Fabrioleo, Carreiro da Areia, Torres Novas. Créditos: mediotejo.net

O processo de remoção dos depósitos verticais da antiga empresa Fabrioleo, em Carreiro da Areia, Torres Novas, deverá estar concluído durante os próximos dias. Depois de terem sido vendidos em dezembro de 2022, os treze depósitos de aço inox, que armazenavam águas contaminadas, foram esvaziados e estão a ser retirados do local. A ação, que decorre há cerca de duas semanas, está sob a responsabilidade do administrador de insolvência, estando o processo a ser acompanhado pela Câmara Municipal de Torres Novas (CMTN) e pela APA (Agência Portuguesa do Ambiente).

“Encontra-se a decorrer a remoção dos depósitos que estavam na parte superior da fábrica. Estamos a falar de aproximadamente 2 mil metros cúbicos de matéria perigosa. No decorrer do último ano, associados a furtos que foram ocorrendo, verificaram-se derrames para a via pública e para a linha de água. O Município foi acompanhando esse processo, juntamente com o novo administrador da insolvência, até que conseguimos que se colocasse segurança no local para garantir que não houvessem mais furtos que levassem ao derrame”, explicou João Trindade, vereador do Ambiente da CMTN ao mediotejo.net, adiantando que “a pressão” obrigou a agilizar o processo de venda dos depósitos.

“Passou a haver uma despesa mensal por parte do administrador de insolvência e isso fez acelerar o processo de venda dos depósitos e da massa insolvente. Esvaziaram os depósitos e agora estão a finalizar o processo de remoção. É menos uma situação perigosa que temos ali.”, notou João Trindade.

A próxima etapa do processo de desmantelamento da antiga fábrica de transformação de óleos vegetais, acusada de vários crimes ambientais por descargas ilegais de efluentes para o rio Almonda e encerrada em 2020 por ordem do Tribunal Central Administrativo Sul, passará, segundo João Trindade, pela resolução do problema da ETAR e das lamas ácidas das duas lagoas que continuam a causar preocupação.

“Esse processo está do lado do Município, ao abrigo de um protocolo da APA com a CMTN. Estamos a falar de um concurso internacional, tendo em conta os valores em causa, que ultrapassam os 700 mil euros. Está neste momento a ser preparado, também juntamente com os técnicos da APA, que têm a informação das análises que foram recolhidas e das quantidades. Está a ser feito um caderno de encargos, que ainda é algo complexo. Assim que esteja preparado, sairá para concurso e permitirá a remoção dos efluentes da ETAR”, referiu o vereador.

“Com esta operação que está a decorrer [remoção dos depósitos] e depois, com a remoção da ETAR e das lagoas, vamos conseguir eliminar o potencial perigoso que ainda ali está e que tem feito escorrer efluentes para o solo e para a linha de água. Isso é o mais importante neste momento”, vinca João Trindade, adiantando que depois de serem esvaziadas, a ETAR e as lagoas serão demolidas.

João Trindade reconhece a “complexidade e morosidade” de todo este processo, que está dividido em quatro fases – todas, encadeadas entre si – e que culminará com a descontaminação do solo e com a renaturalização das linhas de água.

“Já estamos a desenvolver um procedimento, que é um Plano de Gestão Ativo de Linhas de Água, para todo o concelho, em que os primeiros locais a serem privilegiados, vão ser a Ribeira da Boa Água e a Ribeira do Serradinho. Vai permitir caracterizar estas linhas de água e saber tudo o que é necessário para as tornar viáveis ou, pelo menos, para elas voltarem ao estado natural, bem como a sua manutenção subsequente”, revelou o vereador.

“Este projeto vai-nos permitir candidatar a um financiamento da APA, para proceder à limpeza de margens, à plantação de árvores… será o culminar. Depois da remoção dos efluentes, da remoção do material de construção civil que lá está e da descontaminação dos solos, será preciso dar um aspeto diferente ao local. Espero eu, que dê a ideia de que aquilo nunca existiu ali naquele local”, notou João Trindade, salvaguardando, no entanto, que “apesar de tudo, não nos devemos esquecer” do que ali se passou.

“Devemos evitar ao máximo, que situações destas ocorram em Torres Novas, ou em qualquer parte do país. Por isso, também deve de estar sempre na nossa memória esta parte negativa, pelo menos o seu conhecimento, para não voltarmos a repetir erros destes”, frisou.

João Trindade, vereador do Ambiente da CMTN. Créditos: mediotejo.net

O responsável pelo pelouro do Ambiente na CMTN assume que o culminar deste processo “será tarde demais”, mas será sempre “uma vitória”, tendo em conta os “muitos anos de luta pela resolução deste problema, que afetou diretamente a população de Carreiro da Areia”.

ÁUDIO | João Trindade, vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Torres Novas

“Será uma vitória da população do Carreiro da Areia, dos movimentos todos que estiveram envolvidos nesta luta durante vários anos, será uma vitória de toda a população e será também uma vitória deste executivo, que, pelo menos no último ano e meio, que eu tenho acompanhado, tem-se empenhado para que isto aconteça (…) Muitas vezes, as pessoas julgam que não, porque muito do trabalho feito não é visível, mas sim, há um empenho e será uma vitória”, sublinhou.

“Um dos objetivos que me trouxe ao Município, tendo em conta a minha experiência profissional, foi para ajudar a resolver esta situação. Será uma vitória para este executivo e uma alegria imensa para mim”, assume João Trindade, sem se comprometer com datas de fecho do processo, “para não falhar”.

Natural de Torres Novas, licenciada em jornalismo, apaixonada pelas palavras e pela escrita, encontrou na profissão que abraçou mais do que um ofício, uma forma de estar na vida, um estado de espírito e uma missão. Gosta de ouvir e de contar histórias e cumpre-se sempre que as linhas que escreve contribuem para dar voz a quem não a tem. Por natureza, gosta de fazer perguntas e de questionar certezas absolutas. Quanto ao projeto mais importante da sua vida, não tem dúvidas, são os dois filhos, a quem espera deixar como legado os valores da verdade, da justiça e da liberdade.

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