Admitindo uma “resposta muito positiva” por parte de privados e empresas na angariação de fundos para ajudar a responder às necessidades dos refugiados da guerra da Ucrânia, a presidente da Cruz Vermelha Portuguesa diz ao mediotejo.net que o verbo de ordem é “planear”, pois esta ajuda vai ser necessária “durante muito tempo”, não só na Ucrânia mas também no nosso país. Com a chegada de refugiados a Portugal, a vacinação e o restabelecimento de laços familiares são outras das preocupações da instituição humanitária.
“Precisamos de planear. Precisamos de não pensar que a ajuda é hoje e agora. Esta ajuda vai ser necessária durante muito tempo, porque as pessoas vão chegar, vão ficar, não sabemos quando podem voltar – levará anos – e temos de as ajudar a reencontrar-se a si próprias, a reorganizar a sua vida”, disse Ana Jorge, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.
Questionada pelo nosso jornal sobre como tem sido gerir a instituição e as necessidades de ajuda que todos os dias chegam devido à guerra na Ucrânia, a responsável começa por lembrar que a intervenção nas zonas de conflito é da responsabilidade exclusiva do Comité Internacional da Cruz Vermelha, que, nesta altura, teve de “intensificar a sua intervenção com técnicos diferenciados, e que têm experiência ou formação para estar em zonas de conflito”.
Sob as orientações deste Comité, em Portugal a Cruz Vermelha tem correspondido ao pedido. “O que nos foi pedido e que temos feito – e a resposta tem sido muito positiva – é a angariação de fundos para financiar o Comité”, explica.
Isto mais do que enviar bens propriamente ditos para lá. E Ana Jorge justifica o porquê. “Porque a gestão no local de muitos bens é muito difícil e a Cruz Vermelha lá tem outra missão, não pode estar preocupada em gerir armazéns, tem que estar preocupada em intervir junto das pessoas, nos corredores humanitários, na ajuda às vítimas, no apoio psicossocial”.
Admitindo um “grande movimento nacional”, a presidente da Cruz Vermelha Portugal mostra-se satisfeita com as respostas individuais e de empresas no que respeita a angariação de fundos. “Têm sido inexcedíveis, e todos os dias nos chegam mais apoios”, confessa.
Apoios esses que são transferidos para o Comité Internacional, mas que também vão ser necessários gerir cá porque “já estão a chegar refugiados a Portugal”.
“Já estamos com as nossas delegações locais junto das pessoas que vão chegando. (…) É uma resposta que já temos vindo a programar. E há alguns bens que têm sido doados que vão ser necessários cá, nós vamos necessitar desta ajuda também em Portugal porque as pessoas vêm, muitos deles vêm para famílias, mas vão precisar de ajuda”, sublinha Ana Jorge.
Para isso, importa “ter todos uma mesma voz e uma mesma orientação”, e nesse caminho têm sido realizadas orientações diárias entre a sede da Cruz Vermelha Portuguesa e as delegações distribuídas pelo país.
“Por exemplo, uma das coisas que nos pediram é transporte dos refugiados dos sítios de onde chegam para casas para onde vão. E nós estamos a tentar articular essa disponibilidade de transporte”, exemplifica a responsável da Cruz Vermelha Portuguesa.
ÁUDIO | Presidente da Cruz Vermelha ao mediotejo.net sobre resposta aos refugiados que chegam da Ucrânia
Mas Ana Jorge exalta uma situação à qual é também preciso dar atenção: continuar a dar resposta aos vários refugiados de diversas nacionalidades que já se encontravam no país antes da situação na Ucrânia.
“Nós estamos também com refugiados de outros países que a Cruz Vermelha está a apoiar e não pode desligar desses apoios a esses refugiados. E as famílias portuguesas mais vulneráveis também precisam de ajuda e a Cruz Vermelha tem feito esse trabalho e não pode deixar essas famílias. Temos que organizar ajuda em função da necessidades da pessoas que temos à volta, temos de pensar em todos, de uma forma equitativa e humanitária”, reitera.
Vacinação: Outra das necessidades a ter em conta
Com a chegada de refugiados ao país num período ainda de pandemia, Ana Jorge alerta: “Vamos ter atenção a que vão chegar muitos imigrantes, que a taxa de vacinação na Ucrânia era baixa”.
Admitindo a capacidade de oferecer vacinas a quem chega, a responsável da Cruz Vermelha admite que tal deve ser o caminho a seguir. “Devemos programar quer as vacinas do Covid-19 quer as vacinas do programa nacional de vacinação porque há algumas doenças que na Ucrânia são endémicas e que nós já erradicámos, nomeadamente a poliomielite”, expõe.
“Portanto é preciso ter atenção nos serviços de saúde, verificar bem os boletins de vacinas, principalmente das crianças e jovens que chegam”, diz ainda, concluindo que apesar de esse estar numa “fase boa” relativamente à Covid-19, importa “não estragar, e o vírus circula e vai circular durante muito tempo e só vamos conseguir controlar se tivermos uma taxa muito grande de vacinação”.