De 1989 a 2013 Irene Barata esteve no poder em Vila de Rei, tendo cumprido o sexto mandato consecutivo. Créditos: mediotejo.net

Maria Irene da Conceição Barata Joaquim tem 77 anos. Durante 24, o povo de Vila de Rei entregou-lhe, pelo voto, a condução dos destinos do concelho. E hoje afirma que gostava de ainda ser presidente de uma Junta de Freguesia. Irene Barata nasceu em Silveira, na freguesia da Fundada, a 14 de outubro de 1943. Em setembro de 1962 casou-se, mudou-se para Lisboa, e teve dois filhos. Tem agora três netos. Desempenhou funções na carreira de conferente especial de valores selados na Casa da Moeda e posteriormente desempenhou funções na carreira administrativa, no quadro do Instituto do Emprego e Formação profissional, onde esteve 23 anos. Antes de se aventurar na vida autárquica conseguiu trazer para a Fundada alguns cursos do CENFIC, designadamente na área da construção civil. No inicio de 1988 foi convidada para dirigir o Centro de Emprego da Sertã. Até que acabou por ser, igualmente, convidada para encabeçar a lista do PSD às eleições autárquicas, em 1989. Aceitou o desafio e, apesar da pouca fé do marido na sua vitória, acabou por ganhar a presidência da Câmara Municipal de Vila de Rei, com uma margem de 70 votos. Conta ter encontrado uma autarquia com dificuldades financeiras, défice de condições dignas para os trabalhadores e necessidades básicas da população por satisfazer. Quinze anos após o 25 de Abril, Vila de Rei permanecia sem qualquer desenvolvimento. Ficou no poder até 2013 tendo cumprido seis mandatos consecutivos. Tem em Sá Carneiro a sua referência política. E foi condecorada pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Ordem do Infante D. Henrique. Atualmente é provedora da Santa Casa da Misericórdia de Vila de Rei, cargo que ocupa há 22 anos e é presidente da Fundação Garcia há 11. O jornal mediotejo.net foi conhecer Irene Barata.

Quem é que a desafiou para a vida autárquica?

Foi um elemento do PSD, já falecido, o senhor José Pires de Melo.

Acha que José Pires de Melo viu em si uma líder?

Não sei. Estava no Centro de Formação Profissional do Seixal, o maior do País, tínhamos cerca de 40 oficinas. Um subdiretor, o eng. Almeida, foi à Suíça ver um processo novo, de formação/produção – porque os estagiários construíam, por exemplo, casas de banho e depois eram desmanchadas… ou seja, era muito material estragado. Trouxe a ideia de aproveitar a mão de obra e o material para obras de cariz social. Pensei que na minha freguesia havia uma escola velha e precisávamos de um posto médico, que seria bom se conseguisse trazer para cá mão de obra, aliás, fizemos o recrutamento de 15 estagiários do concelho, a maioria da freguesia da Fundada e o Centro de Formação veio cá dar a formação. Assim fez-se o posto médico e o clube. Penso que foi essa iniciativa que despertou a atenção do senhor Melo.

Irene Barata é, atualmente, a presidente da Fundação João e Fernanda Garcia, em Vila de Rei. Créditos. mediotejo.net

Era mais relevante, para a vitória eleitoral, alguém que não residia na terra?

Na altura haviam muitas guerras políticas em Vila de Rei. Entre pessoas ligadas ao CDS e ao PSD. Inclusivamente episódios com tiros na rua, saltavam muros de umas casas para as outras… era um pandemónio! Portanto, seria necessário uma pessoa que visse toda a gente com os mesmos olhos e não ligasse às desavenças que tinham ocorrido. Penso que foi a manifestação de amor à terra e não ter a mínima ligação a esses conflitos.

Foi convidada e aceitou sem pensar duas vezes?

Quando o senhor Melo me convidou disse que ia falar com o marido e como o marido pensava que eu não ganhava concordou, porque depois tivemos de dividir a família ao meio; o marido ficou em Lisboa com o filho e eu vim para cá com a filha.

Gostava da política, naquele tempo?

Sim, gostava! Naquela altura a política era muito bonita. Agora parece que já não se acredita em nada.

Bonita, o que quer dizer com isso?

Porque fazíamos tudo com espírito de missão. Foi assim que estive na Câmara. Havia muito respeito uns pelos outros, uma maneira muito sã, muito saudável de ver as coisas. O contacto entre as pessoas era diferente.

Inauguração da ponte sobre o rio Zêzere., durante o mandato de Irene Barata enquanto presidente da Câmara de Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

Recorda uma atitude que ilustre essa diferença?

Sim. Recordo uma que hoje seria impensável. Desde que tomei posse andava a pedir a estrada Vila de Rei/Abrantes. Estávamos realmente muito encravados. Não conseguíamos ir por terra para Ferreira do Zêzere, não tínhamos ponte, nem estradas. E às vezes dizia para o ministro das Obras Públicas, o eng. Ferreira do Amaral: “mesmo que seja feita por fases” e ele respondia “não senhora presidente, não peça por fases, peça a estrada toda”. Então continuávamos a pedir, a fazer contactos, também tive a sorte de encontrar, naquele tempo, muita gente amiga, como o professor Cavaco Silva e todos os ministros. Todos cá vieram e muitos secretários de Estado. Entretanto foi inaugurada a ponte do Cabril, uma das mais altas da Europa. Três dias antes ligaram-me do gabinete do primeiro-ministro e também do gabinete do ministro das Obras Públicas a perguntar se eu ia à inauguração. Achei estranho mas não liguei muito à questão. No final da inauguração dessa ponte, estava o professor Cavaco Silva, o eng. Ferreira do Amaral e muitas outras entidades, entretanto chama-me ao palanque, fiquei surpresa porque não tinha experiência política, e então o primeiro-ministro quis fazer a surpresa de me dizer que estaria a ser lançado o concurso para a estrada Vila de Rei/Abrantes. Fiquei tão feliz que as lágrimas escorreram-me pela cara abaixo. Foi um miminho. Agora já não se faz!

Maior consideração política, incluindo pelos adversários?

Sim. Vinham ministros do PS ou entidades de outros partidos, fosse quem fosse, mostrava no gabinete o discurso, tudo o que ia dizer. Havia um certo cuidado, uma maneira diferente de tratar as coisas. Podia dar muitos exemplos. Os meus 24 anos foram cheios de acontecimentos bons.

Como era Vila de Rei nos anos 1980, em termos sociais, de acessibilidades e outros?

Em Vila de Rei não se notou absolutamente nada o 25 de Abril. Aqui não chegou em termos de desenvolvimento. Vila de Rei não tinha nada. Estava aqui um ‘desertinho’ e estava pensado, combinado com alguém do CDS, que Vila de Rei seria uma freguesia da Sertã. Vila de Rei tem 94 povoações, a vila tinha alcatrão mas as povoações não. As pessoas enterravam-se na lama, não tinham água canalizada, tínhamos cerca de 30 fontes de abastecimento de água, ou eram minas, ou furos artesianos, ou poços para abastecimento de água. Lembro-me de uma visita a uma povoação onde vi que estava a ser abastecida por um charco onde até havia ratos mortos. Era uma miséria completa. Não haviam estradas nem ligações nenhumas a nada, porque as pessoas pensavam que quanto mais ligações se fizesse mais facilmente as pessoas iriam embora, era a mentalidade que existia. Então procurei ligar as povoações o máximo que pude. Hoje pode andar-se por todo o concelho de Vila de Rei sem dar grandes voltas, está todo interligado.

E para ir aos concelhos vizinhos?

Para ir a Ferreira do Zêzere haviam uns estradões florestais que nos levavam até à albufeira de Castelo de Bode. Numa visita do professor Cavaco Silva houve um barco que o levou, e a toda a comitiva, para o outro lado do rio, para o hotel. Portanto, o primeiro-ministro viu o isolamento em que estava Vila de Rei. Quando pensei em trazer a água de Castelo de Bode também ninguém acreditava. Foi outro grande projeto, trazer a água para o ponto mais alto do concelho e depois daí ir, por gravidade, para o resto do concelho.

Visita do então primeiro-ministro Cavaco Silva (ao lado de Irene Barata) a Vila de Rei. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

As pessoas sentiam-se isoladas?

Claro. Durante os meus mandatos de presidente de Câmara promovi que fossem construídos sete lares. Começou porque ao vir para cá, vivendo ao pé dos pais, a minha mãe alertava-me para a situação de haver muitas pessoas que estavam aposentadas e que passavam fome sem necessidade porque pela avançada idade já não tinham disposição para fazer a comida. Tocou-me muito fundo e então pensei em fazer o primeiro lar na Fundada. Comecei do nada. Pedi a uma senhora muito rica, a Luísinha Xavier, se me oferecia uma ruínas de uns antigos currais de cabras para fazer um Centro de Dia. Primeiro tive de constituir a associação e a senhora ofereceu as ruínas. As pessoas ficaram muito entusiasmadas com o Centro de Dia mas achavam pequeno. Tentámos então vender e conseguir um espaço maior e melhor. Falei com o senhor Camilo Dias Cardoso, uma pessoa muito amiga, para comprar um terreno de mais de um hectare na Fundada e ofereceu o terreno. Aí fizemos o Centro de Dia Família Dias Cardoso; o primeiro. Depois surgiu em São João do Peso, o senhor Francisco Brás deu o terreno e cinco mil contos (25 mil euros), e depois Milreu também com o terreno e dinheiro oferecido. A partir daí, com empréstimos bancários. Mais tarde uma pessoa quis construir um lar privado e a Câmara cedeu um terreno na reta à saída de Vila de Rei. Mais tarde a Câmara comprou cerca de 40 hectares à Igreja, à Diocese de Portalegre, ao bispo D. Augusto César, e começámos a fazer projetos, nomeadamente a Casa do Idoso. Também consegui, juntamente com o Partido Socialista, trazer para cá os Cuidados Continuados, recebemos 700 contos a fundo perdido e também com empréstimos do Banco Espírito Santo, porque custou 3 milhões e meio. É das maiores unidades da região Centro, tem 68 camas. Também aumentei o lar da Santa Casa da Misericórdia, não chegava a 30 camas e passou para 60. Por último fizemos o Centro Geriátrico Nossa Senhora da Esperança no caminho para a Amêndoa. Quando cheguei, a Câmara não tinha sequer um metro quadrado de terreno.

Portanto tinha vontade de mudar o rosto à sua terra?

Sim, sim.

E como se produzia riqueza, onde estavam os empregos?

Naquele tempo não haviam incêndios e havia muito pinheiro. Aquilo que hoje é eucalipto no passado era pinheiro. Por cada pinheiro era pago ao agricultor um montante anual – creio que na altura cerca de 4 escudos por cada árvore – e isso dava para as pessoas viverem porque eram muitos pinheiros. Era uma terra de resineiros… até havia uma fábrica em Alferrarede – a Sociedade Central de Resinas. Depois veio o eucalipto e hoje temos de lidar com essa praga.

Deduzo que a aposta no setor social foi a pensar também em trazer gente de outros concelhos?

Claro. Não haviam empregos e os lares trouxeram, além dos utentes, muitos profissionais para trabalhar em Vila de Rei. Além disso, quando cheguei à Câmara Municipal tinha 23 funcionários quando saí tinha 120. Quando cheguei à Santa Casa da Misericórdia, há mais de 20 anos, tinha cerca de 20 funcionários e hoje tem 250.

De 1989 a 2013 Irene Barata esteve no poder em Vila de Rei, tendo cumprido o sexto mandato consecutivo. Créditos: mediotejo.net

É o maior empregador do concelho?

Sim. E a seguir a Câmara Municipal.

Por falar em emprego, o que pensa da era digital?

O digital vem acabar com muitos postos de trabalho. Tinha na Casa da Moeda um chefe que era primo direito de Salazar e já nesse tempo dizia que as máquinas iriam abolir postos de trabalho. Cada vez mais vejo que tinha razão. Veja-se as portagens; já não há pessoas nas portagens. Nunca quis aprender a lidar com computadores, e não estou nada arrependida. O avanço na área digital vai levar a muito desemprego, vai ser uma miséria.

Não acredita que vá gerar novos empregos?

Não. É tudo fantasia.

Voltando a 1989, pensava ganhar? Sabia o que a esperava?

Acreditava que ganhava e ganhei por 70 votos. Nunca pensei na parte negativa, vi sempre a parte positiva que era ir em frente e fazer coisas. Em 24 anos não me lembro, e as atas podem comprovar, de um projeto meu ser reprovado numa sessão de Câmara. É obra! Tal como nunca deixei de receber bem quem era contra, nunca liguei a isso. Queria era desenvolver o concelho!

O Município de Vila de Rei foi pioneiro em Portugal nos apoios financeiros à natalidade, no mandato de Irene Barata. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

Feitas as infraestruturas básicas a prioridade passou para a política social. Vila de Rei foi o primeiro concelho do País a dar apoios financeiros ao casamento e ao nascimento.

Criei os apoios à família, os transportes gratuitos, a creche gratuita … tudo o que está hoje implementado foi criado durante os meus mandatos.

Deixou na memória dos portugueses o episódio de acolhimento de famílias brasileiras, com o objetivo de combater a desertificação demográfica. Mas se em 1940 o concelho tinha quase 9 mil habitantes, no ano 2000 eram 3600 e hoje tem 3276. Essas medidas acabaram por ter efeito prático?

Não era a solução, mas um apoio para recompensar as pessoas que se fixassem em Vila de Rei. Temos de saber a causa de não resultarem, é o mais importante. E não resultou porque vinham casais jovens, de namorados – claro que na altura não se podia falar nisso mas agora falo porque as pessoas já cá não estão e nem sei para onde foram -, e começaram a ter ciúmes uns dos outros, a haver problemas entre eles e começou o desmantelamento. Um casal que veio com filhos ainda hoje cá está, tem um supermercado e está cá muito bem. Mas eu não desisti, como presidente da Fundação Garcia, aceitei há dois anos ter cá migrantes, num protocolo que fizemos com o Alto Comissariado Para as Migrações. Cheguei a ter 23 migrantes, neste momento já estão todos a trabalhar, à exceção de uma família síria com um agregado de sete pessoas. Devido à religião, não trabalham.

Continua a defender que trazer pessoas de fora pode ajudar a combater o despovoamento?

Sim.

E como comenta o facto do Interior continuar a perder população?

É uma das razões que me faz estar um bocadinho desiludida com a política. O Interior só serve para as eleições. Faz-se muito pouco. Esta ministra da Coesão Territorial conseguiu reduzir as portagens na A23… fará o máximo que pode. Mas deveria haver maior apoio ao nascimento, como fazem os países desenvolvidos. O que queremos desenvolver quando somos a favor da eutanásia, a favor do aborto, não compensamos os nascimentos? A tendência é para acabar! Defendo mais apoio estatal ao nascimento e às famílias numerosas. Só o governo pode resolver a fuga para o Litoral, sem incentivos não vamos lá.

Irene Barata ao lado do bispo de Díli, D. Ximenes Belo, em visita a Vila de Rei. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

Posso deduzir então é que contra a eutanásia e contra a interrupção voluntária da gravidez?

Sou.

É católica?

Sou.

E já que falamos na A23, é a favor da abolição das portagens?

Também sou. Senão nem faz sentido dizer que se quer mais pessoas no Interior. Mesmo as empresas, se tiverem incentivos, claro que vêm porque já temos boas vias de comunicação. Também não se compreende que os combustíveis sejam tão caros, uma maneira encapotada de aumentar os impostos.

O que a fez escolher o PSD? É militante?

Sou militante. Quando estava no Centro de Formação, o tal subdiretor eng. Almeida, com quem me dava muito bem, certo dia sugeriu que me filiasse no PSD, no tempo de Sá Carneiro. Como admirava-o muito… chorei muito quando ele morreu, filiei-me no partido mas nunca andei na política, apenas pagava as quotas e mais nada. Não tinha qualquer experiência política. Mas tive a sorte de ter muita gente amiga quer no PSD e no PS e tenho boas relações com outros partidos. Tenho convicções políticas de social democrata mas defendo que o necessário é fazer o bem e fazer pelo progresso da terra. As diferenças ideológicas não impedem as boas relações. Qualquer pessoa que queira colaborar é bem-vinda.

A revolução de 25 de Abril de 1974 introduziu um processo de democratização que alterou a participação das mulheres na política portuguesa. Foi a primeira mulher eleita presidente de Câmara no distrito de Castelo Branco?

Penso que sim.

E como foi a sua experiência como mulher líder, num pequeno concelho do interior do País?

Fui muito bem aceite por todos. Pensa-se que no Interior os homens são machistas mas isso não aconteceu em Vila de Rei. Fui sempre muito bem recebida e muito mimada. Nunca senti dificuldades em fazer algo por ser mulher.

Irene Barata e Paulo Portas em Vila de Rei. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

Portanto, ser mulher não foi uma desvantagem?

Nem desvantagem nem vantagem. É preciso ter amor àquilo que fazemos e na base estar o amor pelo próximo, gostar de ajudar. A partir daí tudo começa a correr sobre rodas. Nunca senti machismo. Acho que somos nós quem criamos esses mitos. Mesmo na Casa da Moeda nunca mandei, porque ninguém gosta de ser mandado, dizia que era preciso fazer isto ou aquilo e tudo correu bem.

No entanto, atualmente são 308 câmaras municipais e só 32 presididas por mulheres – este ano há novamente eleições autárquicas, veremos como será a contabilidade – mas acha que as mulheres não se interessam por política?

O meu caso foi realmente diferente do normal. Parece-me que as mulheres acomodam-se e os homens avançam, uma coisa proporciona a outra. Os homens aproveitam essa oportunidade que as mulheres lhes dão, ao não tomarem a iniciativa. Os homens estão mais disponíveis que as mulheres. Tive a sorte de os meus filhos já estarem numa fase muito boa. A filha tinha 15 anos e pode vir estudar para Vila de Rei e o filho trabalhava… penso que já estaria casado ou estava para casar. Quando fui eleita pela primeira vez tinha 46 anos.

Era a única mulher no seu executivo?

Não. Além de mim, a vereadora do CDS Luísa Catarino.

Irene Barata é, atualmente, a presidente da Fundação João e Fernanda Garcia, em Vila de Rei, e Provedora da Santa Casa da Misericórdia. Créditos. mediotejo.net

Vila de Rei foi sempre uma terra de direita, mas teve algum adversário político que lhe tirou o sono?

Não.

Recorda algum episódio caricato ou marcante nos meandros da política?

Só recordo coisas boas. Lembro-me que no inicio, num encontro de mulheres sociais democratas, num clube americano em Cascais, estávamos numa sala muito grande e todas à volta para receber o professor Cavaco Silva e eu, que nunca tinha ido àquelas coisas, estava por trás da porta. Às tantas, quando estava a cumprimentar as pessoas, perguntou à Lurdes Pombo, que era deputada por Castelo Branco, se eu não estava lá. Fiquei contente! Posso dizer que o maior ramo de rosas que recebi foi o eng. Mira Amaral que me ofereceu no dia dos meus anos, calhou a vir cá no dia do meu aniversário. Recebi muitas provas de carinho e por isso tenho saudades.

Quem foi o seu grande apoio?

A família. O meu pai, a minha mãe e os filhos. O meu marido aceitou com muito sacrifício, apesar de vir cá todos os fins de semana e se eu ia a Lisboa, almoçava com ele… E os meus dois irmãos, que já faleceram. Um dos meus irmãos, logo no meu primeiro ano de presidente, o jornal de Tomar ‘O Templário’ fez uma entrevista e colocou uma fotografia minha, muito grande na primeira página, o meu irmão que morava na Barquinha, chegou a uma papelaria em Tomar e comprou os jornais todos. Outra pessoa que me apoiou muito foi o bispo de Portalegre D. Augusto César, que agora está em Fátima, e o dr. Francisco Antunes da Silva, deputado na Assembleia da República, que me levava até aos ministros com quem precisava de falar, ou nos Paços Perdidos ou no restaurante da Assembleia da República.

Irene Barata e Pedro Passos Coelho, um dos seus políticos de referência, quando este era primeiro-ministro em visita a Vila de Rei. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

Quem eram as suas referências? Ou o seu político preferido?

Em primeiro lugar Sá Carneiro. A minha referência política. Gostava particularmente da inteligência daquele homem. E depois Cavaco Silva e Passos Coelho.

E com quem tinha melhores relações? A quem fazia pedidos?

Cada um em seu tempo…. mas a Cavaco Silva. Uma vez em Oleiros, na altura que saiu financiamento para pavilhões desportivos para os concelhos que ainda não tinham, disse-lhe que Vila de Rei ainda não tinha pavilhão desportivo e chamou um secretário de Estado para resolver o problema e tivemos o pavilhão desportivo.

Alguma vez lhe foi negada alguma coisa?

Não.

E tinha facilidade para fazer pedidos aos ministros?

Tinha. Não era para mim, não ia beneficiar nada com isso. Pedia sem qualquer problema.

Irene Barata ao lado do então Presidente da República, Jorge Sampaio. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

Considera que atualmente é mais fácil ou mais difícil ser autarca?

Não sei. É totalmente diferente. Hoje já não me agradava muito… voltava a candidatar-me se houvesse um concelho, pequeno, e se não tivesse nada como não tinha Vila de Rei quando cá cheguei. Queria fazer obra, mudar as coisas. Isso ainda era capaz. Ou ser presidente de Junta de Freguesia. Gostava!

Acha que nas freguesias ainda há muito por fazer?

Sim. Não só o que têm por fazer mas as pessoas precisam, especialmente as mais idosas, de ter alguém a quem se dirigir para muitos aspetos da vida. Não é só para fazer obra, mas também resolver outros problemas. As pessoas precisam de ter alguém em quem se apoiar. O presidente da Junta de Freguesia deve estar muito perto das pessoas e não está!

Portanto, não sentiria como uma “despromoção política” uma vez que já foi presidente de Câmara?

Não, de maneira nenhuma! Não há descida nem subida. É gostar de fazer as coisas, de ajudar o próximo. A “promoção” está naquilo que fizermos pelos outros, não está noutra coisa.

Irene Barata ao lado de Pedro Santana Lopes. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

E nesses 24 anos à frente da Câmara Municipal de Vila de Rei, o que foi mais difícil para si? O processo em tribunal por alegados benefícios ilegais atribuídos a instituições sociais do concelho, processo no qual acabou absolvida?

Não. Sinceramente já nem me lembro muito bem. Mas metia politiquice, um senhor que queria ser candidato à Câmara e entretanto colocou 23 processos em tribunal contra mim, não ganhou nenhum. Num deles acusavam-me de ter comprado, quando era presidente do lar da Fundada, um maço de panos da loiça, que era um exagero, e no caso serviam para tapar os cestinhos do apoio domiciliário… eram vendidos ao pacote. É caricato! A questão não me tirou o sono, porque não tinha feito nada de ilegal.

Portanto, nada lhe tirou o sono?

As únicas duas noites que passei sem dormir foi a propósito da construção da estrada para Ferreira do Zêzere, com o apoio do Exército. Fernando Nogueira era ministro da Defesa, veio cá inaugurar a estrada, com os militares, o Chefe do Estado Maior e era tudo muito a rigor, com muita disciplina, foi servido um lanche no cabeço, ao pé da estrada, e as cerimónias era apoiadas pela Câmara, mas a maior parte da responsabilidade do Exército. Foi a única vez que tive receio que alguma coisa não corresse bem.

E o melhor dia? Aquele em que recebeu a Chave de Ouro do Município de Vila de Rei?

Não. O melhor dia foi o da notícia para abertura do concurso para a estrada Vila de Rei/ Abrantes. Era muito importante.

É essa a obra que mais a orgulha?

Não. Tenho outras. Além dessa o fornecimento de água a Vila de Rei, o edifício dos Paços do Concelho, a Biblioteca Municipal e a Unidade de Cuidados Continuados.

Irene Barata e Miguel Relvas no dia da inauguração do Museu da Geodesia em Vila de Rei. Foto publicada no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

Após a vida autárquica (que abandonou em 2013) continua a ter uma vida atarefada. Sente necessidade de continuar envolvida na solidariedade social?

Sim. É o que mais gosto de fazer.

Tem ainda alguns projetos em mente?

Tenho. Estou a tratar da Casa Abrigo para as vítimas da violência doméstica, para 20 mulheres. Já está aprovado pelo governo, estamos a acabar as obras no edifício, o último na reta na estrada para a Sertã, onde se lê Fundação Garcia. Para entrar em funcionamento ainda este ano. Em outubro terá as pessoas lá dentro. Sempre fui a favor da inclusão. Na Fundação Garcia temos 30 deficientes em Lar e 25 em Centro de Atividades Ocupacionais. Graças à instituidora da Fundação, Fernanda Garcia, agora viúva com 84 anos. Nunca houve uma pessoa que doasse tanto ao concelho, doou um milhão e duzentos mil euros para criar a Fundação.

Um dos passatempos favoritos de Irene Barata é a jardinagem. Gosta de estar entre as flores. Créditos: mediotejo.net

E tem passatempos? O que gosta de fazer?

De flores. Gosto de jardinagem embora não calhe muito bem, a mim não me pega nada, mas gosto de flores.

E tem prato preferido? É um bom garfo?

Não sou. Como porque preciso viver, mas não tenho nenhum prato preferido.

Nem mesmo os maranhos?

Também não. Gosto de queijo, mel e pão de milho. isso é comigo!

O que é que ainda quer fazer?

Não sei, até porque não sei que saúde vou ter. Para já estou focada na Casa Abrigo. Depois logo se vê. Embora exista a Casa Xavier na Fundada, muito bonita. Vamos ter de lhe dar uso.

Lançamento da primeira pedra para a construção do novo edifício dos Paços do Concelho, em Vila de Rei, quando Irene Barata era presidente da Câmara. Fotos publicadas no livro ‘Contrastes e Transformações em Vila de Rei’. Créditos: mediotejo.net

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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10 Comentários

    1. Boa tarde. pelo que percebi ia enviar informação que sustentava o que dizia. não entendi que fosse como comentário à entrevista mas como mensagem à direção do jornal. se quiser comentar, claro que é livre de o fazer, num país democrático. Faça favor

      1. Pela acomodação e, diversidades de assuntos, pensei em não enviar aquilo
        que informei, deixando para mais tarde, uma ou outra resposta, se assim
        o entender.

  1. Desejo ainda esclarecer que, o Posto Médico na Fundada, já funcionava há muitos anos,
    na Escola vaga, por adaptação da Junta de Freguesia, quando foi construído um Novo
    Edificio Escolar na Fundada, tendo o Snr. Doutor Mateus Tavares Xavier, oferecido os apetrechos que usava, para o seu funcionamento, no qual já prestava consultas, um dia
    por semana, o falecido Doutor Ponces de Carvalho que, exercia como Sub-Delegado de
    Saúde em Vila de Rei, esclarecendo assim que, não foram os trabalhos que promoveu…,
    a Senhora Irene Barata, para a sua existência, em favor dos habitantes da freguesia de
    Fundada que, continuam beneficiados com tal funcionamento.

  2. Sinto ainda confirmar que, a VIA RÁPIDA – entre Sertã e Abrantes, já existia quando
    terminei o meu Mandato, em 31 Dezembro de 1989, assim como a Estrada asfaltada que
    liga Vila de Rei, até à Albufeira do Castelo do Bode, quando para a Ponte sobre o Zêzere, já havia VERBA COMUNITÁRIA atribuída e, também já existia o Projeto de implementação para
    cedência do terreno, do NOVO Edificio do Municipio e, sua urbanização, que o rodeia.
    Outras obras em Estradas Municipais, foram executadas, como seja Fundada a Palhais,
    bem como de Fundada a Seada, assim como da E.N.2 por Lavadouro – Aivado até Seada,
    alem de outras que, desmentem a Senhora Irene Barata ao dizer que NADA existia…

  3. No ano de 1989, pretendi melhorar as minhas instalações comerciais, em terreno que comprei
    apresentando projecto de viabilidade, recebendo como resposta da Senhora Autarca, uma
    “negação” informando que, o local estava classificado como Zona Verde.
    Consultando a Empresa Organizadora do P.D:M. obtive informação contrária e, voltei a
    insistir, obtendo a mesma negativa. – Depois de muitas insistências e, dispêndios cheguei
    à comclusão de uma vingança, da mais vizinha dos meus aposentos, a quem como Autarca fiz grande FAVOR… mas porque, para os da sua Familia tolerou outras construções, em piores situações que, a levaram a autorizar o meu projeto que, avançou e, existe como uma obra muito necessária, agora como único em Toda a freguesia de Fundada, a abastecer os
    dedicados consumidores.

    Toda a freguesia de Fundada e arredores,

  4. .Aos 22 anos, aceitei o convite para fazer parte da Junta de Freguesia de Fundada, inicialmente como Secretário, assumindo como presidente, pela morte do seu Presidente,
    em exercício, exercendo dedicação pela mesma, durante mais de 19 anos e, ainda por convite do então Presidente da Assembleia Municipal de Vila de Rei, para terminar com as guerrilhas que, na verdade ENTÃO existiam… em Vila de Rei, assumi como Autarca no ano de 1971, onde permaneci pouco mais de TRÈS anos, por ter surgido o 25 de Abril de 1974 que, deu por terminados TODOS os mandatos de autarcas, não confirmados,
    Não havia, qualquer compensação monetária, para os cargos exercidos, nem transporte
    para as deslocações à Câmara, pela única e VELHA estrada que então existia e, apenas nos últimos meses do mandato, fui compensado com 500$OO por especial deferência do Prof. Marcelo Caetano, então Ministro da Presidência.
    As guerrilhas de que fala a Senhora Irene Barata, acabaram e, já não existiam nos mandatos que, a antecederam, mostrando-se os seus Munícipes satisfeitos, pela mudança
    verificada, ao dar-se inicio aos desenvolvimentos necessários, como seja: – a Eletrificação que, ainda funcionava na SEDE do concelho, pela velha Central Elétrica e, os candeeiros das
    ruas, funcionavam a petróleo… e, se estendeu em seguida às sede de freguesia de Fundada e, S,João do Peso, para continuar para TODAS as povoações do concelho e, quantas dificuldades existiram, para o estabelecimento do RAMAL de alta tensão, para o corte de pinheiros que, os proprietários teimavam em não ceder gratuitamente, quando ainda os habitantes, tinham de contribuir com ajudas, para conseguir a sua povoação eletrificada.

  5. Quanto aos abastecimentos de água, ao concelho de Vila de Rei, desde longa data que,
    funcionam por elevação de central de captação, na Albufeira de Castelo do Bode, em distribuição por TODO o concelho, com eliminação à medida das comparticipações que,
    foi havendo para eliminação das minas existentes e, se algumas foram executadas no seu
    vasto período de autarca, não tem que dizer a Senhora Irene Barata que, NADA existia.
    porque na sede do concelho, na freguesia de Fundada, assim como em S.João do Peso
    e, ainda algumas das principais povoações, existiam já Águas ao domicilio, fontenários, existência de saneamentos que, terminaram com as Fontes de Mergulho, ou abastecimento
    em poços de furos artesianos, muito antes de chegar ao lugar de Autarca, melhoramentos
    que, negam a sua pretensão em dizer que, repito – NADA EXISTIA,

  6. A vaidade que, a Senhora Dona Irene Barata demonstra nas suas vastas interpretações,
    são o penhor da sua elevação, em relação a TODOS os autarcas que, lhe foram precedentes,
    no sentido de os amesquinhar como, NADA terem feito, nos escassos períodos que, lhes
    foi concedido, apresentando-se como muito feliz, porque EU SOU TUDO e, outros NADA
    de, NADA fizeram, estando muito contente com a grande compensação auferida, na sua
    aposentação. – Que seja muito FELIZ e, possa continuar a ajudar quem precisa.

  7. Adianto ainda que, a Senhora D. Irene Barata, informou na sua entrevista que, havia
    criado SETE LARES DE IDOSOS no concelho, quando o Lar na freguesia de Fundada.
    pu seja : -o Centro Dia Dias Cardoso, já existia em 1989 a funcionar há alguns anos,
    porquqnto, um meu Familiar que, esteve internado no referido Lar durante algum tempo,
    Faleceu no mesmo LAr, no referido ano de 1989. quando ainda ELA, ainda não era autarca.
    Aproveito para retificar, a data constante do Terceiro comentario em que, o descrito
    aconteceu em 1996 e, não no ano de 1989 , pedindo desculpa pelo lapso havido.

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