Filipa Coelho e João Pires são dois dos rostos da associação 30Por1Linha, que desenvolve ações de sensibilização ambiental e cultural por toda a região Foto: mediotejo.net

Sediada entre Torres Novas e Tomar, desde 2015 que a associação Trinta Por uma Linha (30Por1Linha) procura desenvolver atividades na região de consciencialização ambiental e cultural. Não se encarando propriamente como um grupo ativista, apesar de ter essa componente, têm optado sobretudo por abordagens de sensibilização. O mediotejo.net falou com dois dos seus porta-vozes, Filipa Coelho e João Pires, e tentou perceber que associação é esta que se tem afirmado no panorama associativo da região. 

Constituída por cerca de uma dezena de pessoas, entre os 31 e os 42 anos, a 30Por1Linha é uma associação de espírito jovem que nasceu da vontade de lutar por causas, em particular causas ambientais e culturais. “Estávamos a trabalhar em setores que não nos motivavam e quisemos criar uma associação voltada para trabalhar as nossas causas”, começa por explicar Filipa Coelho. Parte do grupo focou-se nas questões ambientais, mas outros elementos voltaram-se mais para a vertente cultural, o que acabou por originar o nome “Trinta por Uma Linha”, sintetizando esta vontade de querer envolver-se em áreas divergentes mas que de algum modo se complementam. 

“Queremos fazer trinta por uma linha pelas coisas que acreditamos”, frisa Filipa. Gerou-se assim uma associação ambiental e socio-cultural que rapidamente reuniu o interesse de amigos que também tinham essa vontade de se envolver em atividades diferentes do seu quotidiano.

Do teatro de fantoches, tentando preservar os processos da oralidade, às atividades ambientais mais variadas, a associação, composta somente por voluntários, foi criando atividade sobretudo nos concelhos de Torres Novas e Tomar, até a pandemia ter obrigado a abrandar as iniciativas. 

Projeto NAPA procurou fazer a monitorização do Chapim-azul Foto: CM TN

Não obstante a atividade cultural, protagonizada por Sónia Costa e Teresa Costa, as atividades mais visíveis da 30Por1Linha têm sido ao nível ambiental. Neste setor, o grupo não tem parado, estando envolvido em vários projetos de promoção e catalogação da biodiversidade da região. Há atividades mais voltadas para o público, como a observação de aves e os passeios interpretativos da natureza, mas outras de impacto mais profundo nos territórios, como a identificação de árvores de grande porte, nomeadamente o carvalho cerquinho, uma espécie autóctone, que possam ser consideradas de interesse público. 

A iniciativa é da responsabilidade do membro Hugo Ribeiro, que já conseguiu que pelo menos três árvores na região conseguissem obter o estatuto de interesse público pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF), o que implica a sua preservação: o carvalho da Pedreira, o carvalho Jorge Paiva, no jardim da Biblioteca Municipal de Tomar, e o carvalho de Carregueiros, na EN113, todos no concelho de Tomar. Há mais dois pedidos em curso para que duas outras árvores de grande porte obtenham este estatuto. 

“Há muitas mais” que poderiam ser alvo desta forma de preservação, explicam Filipa Coelho e João Pires, mas encontram-se em terrenos particulares e a associação tem preferido apostar em espécies que se encontram em espaço público.

“Vamos dando apoio a quem nos contacta” sobre estes temas, frisando a demora dos processos mas a importância dos mesmos para a conservação, nomeadamente, do carvalho cerquinho, que não tem o mesmo estatuto de proteção do sobreiro ou da azinheira. 

“Somos todos mais curiosos, não há entre nós um especialista em determinado tema”, explica João Pires, geógrafo de profissão, que no seu quotidiano facilmente se depara com situações de cariz ambiental. Também Filipa sempre esteve envolvida em movimentos ambientais desta natureza, constatando que estas causas necessitam sobretudo de ação e não de conversas de café. 

O carvalho de grande porte junto à Biblioteca de Tomar foi classificado como de interesse público devido à ação da 30Por1Linha Foto: DR

Daí o envolvimento da coletividade em projetos de âmbito mais científico, como a monitorização de borboletas diurnas na Mata dos Sete Montes (Tomar) e de borboletas noturnas, para a Rede de Estações de Borboletas. Em Torres Novas instalaram ninhos artificiais para aves, o projeto NAPA, para monitorizar o Chapim-azul e colmatar o desaparecimento de espaços de nidificação em meios urbanos. 

Ainda com a Associação Portuguesa de Educação Ambiental envolveram-se no Projeto Rios, monitorizando a fauna e a flora de um troço do rio Almonda, em Azinhaga, e do rio Nabão, no Sobreirinho. O objetivo deste programa é colocar as populações a olhar pelos seus rios, servindo ainda como um de mecanismo de ação política. A recolha de lixo nas margens e limpeza de espécies invasoras são as mais valias do envolvimento neste tipo de iniciativas, que necessitam quase sempre do apoio das instituições, constatam.

Outro projeto em que a 30Por1Linha se encontra envolvida é os “Gigantes Verdes”, de Lousada, também direcionado para identificação de árvores de grande porte. Com a Bioliving estão ainda desenvolver um projeto de estudo dos escaravelhos do carvalho cerquinho, nomeadamente a vaca ruiva. “Estamos a tentar perceber a sua distribuição”, explicam, constatando que há muito pouca investigação sobre este inseto. 

“Gostaríamos de fazer muita coisa”, comenta Filipa, sendo que a pandemia também trouxe o seu impacto a este tipo de projetos. A associação gostaria de expandir as suas atividades além de Tomar e Torres Novas, em particular para Ferreira do Zêzere, Ourém ou Abrantes, identificando os seus carvalhos cerquinhos de grande porte.

Mas, como em tudo, escasseia o financiamento e estes entusiastas da natureza e da divulgação científica ambiental acabam por sentir as limitações, inclusive ao nível dos colaboradores, para fazer tudo aquilo que ambicionavam. 

Identificação e estudo da dispersão da vaca ruiva é um dos projetos da associação Foto: Trinta por uma Linha

Natureza é tudo, constatam, lembrando a estranheza de algumas pessoas quando se propõem a fazer percursos de descoberta da vida selvagem em meio urbano. Destacam também a vontade de “fazer parte da solução” no que toca a problemas ambientais, procurando uma abordagem de ativismo menos radical e mais voltada para a sensibilização e consciencialização para a biodiversidade de todo o tipo de espaços naturais, mesmo os menos óbvios.

“Há todo um ecossistema que por vezes não se tem noção”, constata Filipa, alertando que nem sempre se tem em consideração todo um conjunto de fatores de equilíbrio natural quando se decide fazer uma limpeza de rios ou de matas municipais.  

Face a tantas ambições, muitas dificuldades e poucos recursos, perguntamos se este desejo de lutar por causas, nem sempre valorizadas, vale a pena. “Vale, claro que sim”, frisa João Pires, “como é um gosto pessoal, esquecemos todas essas dificuldades”.

A defesa do ambiente também está na moda, admitem, mas salientam que nem sempre a natureza é realmente encarada com realismo e o respeito que merece. 

 

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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