Câmara de Tomar concluiu projeto de demolição de 60 barracas no Flecheiro e instalação de 250 pessoas. Foto: mediotejo.net

“Nos últimos 50 anos esta zona marcou pela forma mais negativa a cidade de Tomar, quer no aspeto social, quer no aspeto urbanístico, e este é um momento histórico e um daqueles dias em sentimos que a nossa ação enquanto autarcas realmente muda a vida das pessoas e das populações”, disse na terça-feira , dia 1 de agosto, o vice-presidente do município, Hugo Cristóvão (PS), após a demolição da última barraca na zona do Flecheiro por uma retroescavadora que o próprio, simbolicamente, conduziu e manobrou.

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O plano de reintegração habitacional da comunidade cigana, instalada há décadas num acampamento na zona ribeirinha do Flecheiro, junto ao rio Nabão, numa das principais entradas da cidade de Tomar, foi delineado para ser concluído em oito anos (dois mandatos), tendo o processo de demolição das barracas e de instalação de cerca de 250 pessoas, em casas e bairros sociais, sido concluído, uma década depois, representando o “fechar de um gueto”.

Maria Manuela Pascoal, a última residente do Flecheiro, esteve esta manhã a ver os trabalhos iniciais de demolição e a despedir-se da sua “casinha”, onde viveu nos últimos 50 anos e criou quatro filhos.

“Sinto-me bem, tudo tem um tempo. Vivi aqui mais de 50 anos, não é brincadeira”, afirmou à Lusa, tendo feito notar ter agora uma “casinha melhor, dada pela Câmara”.

Manuela Pascoal viveu mais de 50 anos no Flecheiro, sendo a última residente do local. Foto: mediotejo.net

“Prometeram e fizeram. Estou bem, não posso dizer mais nada”, concluiu Manuela Pascoal, num sentimento misto de alguma nostalgia mas também de satisfação pelos novos tempos.

Também Augusto Barros, presidente da União de Freguesia (UF) de São João Baptista e Santa Maria dos Olivais, não escondeu a sua satisfação e “imensa alegria” por “ver chegar o Dia D” a Tomar.

“É o culminar de muitos anos de trabalho e insistência para que se conseguisse erradicar todas estas barracas na principal entrada da cidade. Hoje é o Dia D”, afirmou.

Augusto Barros, presidente da Junta Urbana, fala no “Dia D” para Tomar e para a principal entrada da cidade. Foto: mediotejo.net

O processo, que “não acaba aqui”, é acompanhado, segundo o município, de um dos mais relevantes projetos de inclusão social das últimas décadas.

“Diria mesmo o mais relevante das últimas cinco décadas, uma vez que o Flecheiro, enquanto acampamento, foi criado no pós-25 de Abril [de 1974] para libertar espaços de construção noutros locais da cidade e de lá para cá nada mais aconteceu a não ser o juntar de outras famílias vindas de outros locais do concelho e fora dele, nomeadamente da Área Metropolitana de Lisboa”, disse o autarca, dando conta de que, à medida que os habitantes do Flecheiro iam sendo realojados, as barracas foram sendo demolidas.

Para Hugo Cristóvão, esta “era uma situação que urgia resolver, não só pela situação humana – cerca de 230 pessoas em 2013 a viver em barracas sem qualquer condição de vida – e também pela necessidade de regeneração urbana daquela zona” da cidade, “primeira zona industrial, entretanto praticamente devoluta e em ruínas”, onde as barracas foram aumentando.

“Eram cerca de 230 pessoas ali instaladas quando, em fins de 2013, após chegarmos à governação municipal, realizámos aquilo a que costumo chamar os censos do Flecheiro, que hoje, entre nascimentos e casamentos, representam cerca de 250 pessoas, todas já reinstaladas”, relatou.

O registo oficial de barracas em 2013 – com “número de polícia” – contabilizava então 55, mas “na verdade eram mais, talvez umas 70”. No caso de alguns agregados, as barracas “desdobravam-se noutras”.

Segundo o vereador, foi delineado um “plano com várias frentes”, entre a recuperação de casas dos dois bairros sociais municipais, a construção, a reabilitação de outros imóveis devolutos propriedade do município e também alguma aquisição”.

Este é um projeto social de um “trabalho contínuo e muito posterior ao realojamento, de integração na restante comunidade, também muito em rede com as demais instituições, com as da educação e da segurança social como base fundamental”, notou Cristovão.

“É um trabalho que queremos continuar para os próximos anos e até ao ponto em que falar de uma qualquer etnia não seja assunto na cidade de Tomar”, acrescentou.

O vereador lembrou que o futuro traçado para aquela zona ribeirinha assenta num projeto de fruição do rio e da natureza, com a construção de um parque urbano que já se iniciou, num investimento de 2.8 ME, e cuja primeira fase perspetivou esteja concluída até final deste ano.

“Como costumo referir, transitaremos do acampamento para os jardins do Flecheiro”, concluiu.

c/LUSA

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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