“Que comece a Feira!”, gritou-se. Já passavam das 15h30 quando decorreu a proclamação solene da Carta de Feira, datado de 1285, atribuída à Vila pelo Rei D. Dinis. Mas a azáfama dos preparativos começou cedo na zona mais central e histórica de Vila de Rei. Na Rua Santa Isabel, Largo da Misericórdia e ruas confluentes, espalhava-se feno pela calçada onde durante dois dias foi vivido um regresso ao passado, num reviver do espírito da Idade Média.
O povo aguardava a realeza e por fim chegara El Rey D. Dinis acompanhado da Rainha Isabel de Aragão e sua corte, brindando quem aguardava com um cortejo acompanhado da música de época.
E assim ao início da tarde de sábado passou o cortejo com figurantes trajados a rigor, desempenhando papeis de cortesãos da corte do Rei Lavrador e da Rainha Santa, onde não faltaram os cavaleiros, a cavalo naturalmente, malabaristas em andas e música por entre os vendedores das bancas de produtos de artesanato, flores, velharias e iguarias da doçaria e gastronomia tradicional.




Os visitantes ladearam a Rua Santa Isabel à passagem do cortejo solene, não resistindo às modernas práticas da fotografia e do vídeo, daquele que é um pontos altos deste Mercado Medieval.
A décima segunda edição do evento, organizado pelo Município de Vila de Rei, com o apoio do CLDS 4G, Agrupamento de Escolas e Junta de Freguesia de Vila de Rei, contou com dezenas de comerciantes e mais de uma centena de figurantes, “repetindo o sucesso de um evento que é já um dos principais marcos culturais do Concelho de Vila de Rei”, sublinhou a organização. Ao que o mediotejo.net pode contar, o Mercado disponibilizou cerca de 30 pontos de venda, cujos vendedores também entraram no espírito medieval, vestindo roupas da época, havendo ainda espaço para a exposição de tradições.
De coroas de flores no cabelo, turistas – muitos estrangeiros – e locais subiam e desciam as ruas, engalanadas por bandeiras coloridas e flexíveis ao vento, ouvindo os sons da animação musical que oferecia momentos diferentes no Mercado, onde não faltava uma zona de animais com cabras, porcos, galinhas, patos, ovelhas e póneis, espaço muito apreciado pelas crianças, tal como os diversos jogos tradicionais disponíveis em vários pontos das ruas do Mercado.



Entrava-se num tempo longínquo, no arranque da Feira, com a música dos cavaquinhos da Universidade Sénior a entoar no Largo da Misericórdia e a juntar os visitantes que percorriam o certame. Atrás deles a Igreja da Misericórdia, Capela de São Sebastião.
A Igreja da Misericórdia localiza-se no núcleo urbano mais antigo da sede do concelho de Vila de Rei. É à volta deste lugar de culto que decorre o Mercado Medieval e também que se julga ter desenvolvido o primeiro aglomerado populacional e paróquia da então Portela de São Sebastião.


Na visita ao Mercado Medieval, os forasteiros, e porventura os locais mais devotos, aproveitavam a oportunidade para entrar na Capela. Vale a pena pelas arte no seu interior. O pintor das telas e do teto foi António José Neves Sousa e Mota que nasceu em Coimbra, mas casou e viveu em Vila de Rei.
A Capela até pode ser do tempo de D. Dinis, mas na verdade é desconhecida a data da sua construção, talvez devido ao facto de terem ardido os arquivos da Irmandade da Misericórdia na casa do Provedor por volta do ano de 1916.
Dúvidas à parte, fator reinante e comum foi a boa disposição apesar das carantonhas do céu nublado e do vento fresco que tornava mais suportáveis os longos e pesados vestidos e os trajes de época em tecidos mais grossos do que os adequados a um dia de calor.
O programa do XII Mercado Medieval de Vila de Rei contou, então, com variados momentos de teatro, música, animação e jogos tradicionais, com destaque para a participação da Orquestra Tradicional e Grupo de Cavaquinhos da Universidade Sénior de Vila de Rei, Villa d’el Rei Tuna, Danças de Roda, Gaiteiros d’Óbidos, Grupo de Concertinas da Casa do Benfica de Vila de Rei, malabarismo e andas, marionetes humanas e espetáculo de fogo.
Na tarde de domingo, o recinto do Mercado Medieval recebeu ainda a passagem da procissão após a eucaristia solene em honra da Rainha Sta. Isabel, unindo assim estas duas festividades.
O presidente do Município vilarregense, Ricardo Aires, foi um dos muitos visitantes do evento e destacou que “o Mercado Medieval conseguiu, uma vez mais, proporcionar dois dias de muita animação às largas centenas de visitantes que visitaram Vila de Rei durante o fim-de-semana. Com uma programação variada e de qualidade, o Mercado Medieval de Vila de Rei conseguiu reforçar ainda mais o seu papel enquanto um dos principais pontos da programação cultural do nosso Concelho”.
Crianças e adultos, coletividades e instituições puderam, mais uma vez, viver dois dias singulares, com a representação de usos e costumes e retratar figuras e momentos da Idade Média no reino de Portugal. Reprodução de pedaços da nossa História dotados de animação e cumplicidade com o inevitável comércio à mistura… não estivéssemos numa Feira.