No âmbito da discussão pública da ‘Rede de Referenciação Hospitalar em Obstetrícia, Ginecologia e Neonatologia’, a Câmara Municipal de Vila de Rei foi informada que, nas áreas referidas, a proposta, em consulta pública, não integra, na área de abrangência do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) o concelho de Vila de Rei, assim como os de Ourém, Gavião e Ponte de Sor.
Face à análise da proposta de Rede de Referenciação Hospitalar sobre a Saúde da Mulher nas áreas de Obstetrícia, Ginecologia e Neonatologia, a Câmara de Vila de Rei já se pronunciou sobre a proposta que retira o concelho da área de abrangência do Centro Hospitalar do Médio Tejo nas referidas áreas.
Em resposta ao conselho de administração do CHMT, o executivo municipal manifestou “descontentamento, insatisfação”, mas, particularmente “preocupação” sobre o exposto na proposta.
Atendendo que o Concelho de Vila de Rei, situado na região centro de Portugal, se encontra a 25 km de distância do Hospital de Abrantes (Entidade de Saúde pertencente ao Centro Hospitalar Médio Tejo) e a 90 km de distância da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, o executivo entende que “a proposta apresentada coloca em risco a Saúde da Mulher e do recém-nascido pela deslocação que terá de realizar para receber os cuidados de saúde que necessita de acordo com a sua situação clínica”.
Recorda-se que no âmbito dos cuidados hospitalares, no que toca a utentes de Vila de Rei, recorreram aos serviços de urgência do CHMT, em 2021, 72 grávidas e 118 crianças. Em 2022, 90 grávidas e 200 crianças. Em relação a partos ocorreram 24 de mulheres de Vila de Rei, em 2021, e no ano seguinte foram 19 os partos de mulheres daquele concelho.
Argumenta ainda o executivo municipal que “uma família que tenha desejo de se fixar em meio rural analisando as condições oferecidas para o acompanhamento de saúde do seu agregado familiar, observando a extensa distância a percorrer para usufruir de cuidados de saúde, em nada contribuirá para que a mesma decida fixar-se no interior do país”.
Consciente “do número reduzido de médicos especialistas nas áreas versadas” no documento e, “os diversos constrangimentos que causaram no ano transato e presente ano”, defende que “a saúde da mulher e do recém-nascido não deve ser colocada em risco”.
Recorda a proposta de Resolução para a Referenciação Hospitalar dos Utentes do Concelho de Vila de Rei, datada de 4 de setembro de 2013, “focando-se uma vez mais a proximidade do Concelho de Vila de Rei com os Hospitais do Centro Hospitalar do Médio Tejo, os munícipes vilarregenses teriam acesso à consulta hospitalar e serviços de urgência neste CHMT à exceção de casos de especialidade de referenciação inexistente no CHMT em que seriam referenciados para a ARS Centro IP”.
Solicita por isso que “a Rede de Referenciação Hospitalar para cuidados de saúde das mulheres e dos recém-nascidos vilarregenses continue a ser prestado no CHMT como tem vindo a suceder”.
O presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei, Ricardo Aires (PSD), aguarda que tal propósito “seja revertido”, disse aos jornalistas à margem da reunião de executivo, que decorreu esta sexta-feira, 3 de março.

Ainda sem data agendada para uma reunião com o ministro da Saúde, Ricardo Aires recorda que na última vez que falou com Manuel Pizarro “sentiu-se confortado” com as palavras do governante, esperando que “seja só um estudo feito em Lisboa”.
No caso da decisão ser tomada e definitiva, o autarca acredita que “a população de Vila de Rei não vai ficar quieta”, disse, tendo afirmado esperar que “tenha sido um mau procedimento interno dentro da saúde” e sugerindo que os decisores “em gabinetes” desconhecem o território.
Da parte da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, o conselho intermunicipal da CIMT analisou a proposta da Rede de Referenciação Hospitalar em Obstetrícia, Ginecologia e Neonatologia e deliberou “corroborar a posição do município de Vila de Rei”, considerando “fundamental que neste processo, por uma maior facilidade rodoviária, os utentes possam ter acesso às unidades do Centro Hospitalar do Médio Tejo”.
O conselho intermunicipal reafirmou que “o acesso à consulta hospitalar e serviços de urgência para os utentes passa a efetuar-se no CHMT, a referenciação ser efetuada para a unidade local de saúde de Castelo Branco e, nos casos em que a especialidade de referenciação seja inexistente no CHMT, o utente seguir a referenciação da ARS Centro”.
Ainda na área da saúde o presidente deu conta de um possível “problema a curto prazo” no concelho, no que diz respeito a médicos de família. O problema é transversal a todo o país mas no caso de Vila de Rei “são dois médicos à beira da reforma e espero que seja colmatada essa situação. É muito mau para o sistema nacional de saúde se não tivermos médicos de família e quem fica prejudicado são os nossos idosos, as pessoas mais vulneráveis e isso o nosso governo tem de pensar”, considera.
Ricardo Aires lembrou que o atual executivo PS governa “há sete anos e devia ter feito planeamento” e não aceita o argumento do Governo que indica a falta de especialistas.
Para o presidente de Vila de Rei “há” médicos e “tem de haver planeamento e definir prioridades […] se calhar por causa desse erro todos nós portugueses vamos pagar muito mais aos médicos para continuarem“ no Serviço Nacional de Saúde, defendeu, acrescentando que, se os médicos tivessem melhores salários, “se calhar não tinham saído de Portugal”.
Considera que o Partido Socialista “não deveria ter ouvido o Partido Comunista nem o Bloco de Esquerda” relativamente aos privados que, segundo disse, para esses dois partidos, “são o diabo, mas não. Temos de conciliar as coisas e o social”.
Questionado se defende as parcerias público-privadas, Ricardo Aires respondeu que “defende o melhor para as pessoas. Se for preciso parcerias público-privadas, que sejam!”