Comissão de Utentes da Saúde assinalou a 18 de março 20 anos de luta no Médio Tejo. Foto arquivo: mediotejo.net

A Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT) reivindicou hoje a “manutenção da maternidade em Abrantes” e “em funcionamento sete dias por semana, 24 horas por dia”, tendo afirmado que o anúncio de eventuais encerramentos gerou “ansiedade coletiva”.

Em declarações aos jornalistas à entrada do hospital de Abrantes, o porta-voz da CUSMT reivindicou do Governo, entre outras medidas, mais recursos humanos e a recuperação de consultas e cirurgias em atraso, tendo criticado o “estado de ansiedade coletiva” que gerou o anúncio do possível encerramento de algumas maternidades no país, exigindo a manutenção da maternidade em Abrantes, que serve a região do Médio Tejo e municípios envolventes.

O Expresso ‘online’ divulgou na terça-feira que a Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Partos propôs ao Governo o fecho do atendimento SOS em dois hospitais da Grande Lisboa e dois na área geográfica da administração regional de saúde do Centro: as urgências obstétricas de Vila Franca de Xira, Barreiro, Covilhã e Castelo Branco.

“Iniciou-se um processo de reformulação de urgências de obstetrícia, lançaram-se parcelas dessas possíveis tomadas de decisão, e agora diz-se que só para o ano é que se vão tomar decisões, o que dá a entender que andam a experimentar e a ver o que podem fazer e onde podem fazer”, disse Manuel Soares.

Tendo feito notar que “Abrantes não consta da lista de maternidades indicadas como possíveis de encerrar”, o dirigente afirmou que, “no entanto, nada diz ao certo quais vão encerrar e quais vão trabalhar em complemento”.

“Em termos de coesão territorial, em termos humanos, em termos, inclusive, de saúde, a maternidade de Abrantes, no local onde está situada e tendo em conta a envolvência geográfica, deve trabalhar sete dias por semana, 24 horas por dia. É esta a nossa exigência”, vincou.

ÁUDIO | MANUEL JOSÉ SOARES, PORTA-VOZ UTENTES DA SAÚDE MÉDIO TEJO

Na conferência de imprensa, a Comissão de Utentes abordou ainda outras questões, como a necessidade de colocação de mais recursos humanos (médicos, enfermeiros, assistentes técnicos e operacionais) nos centros de saúde e hospitais, de consultórios de dentistas nos centros de saúde e o alargamento de rastreios e prevenção de doenças e episódios agudos de saúde.

“É urgente o reforço dos recursos humanos para valorizar o funcionamento de algumas especialidades, casos da Ortopedia, Cardiologia, Obstetrícia e a Urgência”, afirmou Manuel Soares, reclamando pela “concretização, tão rápido quanto possível, e na sequência de outras em curso, das obras na urgência do hospital [de Abrantes], prometidas há uma dezena de anos”.

Salientando que a preocupação da CUSMT é encontrar “caminhos para resolver” as situações que dificultam o acesso das populações a cuidados de saúde “de qualidade e proximidade”, o porta-voz da CUSMT defendeu e necessidade de uma análise “fina” à dificuldade na contratação de recursos humanos, “não se ficando pelo argumento salarial, mas percebendo se não existem outros fatores, como as condições de trabalho ou as distâncias em relação às famílias”, que pesam na ausência de candidatos aos concursos.

Por outro lado, a CUSMT defende uma “abordagem alargada ao conceito de saúde pública” que considere outros fatores “a montante” que interferem com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), tendo afirmado que “muitos desses problemas podem ser resolvidos com campanhas eficientes, ao nível do combate ao tabagismo, diabetes, obesidade, dependências e sinistralidade rodoviária”.

A CUSMT fez notar que “compete em grande medida aos cuidados de saúde primários/Centros de Saúde a tarefa de garantir cuidados de saúde de proximidade e qualidade. Para isso, para além de instalações e equipamentos (transportes, meios de comunicação e informáticos) são necessários recursos humanos (médicos, enfermeiros, assistentes administrativos e operacionais, outros técnicos, como dentistas e assistentes, e nutricionistas)”.

“Abrantes e o Médio Tejo têm falta de todos esses profissionais. No último concurso nacional para médicos de família das 3 vagas atribuídas a Abrantes não foi preenchida nenhuma apesar de 2 dessas vagas serem contempladas com incentivos. Entretanto, no passado dia 29 setembro, foi aberto novo concurso para preencher as vagas não preenchidas. O que se passa com os médicos também se passa infelizmente com enfermeiros, assistentes e outros profissionais. Há que organizar os serviços e procedimentos para garantir cuidados de saúde às populações”, defendeu a comissão de utentes.

Utentes do Médio Tejo exigem maternidade de Abrantes aberta sete dias por semana. Foto: mediotejo.net

A CUSMT tem na sua área de influência o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo, que abrange cerca de 225 mil utentes de 11 municípios (Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha), e o Centro Hospitalar do Médio Tejo, que integra três unidades hospitalares, localizadas em Abrantes, Tomar e Torres Novas.

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

Agência de Notícias de Portugal

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *