Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

A Brigada de Reação Rápida (BRR), localizada no polígono militar de Tancos (freguesia de Praia do Ribatejo), realizou um exercício militar de cooperação bilateral entre Portugal e a Alemanha entre os dias 4 e 12 de outubro. O exercício, que decorreu nos concelhos de Abrantes, Chamusca, Constância, Gavião, Ponte de Sor e Vila Nova da Barquinha, em áreas urbanas e rurais, acarretou um incremento significativo de movimentações militares apeadas ou com recurso a viaturas/aeronaves, tanto durante o dia como de noite.

Logo pela manhã, junto da “torre” – estrutura familiar para as pessoas da zona – no aeródromo militar de Tancos a azáfama é grande. O padrão camuflado impera ao longo da hangar. Quadros com horários apontados com militares fardados a debater à sua frente, paletes de água, mochilas, paraquedas e demais equipamentos encontram-se “espalhados” pelo amplo espaço. Uma grande bandeira alemã e outra portuguesa, ao fundo, completam o cenário. Recorrentemente ouvimos falar num idioma reconhecível, mas que não dominamos: o alemão.

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Este fator, bem como o da presença da bandeira tricolor alemã anteriormente referida, é justificado pela presença de cerca de 150 militares da 1.ª Brigada Alemã Aerotransportada que se deslocou até Portugal para participar no “DEEPINFILL22”, um exercício militar de cooperação bilateral entre Portugal e Alemanha, que decorreu entre 4 e 12 de outubro.

O hangar de base aérea militar de Tancos acolheu vários militares alemães e portugueses. Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

“É de salientar que já é pelo quarto ano consecutivo que estamos a desenvolver este tipo de cooperação com as forças alemãs. Iniciou-se em 2019 e desde então tem sido uma mais-valia não só para nós, como também tem sido um pedido recorrente da parte deles participarem e vir para Portugal para realizarem este exercício”, explica-nos o capitão Costa Neves, que acompanhou a reportagem do nosso jornal.

Ao nível das forças nacionais, estas contaram com representações por parte do Batalhão Operacional Aeroterrestre do Regimento de Paraquedistas e forças de operações especiais integradas nesse mesmo batalhão, bem como militares do agrupamento sanitário, das operações aéreas e do Estado-Maior da Brigada de Reação Rápida (BRR), que responsáveis por prestar todo o apoio logístico e administrativo necessário.

Em termos mais operacionais, ao nível da execução, Portugal empenhou 24 militares ( 20 masculinos e 4 femininos), sendo que a principal preocupação e o nosso principal objetivo é a “execução e criação de saltos de abertura manual, nomeadamente High Altitude-Low Opening e High Altitude- High Opening, por parte dos saltadores operacionais de grande altitude, e também saltos de abertura automática”, explicou-nos o capitão, adiantando que estes foram feitos tanto em ambiente diurno como noturno e tanto num ambiente permissivo como fora deste mesmo.

Um dos M-28 alemães, enquanto militares alemães embarcavam para proceder a mais um salto. Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

O barulho ensurdecedor de aeronaves não se tardou em fazer ouvir, pelo que entre o ruído Costa Neves explicou ao mediotejo.net quem eram os responsáveis pelo mesmo: por parte da Alemanha estiveram operacionais dois M-28, aeronaves que permitem grande rapidez e flexibilidade para a condução de todos os saltos necessários para o exercício e que levam no máximo 14 pessoas.

Já por Portugal participou um C-130, com uma capacidade máxima de 64 pessoas, o qual “vai-nos então permitir fazer um trabalho diferente, conseguimos fazer um ‘mass drop’ muito maior, quer de automático, quer de trabalho de saltos de abertura manual, bem como fazer aqui então uma junção entre as duas forças, com muito maior envergadura”, detalhou o militar português.

O exercício permitiu o treino e aperfeiçoamento de técnicas, táticas e procedimentos de ambas as forças. Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

O aperfeiçoamento de todas as técnicas, táticas e procedimentos, não só das nossas forças nacionais, mas também das forças alemãs presentes no exercício é uma das vantagens trazidas por esta operação conjunta, onde a mistura de forças alemãs e portuguesa representa uma oportunidade de aquisição de novos conhecimentos e procedimentos, afirmou o capitão Costa Neves.

Mader, sargento alemão responsável pelas relações públicas da força, disse ao nosso jornal que para os militares alemães o exercício era “muito importante” por quererem trabalhar juntos com outras nações da NATO (ou OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte), bem como saltarem, falarem e relacionarem-se com outras forças.

“O principal é que os soldados treinem o salto tático e a viagem tática com o paraquedas, poderem saltar com o paraquedas numa situação tática”, disse o sargento alemão, referindo que esta vinda a Portugal é frutífera no sentido em que os soldados assim podem treinar numa área desconhecida, com ventos e com um terreno diferentes do da Alemanha.

Alguns militares saltam não só com o paraquedas tático, como também com armamento – nomeadamente a nova espingarda do exército FN Scar-L – com um sistema de comunicações, um chest rig, carregadores apropriados para o armamento utilizado, e ainda uma mochila preparada para 24h ou 48h. Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

Conforme explicou o oficial, este exercício é essencialmente composto por quatro fases, uma de ações de formação e treino, outra que incide principalmente sobre o planeamento aeroterrestre, outra onde é realizada e conduzida uma operação aerotransportada conjunta entre as duas forças, e uma quarta fase em que se procede a uma análise global. 

O mais “espetacular” deste exercício no entanto, são, obviamente, os saltos dos paraquedistas, os famosos “cogumelos” – que não são novidade para as populações locais em redor da Brigada de Reação Rápida (BRR) mas que ainda fazem parar muitos carros na Nacional 3 para ver este espetáculo aéreo – mas existe muito trabalho envolvido para aquele curto período do salto de paraquedas. Aquando da nossa visita, estava a decorrer um curso de queda-livre operacional, o qual é destinado a praças, sargentos e oficiais, e que contava com cinco instruendos (quatro sargentos e um praça), em que cada um dos instruendos tem associado a si um instrutor designado.

Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

“Esta equipa de instrução apoia e orienta constantemente os alunos. O aluno equipa, entra na aeronave, salta com o respetivo instrutor, fazem todo o trabalho aeroterrestre designado, após a aterragem a principal preocupação é voltar a dobrar o paraquedas, juntar com o seu instrutor, verificar todas as filmagens, o que é que correu mal, o que é que não correu e as devidas correções, voltar a agarrar no paraquedas e novo salto. E fazemos assim então o ritmo diário deste curso”, explica o capitão Costa Neves.

No entanto outros militares, em comparação com os elementos do curso de queda-livre, são militares já inseridos na parte operacional, pelo que sempre que efetuam um salto de paraquedas vão equipados não só com o paraquedas tático, como também com armamento – nomeadamente a nova espingarda do exército FN Scar-L – com comunicações, comunicações por forma a estarem todos os paraquedistas em sintonia não só no ar mas também na aterragem, um chest rig com carregadores apropriados para o armamento utilizado, e ainda uma mochila preparada para 24h ou 48h, dependendo da missão que estejam a desempenhar, conforme nos elucidou o capitão Costa Neves enquanto dois militares se equipavam para o salto.

Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

Ao observarmos alguns saltos de paraquedas, desde a largada dos militares até estes chegarem ao solo, somos avisados: primeiro, antes dos instruendos, vão chegar os instrutores, direitos ao círculo de aterragem. Só passado um pouco irão chegar os instruendos e dificilmente irão acertar no sítio. Bem dito e bem feito, assim foi, ficando mais uma vez comprovado o valor da experiência.

O capitão Costa Neves considera que esta presença alemão é de “todo vantajosa”, tendo desde logo em conta que são forças da mesma tipologia e que realizam o mesmo tipo de ação ou operações. Para o militar a interoperabilidade entre os diversos comandos da força e a identificação de lições e a sua consequente colocação em prática assume importância para que “num próximo exercício do Exército, a nível mais nacional, consigamos aumentar o nosso rendimento e a nossa produtividade através de aspetos positivos que conseguimos tirar das forças internacionais”.

Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

A realização deste exercício é também “uma altura em que nós conseguimos realmente colocar em prática todas as nossas técnicas, táticas e procedimentos, toda a nossa condução de operações, desde o planeamento até à sua fase de execução, bem como uma pós-análise deste tipo de operações, permitindo-nos assim uma constante evolução daquilo que são as nossas práticas e condução de operações”.

Este treino e aperfeiçoamento de técnicas adquire ainda outra relevância tendo em conta os dois batalhões de infantaria paraquedista que estão permanentemente em teatros de operações – como acontece atualmente na República Centro Africana – pelo que estas forças também têm assim de ter um treino e uma condução inerente a essa mesma missão.

“Nós fazemos uma parte operacional mais aeroterrestre, no entanto, fundamental para que depois possamos integrar os nossos militares no seio destes batalhões de infantaria paraquedista, precisamente porque têm um treino mais específico e têm então células destinadas à sua integração no seio destes batalhões, como são exemplo a companhia de precursores que têm toda uma parte e vertente operacional diferente dos batalhões de paraquedistas e portanto levam sempre mais conhecimento e novas ferramentas para serem aplicadas nesses teatros de operações”, explicou o oficial português.

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Rafael Ascensão

Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo. Natural de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, mas com raízes e ligações beirãs, adora a escrita e o jornalismo.

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