rio Almonda Foto: mediotejo.net

A freguesia de Ribeira Branca foi extinta em 2013, dando lugar à união com Lapas e São Pedro, concelho de Torres Novas. Do último mandato dessa autarquia ficou a associação “Viver Almonda” e umas célebres descidas de canoa pelo rio que têm atraído cada vez mais curiosos nos últimos anos. Da nascente do Almonda a Rio de Pontes, cerca de seis quilómetros, a paisagem é idílica. Mas antes das descidas de 27 e 28 de maio é necessário limpar o rio. E esta é uma outra aventura…

O 1º de maio, feriado do trabalhador, não deu descanso para os lados da extinta freguesia de Ribeira Branca. A associação “Viver Almonda”, núcleo que procura promover atividades lúdicas e desportivas em torno do rio Almonda, iniciou nesta data o processo de limpeza necessário à sua grande descida de canoa. Uma atividade que vai para a sua sétima edição e que atinge este ano um pico de afluência: os 280 lugares possíveis foram fechados em quatro dias, com interessados de todo o país, mesmo sem raízes no concelho.

Como a informação se divulgou tão depressa a associação nem sabe bem explicar. Mas é o culminar de um longo trabalho de limpeza e promoção do rio que vem de há alguns anos e que leva a equipa do “Viver Almonda” a passar vários dias dentro de água em limpeza, resistindo ao frio das águas e às temperaturas ainda amenas.

Limpeza é feita numa primeira fase de canoa, tirando os detritos espalhados pelos rios e margens. Foto: mediotejo.net
Ilhas de lixo acumulado na descida do rio Almonda. Foto: mediotejo.net

A convite da associação, o mediotejo.net aceitou o desafio e entrou numa canoa para descer rio abaixo, acompanhando a limpeza. Ponto de encontro: a “praia da Ribeira”, como é conhecida, às portas de Ribeira Ruiva, onde por norma também se realiza a concentração para a descida.

A “praia da Ribeira” é uma praia fluvial em Rio de Pontes, junto a Ribeira Ruiva, onde no pico do calor muitos torrejanos se banham nas águas do rio Almonda. Poucos a conhecem fora do concelho. O espaço foi qualificado há alguns anos e tem um parque de merendas, muito embora a construção de uma estação elevatória (saneamento doméstico) nas imediações, junto ao rio, pareça ameaçar a tranquilidade quase selvagem do local.

Para esse facto somos alertados pelo ex-presidente da junta e membro do “Viver Almonda”, Sérgio Formiga, assim que chegamos à beira rio. A obra, das Águas do Ribatejo, encontra-se parada, com um escoamento para o rio. A visão não agrada ao autarca, constatando-se o elevado número de pessoas que acorrem ao espaço no verão e o perigo que tal equipamento representa para o equilíbrio do espaço. A mesma crítica é feita nos dias seguintes pela CDU de Torres Novas, apelando a que estrutura seja transferida para outro local.

Outras observações também são feitas à Rota do Almonda, um trajeto pela serra identificado com cartazes, atualmente bastante degradados. Um destes fica na “praia da Ribeira”, mas encontramos mais nas imediações do trajeto. Segundo um comunicado divulgado pelo CDS de Torres Novas, a “Rota do Rio Almonda” foi financiada em 123.113,33 euros por fundos comunitários.

Canoas preparadas, entramos na carrinha a caminho da fábrica 1 da Renova. A descida começa junto ao parque de estacionamento da fábrica, o local mais próximo da nascente do Almonda. Foram contactadas várias instituições para estarem presentes no primeiro dia de limpeza do rio e a associação admite que gostaria que a empresa Renova se envolvesse no projeto de promoção e limpeza, visto que a nascente se encontra nas suas instalações. Porém, somos informados, já no fim do percurso, que apenas compareceu o presidente da junta do Pedrógão, que veio saudar a equipa.

Os seis quilómetros de rio são uma ziguezaguear por três freguesias: Pedrógão, Zibreira e Ribeira Branca. Entrando na canoa rio abaixo é difícil perceber, sem ser através das indicações de quem nos guia, onde nos encontramos. Sabemos porém que encontraremos quatro obstáculos, açudes que “atiram” a maioria dos canoístas para o rio nos dias das descidas: Moagem, Porto Carneiro, Azenha e, o maior de todos, o Choupal, com um declive com cerca de três metros.

No segundo “obstáculo” já provámos a água do rio. É fria, admitimos. Mas no meio do esforço de remagem e com o sol de primavera a bater nem faz muita diferença. Fazemos uns videos, a paisagem é encantadora. Curiosamente quase não vemos lixo, apenas a vegetação acumulada no rio.

São os efeitos da falta de chuva, explica quem nos guia. O inverno e primavera secos não resultaram nas tradicionais cheias que são as causadoras da maioria dos detritos no rio. O curso, em consequência, tem menos água que o que seria normal nesta época do ano. Vê-se o fundo do rio na maioria do caminho, as águas são límpidas e a vegetação exuberante. Os pássaros cantam e acompanham-nos patos, peixes e garças. A passagem por campos agrícolas não permite um silêncio total, mas os apaixonados por fotografia teriam um dia em cheio.

Encontramos já a sensivelmente 1/3 do trajeto quando nos deparamos com “ilhas”, acumulação de vegetação que impede a passagem e na qual confluem detritos e lixo que cai ao rio. Garrafas de plástico, lixo comum, um bidão com cheiro a diluente, uma cadeira de plástico inteira, uma jangada sustentada em garrafões de 5 litros de água que se desprendeu pelo rio, um pneu e várias condutas de escoamento são outras das “descobertas” que a equipa faz ao longo do rio.

“No início, quando começámos, era pior”, afirmam os vários elementos da associação. Havia zonas do trajeto praticamente inacessíveis devido ao amontoado de vegetação e ao lixo. Gradualmente vários destes problemas foram sendo resolvidos e a consciencialização junto dos agricultores também permitiu que houvesse uma melhoria nas condições do afluente. Ainda assim, há ainda muitas canas cortadas para dentro de água que não são removidas, grandes troncos que só serão retirados com a ajuda de máquinas próprias, e lixo, alguns quilos de lixo, que enchem o caixote no final trajeto, de regresso a Rio de Pontes.

De canoa rio abaixo, a equipa de seis elementos do “Viver Almonda” recolheu alguns quilos de lixo no primeiro dia de limpeza. Foto: mediotejo.net

“Isto é o sétimo ano e começa-se a apanhar menos lixo”, explica Sérgio Formiga, que ainda assim alerta para a necessidade do município ajudar neste processo, que ajuda a preservar o património natural que é o rio Almonda. “Há mais consciência, há proprietários que começaram a olhar o rio de outra forma. Mas outros não…”, lamenta Sérgio Formiga. Na prática, explica, “é preciso fazer uma grande intervenção” para limpar o rio, “isto é apenas uma desobstrução”.

Até 27 de maio, dia da primeira descida de canoa, a equipa do “Viver Almonda” vai realizar este percurso mais meia dúzia de vezes. “Dia 13 de maio o Papa vai estar em Fátima e nós dentro do rio”, comenta o responsável, falando em nome da associação.

Sérgio Formiga lamenta que não se recupere a figura do guarda-rios, que seria fundamental neste processo. Seria, explica, um fiscal que velaria pelas boas condições do rio, prevenindo os atentados ambientais.

Nos dias das descidas de canoa, o rio já estará irreconhecível, garantem. Mesmo quem não vai descer, é bem vindo para acompanhar o trajeto das canoas. No final há convívio, com comida, para todos.

Cartaz promicional da descida de canoa. Os 280 lugares foram ocupados em quatro dias. Foto: D.R.

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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