O Presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, acompanhado pelo vereador Luís Dias, estiveram no 1 de maio nas várias celebrações que decorreram na vila, acompanhados pela presidente da Assembleia de Freguesia de Tramagal, Susana Peixinho, e por Susana Estriga, secretária do executivo, por indisponibilidade do presidente da freguesia, António José Carvalho, em isolamento forçado pelo vírus da covid-19, Carlos Duarte Ferreira, neto do fundador da MDF, Pedro Rodrigues, chefe do Agrupamento de Escuteiros de Tramagal, João Serafim, presidente da direção do TSU, e alguma população que ali se juntou para se cumprir a tradição e prestar homenagem ao Comendador Eduardo Duarte Ferreira, no Miradouro da Penha, local onde foi edificado um monumento em sua memória.
O programa em Tramagal foi vasto e arrancou às 9:00 do dia 1 de maio com uma largada de pombos e a tradicional homenagem a Eduardo Duarte Ferreira, no miradouro da Penha, momento que foi abrilhantado pela atuação da Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio Carregueirense Vitória, que seguiu em arruada até ao Largo dos Combatentes da Grande Guerra, onde prosseguiram as comemorações do 1 de maio e do centenário do TSU.
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No Largo dos Combatentes, no exterior da sede do TSU, cerca das 11:00, foi inaugurado o “Memorial Social do I Século do Tramagal Sport União”, em que ficaram registados os presidentes de direção e membros de comissões administrativas que orientaram o Tramagal Sport União nesta caminhada de 100 anos, evocando todos os obreiros deste percurso. Depois de uma missa ao ar livre, seguiu-se um almoço comemorativo e uma tarde desportiva, com entrega de borboletas de prata aos sócios mais antigos.

O dia 1 de maio é uma data que se confunde com a própria história do Tramagal e que se comemora há 121 anos nesta vila, pela então Metalúrgica Duarte Ferreira (MDF) e pelos seus trabalhadores, que chegaram a ser mais de 2.600. Desde 1901 e até aos dias de hoje, 1 de maio de 2022, apenas por duas ocasiões o Dia do Trabalhador não foi celebrado na vila metalúrgica. Em 1951, devido ao luto nacional pela morte do então Presidente da República, Óscar Carmona, e no dia 1 de maio de 1956, devido a um trágico acidente que ocorreu na véspera, a 30 de abril, com granadas no forno da fundição a provocarem duas violentas explosões e a causarem duas mortes e muitos feridos.
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O episódio das duas explosões que abalaram o Tramagal nos fornos da fundição, devido a granadas que iam no metal a fundir, são hoje lembrados no mediotejo.net por várias testemunhas, ex-administradores da empresa e estudiosos da Metalúrgica Duarte Ferreira. No dia 1 de maio de 1956, o dia que seria de festa foi transformado em luto, com mais de cinco mil pessoas a acompanharem o funeral dos malogrados trabalhadores da MDF.
O Dia do Trabalhador celebra-se no Tramagal desde 1901, ano em que os operários festejaram pela primeira vez a data, colhendo flores nos campos para enfeitar as máquinas. É um caso único no país e nem as ameaças da ditadura fizeram recuar os Duarte Ferreira, que assumiram o 1º de Maio como um grande dia de festa na empresa.
O Ministério do Interior chegou mesmo a proibir a manifestação por duas vezes, como se conta no livro “Metalúrgica Duarte Ferreira 1879-1997 – Uma história em constante metamorfose”, de Patrícia Fonseca (Ed. CM Abrantes, 2017).
Na primeira ocasião, no início dos anos 40, Eduardo Duarte Ferreira enviou o filho mais novo a Lisboa para falar expressamente com o ministro, tentando que este revogasse a decisão. Mas o governante mostrou-se irredutível, insistindo que não poderiam realizar a festa. “Estão rigorosamente proibidos!”, terão sido as suas palavras finais.
Eduardo Cordeiro ter-lhe-á respondido, segundo ficou registado num documento da empresa, de forma muito corajosa: “Pois saiba V. Exa. que nós vamos mesmo fazer a festa, porque a nossa comemoração nada tem de subversivo. Pode preparar a polícia para ir ao Tramagal prender mais de mil trabalhadores e os três administradores.” A festa fez-se, e ninguém foi preso.
Há 65 anos, o 1º de maio foi um dia de luto e de muitas lágrimas em Tramagal. Em vez da festa tradicional realizaram-se os funerais das vítimas (Assis Januário e Joaquim da Silva Manana), num cortejo fúnebre com mais de cinco mil pessoas, segundo a imprensa da época.
Fotos: Jorge Santiago e David Belém Pereira/mediotejo.net