “com toda a franqueza e lealdade” que terá sido o primeiro a interessar-se “verdadeiramente” com a questão do arquivo no concelho.

A ligação à Barquinha, terra que o viu nascer a 19 de novembro de 1934, é inevitável fazer-se sobressair nas suas investigações. É, nas suas palavras, “uma questão íntima”.

“Sempre gostei muito de literatura e de ler. Não fui mais longe porque o dinheiro não dava, então fiquei onde fiquei, mas não parei, não fiquei de braços caídos, continuei a falar com as pessoas, ia atrevidamente aos arquivos”, conta, recordando os dias de investigação no arquivo de Santarém, à procura de documentos que falassem sobre a Barquinha.

“Ninguém me obrigou, ninguém me pagou, era uma vontade muito minha, uma necessidade muito minha, e isso dava-me um prazer extraordinário, dava-me anos de vida fazer esse trabalho”, diz, com o orgulho na voz.

António Luís Roldão, investigador barquinhense, foi homenageado com a atribuição do seu nome ao arquivo municipal. Créditos: mediotejo.net

Agraciado ainda com uma medalha municipal e com um retrato seu elaborado pelo artista Carlos Vicente, o próximo tesouro que António Luís Roldão vai oferecer à comunidade foi desvendado na cerimónia de homenagem, com a leitura de três poemas seus por parte de alunas da Escola Secundária D. Maria II.

ÁUDIO | Alunas da Escola Secundária D. Maria II declamam poemas de António Luís Roldão

Mas se dúvidas houvesse, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, Fernando Freire, tira-as: “Para breve teremos o livro de poesia ‘Ritornelo’, aqui fica a promessa de publicação”.

O autarca não deixou passar o momento de homenagem sem dirigir umas palavras ao homem que resgatou as memórias deste concelho. “Com as suas pesquisas neste arquivo, em Santarém e Lisboa, que lhe queimaram as pestanas e anos de vida, estamos cientes que muita da nossa história local foi feita, e bem-feita! Temos pesquisa de enorme qualidade, reconhecida pelos seus pares”, expôs, admitindo mesmo que muitas memórias “se perdiam se não fosse este homem”.

D. Maria II também “marcou presença” na cerimónia de homenagem a António Luís Roldão. Imagem: mediotejo.net

“Tanto questionamento do património, tanto relato de factos quotidianos, tanta análise dos atos de arte, tanta partilha de vida e de fé, tanta dedicação e entrega a esta terra senhor Roldão!”, acrescentou o edil, destacando ainda o homem “sempre dado a uma bela e culta conversa” e dotado de uma “enorme sensibilidade humana, uma das suas superiores características”.

“Desviando a névoa das coisas, procurando a claridade, somos justos quando sabemos agradecer àqueles que tanto nos dão. Em nome de todos, gratifico, encarecidamente, a sua dedicação. O nosso eterno bem-haja, senhor Roldão”, terminou o presidente do Município de Vila Nova da Barquinha.

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Ana Rita Cristóvão

Abrantina com uma costela maçaense, rumou a Lisboa para se formar em Jornalismo. Foi aí que descobriu a rádio e a magia de contar histórias ao ouvido. Acredita que com mais compreensão, abraços e chocolate o mundo seria um lugar mais feliz.

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