O jornalista António Borga é natural de Torres Novas, de onde saiu com 3 anos, sendo filho do escritor torrejano com o mesmo nome. Trabalhou na BBC e assumiu cargos de direção na RTP e SIC. FOTO: mediotejo.net

O jornalista António Borga foi o grande promotor do colóquio “Jornalismo em Questão”, que decorreu ao fim da tarde de quarta-feira, 11 de janeiro, na Biblioteca Municipal de Torres Novas. Com raízes na cidade, assim como os restantes jornalistas presentes – Alice Vieira, Cesário Borga e Pedro Vieira – António Borga retomou assim uma tradição do seu pai, o escritor torrejano com o mesmo nome, que organizava colóquios na cidade com escritores e intelectuais do país.

“Eu resolvi doar o espólio do meu pai, António Borga, que nasceu nas Lapas mas viveu em Torres Novas. Decidi doar o espólio dele, a biblioteca, a correspondência com outros escritores, fotografias, à Biblioteca Municipal”, explicou ao mediotejo.net o jornalista. No decorrer das conversações, em que participaram o presidente da assembleia municipal José Trincão Neves, e a vereadora Elvira Sequeira, surgiu a ideia para um colóquio sobre jornalismo. “Uma das coisas que o meu pai fez em Torres Novas foi organizar colóquios e convidar escritores e outros intelectuais. Vinham a Torres Novas para colóquios como este”, recordou.

O concelho tem um largo conjunto de jornalistas espalhados pelo país, pelo que se decidiu reunir alguns destes profissionais, como a escritora Alice Vieira (que foi jornalista no Diário de Lisboa e no Diário de Notícias, entre outros títulos), cuja família é também de Lapas, tendo os filhos a viver no concelho, além de Cesário Borga, que fez carreira na RTP, e Pedro Vieira, que foi jornalista fundador da revista Visão. No programa estava prevista a presença de Ana Sousa Dias, redatora principal do Diário de Notícias, mas a jornalista não conseguiu estar presente por motivos de trabalho.

Pedro Vieira, Alice Vieira, António Borga e Cesário Borga falaram sobre os problemas do jornalismo atual. FOTO: mediotejo.net

Durante o debate percorreu-se um pouco do estado atual do jornalismo, desde as condições laborais à sustentabilidade económica, mas também a função do jornalista enquanto mediador e os conflitos com o meio político, nomeadamente através das pressões e da parcialidade noticiosa. À discussão vieram ainda temas como o impacto da redes sociais e o crescimento do jornalismo online, mas também os novos mecanismos de censura e o esvaziamento das redações.

Alice Vieira e Cesário Borga lembraram os inícios da sua carreira jornalística, tendo ambos passado pelo jornal “O Almonda”, periódico de Torres Novas. A relação do jornalismo com o público também foi salientada, com a questão da iliteracia mediática a ser apresentada como proposta para novo colóquio, desta vez reunindo o público jovem. “As questões foram interessantes. Como aliás vimos, é necessário trazer mais público jovem a estes colóquios”, avaliou António Borga.

Questionado sobre a descontextualização de um colóquio sobre jornalismo num espaço com poucos profissionais, o jornalista frisou que essa é a ideia. “É importante para descentralizar o debate sobre estas questões. E se nós falámos aqui sobre o divórcio entre a opinião pública e a opinião publicada, esse divórcio existe em grande medida porque a opinião publicada está longe das pessoas. É preciso aproximar os jornalistas da realidade, do país real, que se fala muito. O país real está nos concelhos, nos municípios, nas aldeias, nas cidades além de Lisboa e do Porto que parecem ser o centro do nosso mundo”, terminou.

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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