O nervoso miudinho instalou-se em Tramagal naquela noite de 3 de julho de 1986, quando o tempo parecia mais lento e autarcas e populares aguardavam no jardim central da ainda aldeia (Largo dos Combatentes) por um telefonema de Lisboa, a dar conta do resultado da votação da ascensão de Tramagal a Vila.
“A festa estava preparada, caso a resposta fosse positiva, com um grupo musical, sardinha e tudo a que os tramagalenses teriam direito para celebrar a nossa aspiração. Esperámos no Largo dos Combatentes por um telefonema de Francisco Estudante e Otávio Oliveira, que foram à Assembleia da República assistir pessoalmente à votação. Quando o telefone tocou e soubemos que a aldeia de Tramagal tinha sido elevada a Vila foi uma alegria e uma festa enorme”, lembrou José António Agostinho, na altura secretário da Junta de Freguesia de Tramagal, eleito pelo PSD.
Francisco Estudante, então presidente da Junta de Freguesia de Tramagal, haveria de abdicar do cargo por motivos de doença, assumindo José Agostinho a presidência da Junta de Freguesia de Tramagal ainda nesse ano de 1986.
“Nessa noite, na festa, esperámos que Francisco Estudante e Otávio Oliveira chegassem de Lisboa para se juntarem aos tramagalenses, discursarem para a população e juntarem-se ao arraial. Foi um dia muito bonito e às vezes penso porque é esta data nunca mais foi comemorada. Só agora, 30 anos depois, é que se lembraram”, observou o antigo autarca, hoje dedicado à apicultura.

José António Agostinho lembrou Francisco Estudante como o homem que presidiu à Junta de Tramagal no ano de elevação a Vila, José Maria Luís – “um homem espectacular com um serviço notável ao serviço da junta” – Lucília Baião, que ascendeu a secretária da Junta de Freguesia com a saída de Estudante, Miguel Relvas, o deputado social democrata eleito por Santarém que avançou com o processo pelo Grupo Parlamentar do PSD, e José Bioucas, na altura presidente da Câmara Municipal de Abrantes, eleito pelo PS.
“A Junta de Tramagal era do PSD e a Câmara do PS, então com o engenheiro José Bioucas. Apesar das diferenças na cor política, o Tramagal foi muito favorecido pelo presidente Bioucas, em muitas obras que fizemos”, destacou.
José Agostinho não vai estar presente no dia 3 de julho nas cerimónias dos 30 anos de Vila, por “compromissos já assumidos” mas promete assinalar o dia, esteja onde estiver.
“No domingo vou-me lembrar do que sucedeu há 30 anos. Lembro-me sempre. Todos os anos”, afirmou, com orgulho.
Foi por iniciativa do Partido Social Democrata (PSD) que se procedeu a uma reorganização do estatuto de várias povoações, em todo o país. Corria o ano de 1986, Cavaco Silva era primeiro-ministro e Mário Soares haveria de ganhar as mais renhidas eleições Presidenciais da História nacional, numa emotiva segunda volta com Freitas do Amaral. O projeto de lei 60/V propôs a elevação de Tramagal a Vila, tendo como primeiro subscritor o deputado Miguel Relvas, que então escreveu:
“O PSD, ao apresentar o Projeto de Lei 60/V, propondo a elevação de Tramagal à categoria de Vila, mais não fez do que dar plena satisfação a um velho anseio da sua população.
A povoação de Tramagal preenche todos os requisitos que consagra o regime de criação e extinção das Autarquias Locais e Designação de e Determinação da Categoria das Povoações, designadamente os índices geográficos, demográficos, sociais, culturais e económicos e teve ainda o parecer favorável de todos os Orgãos Autárquicos.
Assim, na qualidade de primeiro subscritor do referido Projeto de Lei e todo o Grupo Parlamentar do PSD, votámos favoravelmente a elevação do Tramagal à categoria de Vila.
Esperamos que esta justa promoção incentive os respectivos órgãos autárquicos de Freguesia, de Município e as forças vivas locais, para um maior desenvolvimento da nóvel vila a fim de proporcionar uma maior qualidade de vida aos seus habitantes”, conclui Miguel Relvas na declaração de voto datada de 3 de julho de 1986.
A lei nº 28/86 acabaria por ser publicada em Diário da República a 23 de Agosto, oficializando a elevação a vila, uma pretensão antiga dos tramagalenses.
Nas atas da Assembleia da República refere-se que, a 3 de julho de 1986, “após a leitura do relatório e parecer da Subcomissão para a Criação de Novos Municípios, Freguesias, Cidades e Vilas, procedeu-se à discussão e votação na generalidade na especialidade e final global dos projectos de lei n.ºs 17/IV, 45/IV, 110/IV, 209/IV, 249/IV e 231/IV (Elevação de vilas à categoria de cidade), 60/IV, l29/IV, 13I/IV, 132/IV, 143/IV, 1l7/IV, 224/IV, 228/IV, 236/IV, 247/IV e 248/IV (Elevação de povoações à categoria de vilas), 30/IV, 80/IV, 122/IV e I80/IV (Criação de novas freguesias), 213/IV (Alteração de leis de criação de freguesias aprovadas na III Legislatura), i8lllV e 200/IV (Alteração da denominação de uma freguesia e de uma povoação), tendo os projectos de lei sido aprovados.