O XXIII Encontro da Rede de Estudos Ambientais dos Países de Língua Portuguesa (REALP) arrancou esta quarta-feira, dia 12 de outubro, no Instituto Politécnico de Tomar (IPT), para refletir e debater a sustentabilidade e consequentes políticas públicas nos países de língua portuguesa, bem como para discutir como é que esta rede “pode chegar a um outro patamar”, disse ao nosso jornal Luiz Oosterbeek, da comissão organizadora, que salientou igualmente as mais de 200 comunicações que vão ter lugar no decorrer do evento.
Foi perante um auditório com cerca de 50 pessoas que se realizou a conferência de abertura deste novo encontro promovido pela REALP, a qual é constituída, atualmente, por 14 universidades de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde, integrando também os Ministérios do Ambiente em Portugal e no Brasil, a Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal (FCT) e as congéneres brasileiras CAPES e CNPq.
João Coroado, presidente do IPT, enalteceu a “coincidência” da realização deste encontro na instituição de ensino tomarense com as ações que têm sido desenvolvidas pelo IPT no âmbito da sustentabilidade, relembrando que as três Unidades Orgânicas de Ensino (Escola Superior de Tecnologia de Tomar, Escola Superior de Gestão de Tomar e Escola Superior de Tecnologia de Abrantes) são consideradas Eco-Escolas, atribuição feita pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE) no reconhecimento do “trabalho de qualidade desenvolvido no âmbito da Educação Ambiental para a Sustentabilidade”.

Ao nosso jornal, João Coroado adiantou que para o Instituto Politécnico de Tomar “qualquer encontro internacional é muito relevante”, pelo que “ter uma rede internacional de língua portuguesa aqui na nossa instituição é muito relevante, quer dizer que nós estamos efetivamente integrados neste universo, e receber colegas de todos os países que falam a mesma língua, no fundo é promover o aparecimento, a criação, a produção de novos projetos à volta do que é o ambiente e à volta do que é a preservação da língua portuguesa que tanto carinhos nos deve e a todos os que estamos aqui neste encontro”, disse o presidente da instituição de ensino superior tomarense.
“Os encontros são sempre importantes porque, se por um lado é possível apresentar resultados daquilo que nós vamos fazendo, de toda a investigação que está associada a esta rede, por outro lado permite (…) promover novos projetos e permite, de alguma forma, alargar o âmbito da intervenção desta rede e, por outro lado, sustentar efetivamente a defesa do ambiente e da língua portuguesa”, afirmou ainda o docente universitário.
Também em declarações ao mediotejo.net, Luiz Oosterbeek, investigador, docente no IPT e membro da comissão organizadora do encontro, relembrou que os principais centros de investigação dos países lusófonos estão presentes na rede, destacando a importância do evento no que concerne a “reflexões de estratégias de sustentabilidade que depois se transformam em políticas públicas nos nossos países”, as quais “passam pelas pessoas que fazem parte desta rede”.
Segundo Oosterbeek, o encontro deste ano é provavelmente o maior que já houve em termos de participações, o qual conta com mais de 200 comunicações, destacando o organizador a presença “muito grande” de jovens investigadores, fator que surpreendeu agradavelmente a organização e que mostra um “grande dinamismo”.
“Normalmente estes encontros são de dois em dois anos, o ano passado foi em Cabo Verde, mas em Cabo Verde discutiu-se que estávamos num momento de crescimento qualitativo da rede também na sua influência para além da própria língua portuguesa (…) então este encontro além do seu lado científico, está também a discutir, em reuniões mais restritas, como é que podemos transformar aquilo que temos vindo a fazer, que é essencialmente o plano não só académico tradicional (nós temos uma intervenção muito forte em políticas públicas) ,mas como é que isto pode chegar a um outro patamar”, explicou Luiz Oosterbeek.

“Dito de outra maneira, nós temos pouca visibilidade ainda na sociedade. Quem trabalha nestas áreas sabe bem quem somos, quem não trabalha não sabe quem somos, e nós não temos muita visibilidade fora da lusofonia enquanto rede – não enquanto investigadores mas enquanto rede – e estamos a discutir as formas de crescer nesse domínio. O encontro de Tomar é sobre isso”, clarificou ainda o investigador.
Segundo referiu Oosterbeek, atualmente a REALP tem trabalhado a nível internacional na discussão de como é que se podem corrigir e melhorar alguns aspetos da implementação de políticas públicas em sustentabilidade que “manifestamente têm falhado”.
“Como é que podemos responder a isso? Que impacto é que tem na sustentabilidade e como é que podemos reorientar estratégias, em função de um mundo que já não puxa na direção da globalização como acontecia até há cerca de dois/três anos?” – são assim algumas das questões que vão estar presentes no decorrer do encontro.

Manuela Morais (Universidade de Évora), responsável pela conferência de abertura onde falou sobre esta rede de estudos ambientais de países de língua portuguesa e em que apresentou sobretudo os produtos que têm sido feitos com “marca real”, como os doutoramentos nos diferentes países de língua portuguesa, discorreu também sobre quais são as perspetivas mas também as fragilidades da rede, as quais, como adiantou ao nosso jornal, se prendem com a questão do financiamento.
“Tem a ver com a nossa projeção e com o sermos conhecidos tendo em conta os resultados todos que já temos, que são muitos. Agora precisamos realmente que nos conheçam até para nos poderem financiar, não a nós particularmente, obviamente, mas ao trabalho que pretendemos desenvolver com estes países de língua portuguesa no mundo inteiro”, afirmou a Manuela Morais.
Segundo a investigadora, a rede assenta em três grandes eixos: a ciência (em língua portuguesa mas com a capacidade de transferir a ciência para outros idiomas), o ensino e pedagogia, e a capacitação, esta última em especial no hemisfério sul, onde se tem que “capacitar as pessoas, os técnicos, em língua portuguesa, para os grandes desafios a nível global, que são imensos”
A REALP foi criada em 1997, por iniciativa dos governos de Portugal e do Brasil, com o objetivo global de promover a cooperação científica na área do ambiente e do desenvolvimento sustentável, tendo-se alargado progressivamente a todos os Países lusófonos.
Com 26 sessões académicas, o Encontro em Tomar, que vai decorrer no Campus do Politécnico, foi “motivado pela necessidade de reorganizar a rede, devido ao seu crescimento institucional e ao seu impacto científico e social”, refere ainda, o IPT, na mesma nota informativa.
Pode consultar o programa completo do XXIII Encontro da REALP AQUI.