Casa Xavier na Fundada. Foto: CM Vila de Rei

Em 2019, o Município de Vila de Rei doou à Fundação João e Fernanda Garcia a Casa Xavier, para implantação de projeto social. Este imóvel cultural de interesse municipal serviria assim para criação de um equipamento para acolhimento de migrantes. Contudo, passados quatro anos o conselho de administração da Fundação Garcia reconhece que “nas condições socioeconómicas atuais é manifestamente impossível à Fundação iniciar um novo projeto de apoio social” e por isso entendeu ser “mais benéfico para a comunidade consolidar e melhorar as valências sociais existentes nesta altura, em vez de se lançar num projeto megalómano, sem financiamento, que poderia por em causa a própria existência da Fundação”.

Estava na base o cumprimento de um protocolo que tinha como ónus a garantia do uso para fins sociais, e em caso de incumprimentos, o imóvel reverter para a autarquia novamente. Na última reunião de Câmara, essa reversão foi aprovada por unanimidade.

Na época o presidente da Câmara de Vila de Rei, Ricardo Aires, considerou a doação uma boa solução para um edifício que se encontra fechado há largos anos e sem possibilidade de requalificação do mesmo pelo município, que pretendia dar-lhe uso para fins turísticos, por impedimento de candidatura a fundos comunitários neste âmbito.

Agora Ricardo Aires explica que a Fundação Garcia “vai abrir a Casa de Abrigo e não têm capacidade financeira” para avançar com mais um projeto social. O autarca refere que no distrito de Castelo Banco existe uma única valência semelhante àquela que vai surgir na Casa de Abrigo, que deverá abrir brevemente, e na região do Médio Tejo existirão duas. Destina-se a abrigar crianças órfãs, vítimas de violência doméstica e mães solteiras sem apoio familiar.

Com a reversão a Câmara Municipal irá “verificar as obras” que a Fundação levou a cabo no edifício, falando Ricardo Aires em “pequenas reparações”, e depois de analisar a questão o executivo decidirá o que fazer com a Casa Xavier que poderá passar por habitação com rendas apoiadas, arrendamento temporário ou por um projeto turístico através do programa Revive, ou mesmo colocar o edifício em hasta pública para venda a privados. Aliás, a Câmara Municipal “tem um projeto para aquela casa, tipo alojamento local” mas sem dinheiro uma vez que segundo o presidente “o financiamento que existe atualmente para turismo” destina-se “a privados”.

No entanto, o presidente deixa claro não ser intenção do Município deixar “aquele património” ao abandono, até pela sua história, tornando-se num imóvel devoluto.

ÁUDIO: PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE VILA DE REI, RICARDO AIRES

Esta é uma casa que cruza a história da família Xavier, em particular D. Mateus de Oliveira Xavier, Patriarca das Índias, e do irmão Monsenhor Sebastião de Oliveira Xavier, que ali deixaram todo o legado.

A casa da família Xavier, na localidade da Silveira – freguesia da Fundada e concelho de Vila de Rei – é uma casa rural de uma família de proprietários também rurais, que iniciou construção em meados de setecentos. Contém um anexo e um espaço onde se faria o arrumo de alfaias, bem como um terreno de cultivo contíguo.

Segundo informação da autarquia, chegaram a habitar aquela casa, no início do século XX, mais de uma dezena de pessoas, altura em que sofreu obras de ampliação. O edifício foi também dinamizado a partir dos anos 20 pela atividade médica do Dr. Mateus Tavares Xavier.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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