O evento “The Factory of the Future”, em português Fábrica do Futuro, decorreu durante dois dias, 16 e 17 de outubro, em Abrantes, organizado pela Mitsubishi Fuso Truck Europe, com fábrica em Tramagal, com a Cotec Portugal e com o Município. Durante dois dias aprofundou-se a temática da inovação e industria 4.0, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas, tendo-se concluído serem três as competências diferenciadoras do futuro: inovação, flexibilidade e adaptabilidade.
No ciclo de conferências, demonstrações tecnológicas e discussão sobre a Fábrica do Futuro, em Abrantes, concluiu-se que, afinal, a transformação digital pode não ocorrer em detrimento dos trabalhadores da linha de montagem, mas cooperar para que operem de forma mais confortável e eficaz.
A verdade é que o interesse dos responsáveis fabris, com poder de decisão, pela inovação digital tem crescido nos últimos tempos. Na procura da fábrica do futuro concluem que a utilização de tecnologias de ponta pode ultrapassar os desafios das operações industriais, no sentido de uma maior produtividade, logo, de uma maior rentabilidade. E foi na ótica da troca de experiências ligadas ao setor automóvel e às apostas tecnológicas para a indústria que decorreu em Abrantes o evento “The Factory of the Future”, organizado pela Mitsubishi Fuso Truck Europe (MFTE).
Em dois dias os funcionários da MFTE, palestrantes e empresas de alta tecnologia que lidam com a transformação digital, aglomerados tecnológicos e académicos de renome discutiram e conheceram as inovações mundiais em curso, do que pode ser aplicado à fábrica de Tramagal e aprofundar a temática da inovação e industria 4.0, ou a chamada quarta revolução industrial, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.

Uma iniciativa decorrente de uma constatação, segundo explicou ao meditejo.net o presidente da Mitsubishi Fuso, Jorge Rosa. O caminho das “fábricas do futuro implica o envolvimento de toda a organização”. E assim aconteceu, com quatro painéis e apresentações no Edifício Pirâmide em Abrantes, terminando com uma visita à fábrica em Tramagal, “com dez empresas que fizeram a apresentação das suas tecnologias a todos os operadores da linha, com o objetivo de envolver toda a gente”, sendo o entendimento da Mitsubishi Fuso Truck, um dos fabricantes líder no fabrico de veículos comerciais, que “o caminho para a fábrica do futuro só se faz envolvendo todos e com toda a gente empenhada nesse processo”.
Temas como a utilização da robótica, automatização das operações, robots colaborativos, divisão de tarefas, a diferença entre costumizar e personalizar, os pilares da indústria 4.0 para potenciar de novo o trabalho humano, no sentido de melhores decisões, tecnologia de realidade virtual, da realidade mista aplicada na industria, o contexto formativo ou problema de enquadrar de forma positiva as tecnologias estiveram em debate na conferência “The Factory of the Future” concluindo-se serem três as competências diferenciadoras do futuro: inovação, flexibilidade e adaptabilidade.
Questionado sobre as repercussões para o ser humano da necessidade de mudar para novas práticas industriais na procura de maior produtividade utilizando, nomeadamente, a robótica, Jorge Rosa notou tratar-se de uma discussão mundial e não uma questão “específica” da fábrica de Tramagal. “Como no passado, com a introdução das tecnologias do século XX, aquilo que se trata é substituir determinado tipo de trabalho por outras profissões” disse, admitindo “alterações na estrutura até sociológica do mundo do trabalho, mas não haverá lugar ao desaparecimento mas à substituição de funções” é portanto essa a expectativa naquilo que é possível determinar hoje.
Um dos temas focados no evento, e apontado como caminho, foi a pertinência do robot colaborativo cuja função “é colaborar com o operador nas funções que do ponto de vista ergonómico não são muito favoráveis, muito repetitivas. São robots que podem conviver e coabitar no mesmo espaço sem necessidade de proteção especial, sem o perigo de provocar acidentes ao trabalhador” explicou o presidente, avaliando como solução “mais económica que permite maximizar este tipo de equipamentos”.
Ou seja, é preciso redesenhar o modelo de fábrica, com vista a uma maior produtividade e eficiência na produção.

A Mitsubishi Fuso Truck, a nível industrial, é um dos maiores empregadores do concelho de Abrantes, contabilizando cerca de 450 trabalhadores, e segundo Jorge Rosa, atravessa “um bom momento” a nível de atividade, perspetivando o “continuar da afirmação” da fábrica de Tramagal “dentro do grupo e no mercado, por forma a que a empresa consiga manter-se com os níveis atuais ou se possível aumentando o nível de atividade e de emprego” na região.
O executivo garantiu ser a contratação de mais trabalhadores a “luta diária” da fábrica de Tramagal. “Lutamos todos os dias para que isso aconteça e acreditamos que, se a economia ajudar, isso vai acontecer” afirmou, acrescentando que “os acionistas têm considerado que é importante ter aqui este polo industrial e nós teremos de continuar a demonstrar que faz sentido ter em Tramagal uma unidade industrial”.
No entanto, alude a vários desafios. “A globalização é um deles, o recente acordo de comércio livre entre a Europa e o Japão levanta alguns riscos”, ou seja, “a entrada de produtos vindos do Japão para a Europa eram até hoje taxados com uma taxa que gradualmente irá desaparecer e pode, em determinado momento, questionar se faz sentido manter aqui a fabricação”.
É também por isto que a unidade da Mitsubishi Fuso Truck Europe, no concelho de Abrantes “terá de provar que faz sentido, por outras razões que não só o custo” apontando a flexibilidade, a capacidade de adaptação, a dimensão “que é importante! Não somos uma grande fábrica no universo das fábricas de automóveis mas isso é bom e mau e temos de fazer apelo à parte positiva”, referiu, manifestando otimismo.
Em resumo: o que se espera talvez seja uma verdadeira revolução digital na fábrica, centrada na forma de integrar as pessoas nos processos, e não apenas em incluir novas tecnologias, computadores e robots na equação de substituição do operador.

No último painel do evento, esta quarta-feira 17 de outubro, que contou com Pedro Saraiva, da Tagusvalley como moderador de uma mesa redonda com Luís Rocha da INESC TEC, Nuno Silva, da Think Future, Innovation Skills e Luís Martins, da IT People. Este último palestrante focou a necessidade do enquadramento de forma positiva das tecnologias, destacando a responsabilização, e considerando “um dever” de quem decide “tomar decisões de forma consciente”, dando sentido ao princípio da robótica colaborativa.
Tendo como destinatários os colaboradores da empresa, as conferências contaram com mesas redondas e oradores de empresas líderes na inovação, principais clusters tecnológicos e instituições do ensino superior especializadas na 4ª Revolução Industrial. A iniciativa contou com a presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, e com o professor Augusto Mateus na sessão inaugural.
