Promovido à categoria de vila em julho de 1986, mediante proposta de Miguel Relvas, Mário Santos e Fernando Condesso, todos eleitos pelo Partido Social Democrata, o Tramagal viu reconhecida administrativamente a condição que tanto desejava.
Afinal, estavam reunidas todas as condições para a atribuição desse título. Com o número de eleitores necessário, posto de assistência médica, farmácia, coletividades culturais e desportivas, transportes públicos coletivos, estação de correios, estabelecimentos comerciais e de hotelaria, estabelecimento que ministrem escolaridade obrigatória, agência bancária… nada justificava que Tramagal continuasse uma aldeia.
No entanto, para alguém como eu, nascida em 1975, que tem como memória o Tramagal da década de 80 do século passado, atravessado por forte crise económica, salários em atraso, movimentos migratórios para território nacional e internacional, não pode deixar de se questionar com o momento do reconhecimento e o impacto que o mesmo teve localmente.
Com uma acentuada perda de população e consequente envelhecimento, em linha com o que acontece com outros os territórios do interior, é importante que nos questionemos sobre a vila que temos e que queremos.

Com maior ou menor dificuldade mantemos as premissas que nos permitiram ascender à condição de vila. Algumas mantemos com muita dificuldade e em condições muito deficitárias.
Não será difícil fazer a sua identificação: o centro de saúde a funcionar em serviços mínimos, claramente insuficientes para uma população envelhecida e com dificuldades em aceder a outros prestadores de cuidados médicos, seja na sede de concelho, seja em concelhos vizinhos; uma escola pública que ministra os segundo e terceiro ciclos do ensino básico com cada vez menos alunos, seriamente degradada e com investimento praticamente nulo nos últimos anos; equipamentos desportivos degradados e outros com muito baixa taxa de utilização.
Todavia, nestes trinta anos também crescemos: temos empresas de topo que produzem do que melhor se faz no mundo. Seja no setor automóvel ou na via férrea, seja na produção de vinhos e queijos, apenas a título de exemplo.
Mas se na economia local se dá mostras do trabalho realizado, também o Terceiro Setor está na linha da frente das melhores práticas, com instituições atentas à realidade social e aos novos problemas com que as comunidades de confrontam.
Ainda assim não chega.
Tal como um pai ou uma mãe não conseguem manter um filho ao seu lado apenas porque sim, também as comunidades, sejam cidades, vilas ou aldeias, precisam de um trabalho constante de investimento e de conquista dos seus.
Não, trinta anos não é muito tempo. Mas é tempo suficiente para percebermos se a mudança de designação é um prémio ou uma responsabilidade.
Eu acredito na segunda, na responsabilização enquanto comunidade que se quer diversa, mas unida. Que se valorize no e com o território onde está integrada.