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O anúncio da chegada da vacina contra a infecção pelo COVID 19 foi uma explosão de alegria. A ciência tinha produzido uma vacina, o caminho estava aberto para vencer um maldito vírus que nos rouba o convívio, os afectos, que nos isola e tem um efeito devastador na vida de milhões de pessoas causando doença, desemprego e pobreza.

A vacina foi comemorada com entusiasmo, mesmo sabendo que alguns problemas haviam de surgir devido ao monopólio da indústria farmacêutica, mesmo sendo a vacina paga com dinheiro público.

Foi feito o Plano de Vacinação. Foram determinadas as prioridades. Houve alguma divergência, mas depressa foi sanada corrigindo-se o Plano. Começou a vacinação e foi com emoção que assistimos à vacinação dos profissionais de saúde, eles e elas, emocionados, com os olhos molhados quando afirmavam o grande significado desta vacinação. Era um suplemento de força para a sua tarefa gigante de salvar vidas.

Foi bonito ver essas imagens, assim como as de idosos e idosas que vivem em instituições, acompanhadas por aqueles e aquelas que as acompanham no dia-a-dia. Protegiam-se os mais vulneráveis e protegia-se quem cuida deles.

A vacina e o processo de vacinação são do mais importante que há nos tempos difíceis que vivemos. Surgiu uma tentativa de polémica sobre a vacinação de detentores de cargos políticos. Digo tentativa porque penso que o país percebeu que existem pessoas que devido aos cargos que ocupam devem ser vacinados – presidente da república, presidente da assembleia da república, primeiro-ministro, ministra da saúde e pouco mais. Todos os outros e outras devem aguardar a sua vez. Por isso são intoleráveis as notícias que nos chegam de quem abusou do seu pequeno poder e se incluiu a si e sua família e amigos na lista de prioridades para ser vacinado.

É intolerável, como intoleráveis sãos as desculpas e justificações apresentadas. Um titular de um cargo público e de um cargo político deve pautar o seu comportamento por valores éticos de serviço público e não de servir-se da coisa pública. E um valor ético básico é “não passar à frente de ninguém”.

Que valor têm dirigentes de instituições ou autarcas que na primeira oportunidade se colocam à frente de outros? É nestas pessoas que confiamos para sair das dificuldades e para nos dirigir nas crises?

Estas situações (que se encontram em investigação) não podem ser varridas para debaixo do tapete ou simplesmente cair no esquecimento. Está em causa o valor CONFIANÇA, fundamental para qualquer sociedade. Por isso espero que se retirem consequências. A começar por aqueles que foram eleitos e se ainda tiverem um fio de dignidade devem colocar o seu lugar à disposição – sim, falo dos e das autarcas.

Helena Pinto

Helena Pinto, vive na Meia Via, concelho de Torres Novas. Nasceu em 1959 e é Animadora Social. Foi deputada à Assembleia da República, pelo Bloco de Esquerda, de 2005 a 2015. Foi vereadora na Câmara de Torres Novas entre 2013 e 2021. Integrou a Comissão Independente para a Descentralização (2018-2019) criada pela Lei 58/2018 e nomeada pelo Presidente da Assembleia da República. Fundadora e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação Feministas em Movimento.
Escreve no mediotejo.net às quartas-feiras.

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