A escolha do dia 1 de Maio, Dia do Trabalhador, para inaugurar o Núcleo Museológico da Central do Caldeirão, “não foi inocente”. Conta a história que, nesse dia, por tradição, os trabalhadores da antiga Central Hidroelétrica de Torres Novas juntavam-se, todos os anos, num piquenique junto ao rio Almonda, nas imediações daquela unidade industrial, para comemorar a efeméride. O presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, explicou que esta foi a forma que o Município encontrou para “homenagear os homens e mulheres” que por ali passaram, desde as primeiras décadas do século XX.
Recorde-se que o Núcleo Museológico da Central do Caldeirão resulta da recuperação da antiga central hidroelétrica de Torres Novas, responsável pela produção e distribuição de energia elétrica pública no concelho. Após a desativação da central, o espaço foi doado ao Município para poder receber novo destino que fizesse jus à importância que outrora desempenhou na comunidade, sofrendo então as devidas obras de reabilitação, após longos anos sem atividade.
Com as portas reabertas ao público desde o primeiro dia do mês de maio, o Núcleo Museológico da Central do Caldeirão “apresenta a coleção de arqueologia industrial original intervencionada e recuperada ‘in situ’, disponibiliza um programa de oficinas educativas nos domínios do património industrial local, da produção de energia e do ambiente e pretende ser um repositório de memórias da vila operária de Torres Novas (com recolha de testemunhos orais, realização de exposições temporárias e realização de trabalhos de mediação e serviço educativo relacionados)”, adianta o Município.
A musealização da sala das máquinas é da responsabilidade da equipa do Museu Municipal Carlos Reis, que conta com o apoio científico da Fundação EDP e das associações portuguesas de arqueologia e património industrial.
Na sala reservada à maquinaria, com acesso às turbinas, destacam-se as máquinas de grande porte, que ganham agora um novo brilho.
“São máquinas enormes. Máquinas que estavam já cristalizadas pelo tempo. Tivemos de investir. Felizmente, atualmente, em Portugal, já há técnicos muito bons nessa área, que as lubrificaram e lhes deram vida através de vídeos animados. São máquinas que pesam toneladas e que são uma referência nacional e mundial. É um orgulho enorme ser presidente da Câmara e ter podido ser eu a inaugurar esta obra. Está aqui um trabalho perfeito”, confidenciou Pedro Ferreira.
Não obstante a robustez da maquinaria, certo é que os olhares da maioria, à entrada na sala, fixavam-se automaticamente no impressionante painel com as fotografias de mais de uma centena de antigos trabalhadores da Central, a enfeitar uma das paredes com rostos de “gente da terra”.
“Eu trabalhei aqui. Estou muito emocionada e feliz. Está tudo tão bonito”, confidenciava uma ex-trabalhadora da antiga Central do Caldeirão enquanto admirava o painel e apontava para os rostos que ia reconhecendo, dando-lhes nome.
“Eu trabalhei aqui. Estou muito emocionada e feliz. Está tudo tão bonito”, confidenciava uma ex-trabalhadora da antiga Central do Caldeirão enquanto admirava o painel e apontava para os rostos que ia reconhecendo, dando-lhes nome.
“Há uma grande familiaridade com este espaço. Passou por aqui muita gente. Eu próprio, que não tenho ligações diretas à Central, fico emocionado com o que vejo, ao recordar o passado e a minha história de vida. Lembro-me, desde que nasci, de passar por aqui e entender que era uma fábrica enigmática que eu não conhecia, mas sabia que fazia chegar a luz a minha casa. Isso era apaixonante”, partilhou Pedro Ferreira.
O edifício recuperado, conta também com um espaço multiusos, que permite acolher ações culturais e de dinamização social e económica, e com um restaurante, com vista para o jardim das laranjeiras e para a emblemática tarambola. Na sua envolvente, foram também requalificados o moinho e o lagar do Caldeirão.
“É um orgulho enorme dar vida a esta casa que teve a sua história e que agora terá um futuro ligado a essa mesma história. Essa preservação é extremamente importante para a cultura e para a memória histórica de Torres Novas”, afirmou Pedro Ferreira ao mediotejo.net, notando a localização privilegiada do novo Núcleo Museológico da Central do Caldeirão.
“Está no coração da cidade. Está no Centro Histórico, encostado ao nosso rio Almonda. De portas abertas para quem queira visitar e conhecer melhor a sua História.”
