*artigo retificado às 22h08 de 29 de agosto de 2021
Há muito que um dos 12 moinhos do complexo dos Moinhos da Pena, que cruza as freguesias de Chancelaria e Assentis, Torres Novas, funciona como espaço de turismo rural, mas só nos últimos anos mais dois proprietários resolveram seguir o exemplo do vizinho e dar rentabilidade aos velhos edifícios de moagem. Entretanto, a junta de freguesia de Chancelaria e o município de Torres Novas firmaram um protocolo para reabilitar uma quarta estrutura e colocá-la a funcionar, produzindo farinha e funcionando como museu.
As ideias estão a dar vida às aldeias da Pena e do Casal da Pena, onde já se celebra o Dia do Moinho, mas ainda há muito a fazer para valorizar o património edificado.
Os Moinhos da Pena são um velho complexo de 12 moinhos desativados, todos de proprietários diferentes, que desde o início dos anos 90 vêm despoletando iniciativas de valorização das autarquias, mas sem efeitos práticos significativos.
Em 1991 alguns proprietários chegaram a beneficiar do programa LEADER para recuperar as estruturas, mas parte ficou-se apenas pela preservação do construído.

A mesma história é recordada ao mediotejo.net pelo vice-presidente torrejano Luís Silva e o secretário da junta de Chancelaria, Américo Moleiro, numa visita ao local. Das iniciativas criadas para valorizar o espaço chegou a nascer um bar nas proximidades, mas acabou desativado.
Em 2014 o município adquiriu, por 22 mil euros, um dos moinhos para reabilitar, com a intenção de servir de impulso aos restantes proprietários. O projeto porém só avançou este ano, mediante um contrato interadministrativo de delegação de competências com a junta de freguesia de Chancelaria, numa obra que vai custar cerca de 20 mil euros (mais IVA).

Américo Moleiro não sabe datar a origem dos moinhos, apenas que terão pertencido a uma família local de moleiros, estando agora divididos por todo um conjunto de herdeiros. A importância da estrutura para a economia local pode ser reconhecida pela presença do sobrenome “Moleiro” em parte da população.
Um dito popular afirma ser este o maior complexo de moinhos da Península Ibérica, mas ninguém sabe confirmar a veracidade de tal afirmação.
Compete agora à junta de Chancelaria reabilitar o moinho adquirido pelo município. O objetivo, explica Américo Moleiro, é reparar a estrutura e torná-la capaz de retomar a sua função de moagem de cereais. Alguns peças ainda podem ser reutilizadas, refere, razão pela qual a intervenção ficou orçada nos 20 mil euros.
Os vários terrenos baldios que rodeiam o complexo são bons para a plantação de trigo, experiência que a junta já realizou e quer repetir assim o moinho esteja reabilitado. Fica assim um equipamento com capacidade de se tornar um ativo, não obstante a autarquia não mostre ambição de tirar lucro do mesmo.
O espaço fica ainda com condições de ser visitado por quem passe pelo local, que é atravessado por um percurso pedestre e possui três alojamentos turísticos.

“É uma memória histórica a funcionar”, frisa Luís Silva, recordando projetos antigos que acabaram por morrer por falta de motivação local, mas que não retiraram ao município o desejo de transformar o espaço num parque de lazer com usufruto turístico. “É preciso haver dinâmica”, admite, algo que pode estar finalmente a ser conseguido.
Há algum tempo que um dos moinhos foi convertido em espaço turístico, mas só nos últimos anos mais dois vizinhos lhe seguiram o exemplo. Maria de Fátima Dias é a única com presença no site Booking, com o seu “Moinho da Pena” com a classificação de Alojamento Local.

A estrutura foi herdada e durante alguns anos não soube que utilidade lhe oferecer, até se decidir a avançar há cerca de quatro anos com o projeto de turismo. No pequeno moinho foi possível construir um quarto, uma cozinha e uma casa de banho. Inicialmente, sem qualquer publicidade, conseguiu ir alugando.
“Vinha muita gente de Lisboa”, refere, que se apercebia da presença do espaço e contactava para alugar. Entretanto já teve clientes internacionais, inclusive da Austrália.
“As pessoas gostam do isolamento”, reflete, razão pela qual o ano de pandemia nem afetou muito o negócio. Há quem fique apenas uma noite, outros ficam períodos de uma semana. A paisagem e a natureza são os maiores atrativos, mas os turistas também visitam as redondezas, como Torres Novas, Tomar e Fátima.
“Gostava que requalificassem mais moinhos e se gerasse mais dinâmica”, admite.

A junta de Chancelaria tem tratado da limpeza e do asfaltamento do acesso, mas ainda há muito a fazer. Para haver água, Maria de Fátima teve que fazer um depósito. Entretanto há a promessa do município de colocar projetores de luz junto aos moinhos, de forma a que estes possam ser vistos durante a noite e a partir da estrada principal.
Nos últimos anos tem-se celebrado também o Dia do Moinho, a 7 de março, em que a população convive em almoço após uma caminhada. É mais uma das iniciativas da junta de Chancelaria para valorizar o espaço.
“Há muito por fazer aqui”, suspira Américo Moleiro, frisando o amor da autarquia pelo espaço e a vontade que estes pequenos projetos sejam, finalmente, o início de uma nova vida para os Moinhos da Pena.