José Pereira Bastos, neto da jornalista e ativista torrejana Maria Lamas, está a preparar uma obra biográfica sobre a vida da avó, cujo primeiro volume será lançado em breve em Torres Novas. Trata-se de um “diário íntimo”, construído através de “material avulso” que o neto foi recolhendo ao longo dos últimos três anos, em que investigou a vida da Maria Lamas. Nesta investigação deparou-se com um conjunto de obras que estão dadas como desaparecidas. Pereira Bastos acredita que este espólio são cartas que confirmam a relação amorosa que Maria Lamas terá mantido com o escritor e jornalista Ferreira de Castro.
José Pereira Bastos deu recentemente uma entrevista à agência Lusa em que explicava a sua investigação e a sua teoria quanto a uma espólio que deveria ter sido publicado 30 anos após a morte da avó e que se encontra desaparecido. “Está escrito em carta da minha avó à filha mais nova que as obras devem ser publicadas trinta anos após a sua morte e a filha, em carta do mesmo dia de 2 de fevereiro de 1982, confirma o depósito com ata notarial e testemunhas deste material na Biblioteca Nacional”, referiu. No entanto, ao longo dos últimos três anos Pereira Bastos não encontrou qualquer espólio na Biblioteca Nacional, na Torre do Tombo ou no Museu Ferreira de Castro.
A teoria do neto de Maria Lamas é que a avó, casada com um monárquico de extrema direita, manteve uma relação amorosa com Ferreira de Castro, da qual é público ter sido muito amiga, e que o espólio desaparecido serão as cartas entre os dois trocadas entre 1930 e 1936. Acredita também que terá sido o próprio Ferreira de Castro a mudar os documentos de sítio, por forma a salvaguardar a família. No Museu Ferreira de Castro, garantiu à Lusa, há uma “caixa encarnada” que só será aberta em 2024, 50 anos após a morte do escritor. O neto espera assim “ainda cá estar para abrir essa caixa”.
Contactado pelo mediotejo.net, José Pereira Bastos confirmou esta interpretação da sua investigação histórica, referindo não haver mais novidades sobre o espólio desaparecido. “É um enigma”, constatou, mantendo-se firme na convicção que Maria Lamas e Ferreira de Castro tiveram um envolvimento amoroso forte, para além da amizade pública. “Não percebo porque continuam a querer ocultar a vida amorosa da minha avó”, comentou.
José Pereira Bastos é antropólogo e psicanalista, estando atualmente reformado. Admite que o tema da vida íntima da avó possa estar a incomodar uma certa moralidade, mas afirma que não vai deixar de investigar. Adiantou assim que ainda este ano sairá o primeiro volume da biografia de Maria Lamas, com a sua vida até à chegada, divorciada, a Lisboa. A obra, a primeira de um conjunto que está a elaborar, falará sobre esse período do “despertar” da ativista. O livro terá ainda incluída a peça de teatro “Maria Lamas sempre mais alto”, obra que foi apresentado em Berlim.
O mediotejo.net falou com o Museu Municipal Carlos Reis, em Torres Novas, questionando se havia novidades quanto ao espólio desaparecido. A responsável, Margarida Moleiro, referiu desconhecer mais pormenores sobre o tema. “No acervo do museu municipal, temos alguma correspondência de Maria Lamas, livros autografados pela escritora e outros por amigas e amigos, como é o caso de um que contém uma dedicatória da Margueritte Yourcenar para Maria Lamas; temos também alguns cartazes e folhetos de eventos em sua homenagem ou em que terá participado, bem como desenhos e outras obras de arte provenientes da casa onde viveu com a família”.
O que existe em Torres Novas, esclareceu, é sobretudo doação da família da jornalista e também escritora. “No centro de documentação do museu, temos algumas das primeiras edições de obras de Maria Lamas, como As Mulheres do Meu País. Sei que na biblioteca municipal existem, também, quase todas as obras publicadas por Maria Lamas, algumas delas primeiras edições”, enumerou.
Margarida Moleiro avançou também que o Museu Municipal Carlos Reis está a preparar uma exposição de homenagem a Maria Lamas na Assembleia da República, a inaugurar em outubro de 2017.