Milhares de alunos ficaram sem aulas e foram vários aqueles que se juntaram aos docentes nesta luta pela valorização da profissão e por melhores condições de trabalho. O ponto de encontro aconteceu por volta das 08h30 desta quarta feira, junto à Escola Jacome Ratton, onde dezenas de docentes se juntaram em protesto, enveredando cartazes que demonstravam o desagrado com a sua situação profissional.
Este verdadeiro cordão humano, que juntou centenas de profissionais dos dois agrupamentos do concelho, uniu-se aos restantes docentes que já se encontravam junto ao portão da Escola Secundária Santa Maria do Olival. A manifestação percorreu as ruas da cidade durante a manhã desta quarta feira.
O secretário-geral do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL/Fenprof), José Feliciano Costa, anunciou adesões à greve superiores a 90% no distrito de Santarém, com Tomar a registar uma adesão de 99%, com apenas dois professores a trabalhar em todos os agrupamentos do concelho.
VÍDEO/REPORTAGEM:
“Governo, escuta, a escola está em luta”, “Respeito”, “Professores unidos jamais serão vencidos”, “Não paramos”, foram algumas das frases que se fizeram ouvir nesta marcha pela educação, “em defesa da escola pública e contra as propostas de alteração aos concursos”, que convergiu na Praça da República, em frente à Câmara Municipal de Tomar.
A presidente da autarquia, Anabela Freitas, saiu à rua e dirigiu-se à grande mancha de docentes que ocupou aquele que é um dos principais espaços públicos da cidade. “Sendo a educação um dos pilares basilares da construção de qualquer sociedade democrática é tempo de ouvir as vossas reivindicações”, começou por referir a autarca.
“Espero sinceramente que as negociações venham ao encontro daquilo que sejam os vossos anseios e reivindicações, no sentido de todos nós, porque a vossa luta é a nossa luta, enquanto comunidade escolar mais alargada, para que possamos construir uma sociedade muito melhor para os nossos filhos, para os nossos netos e para vocês também, para as vossas famílias. Força!”, acrescentou Anabela Freitas às centenas de professores que ocupavam a Praça da República, em Tomar.
Daniela Alves tem 17 anos e foi uma dos muitos alunos que se juntaram aos protestos desta manhã. A jovem que pensava seguir carreira na educação conta que mudou de ideias e explicou ao mediotejo.net o motivo da sua decisão. “Mudei de ideias porque, como sabemos, as condições que dão aos professores não são as melhores e é por isso que nós alunos também nos juntamos nesta luta. Também nos diz respeito a nós e principalmente, um dia aos nossos filhos e é por isso que nos temos que juntar e ser mais fortes e lutar por este sonho”.
“Neste momento eu já desisti da educação por essa parte, mas sei de muitos colegas que querem e não seja por isso, quero continuar a lutar porque é um direito de todos e a educação é um dos principais pilares na nossa sociedade. Então devia ser uma das principais prioridades e neste momento não tem sido”, aponta a aluna do Agrupamento de Escolas Templários.
Questionada sobre os motivos que a levaram hoje a sair à rua, Daniela refere que “temos ouvido falar diversas vezes que os alunos são prioridade, então se são prioridade nós também nos queremos fazer ouvir e queremos pedir direitos para os professores, que alguns de nós queremos ser”.
“Como é que nós podemos ter uma educação boa, como é que podemos ter uma condição boa nas escolas que são as nossas famílias, os professores são as nossas famílias muitas vezes, como é que conseguimos ter uma família boa se não dão condições a quem está por trás disso?”, questionou a aluna tomarense. “É irracional, nós temos que lutar por isto”, concluiu.
“É a exaustão, verificar que estamos desacreditados pela nossa tutela que é o mais importante, que estamos a ver que o futuro dos nossos alunos, que é para eles que trabalhamos, também está a ser hipotecado, porque é uma carreira que não tem motivação, não tem interesse”. São estas as palavras de Cristina Barros, docente no Agrupamento de Escolas Templários.
Em declarações ao mediotejo.net, a professora de português explica que “os professores estão envelhecidos, desmotivados e explorados. Temos muita burocracia, a nossa carreira não evolui e estamos condicionados a quotas quando o desempenho do professor na escola é manifestamente bom”.
“O nosso trabalho é para os alunos e verificamos que muitos deles, principalmente os meus alunos que gostariam de ter a minha profissão, começam a ter dúvidas, a escolher outras hipóteses, porque verificam aquilo que nos fazem a nós”, dá conta a professora.
As escolas têm de assegurar, a partir de hoje, serviços mínimos devido à greve por tempo indeterminado dos profissionais da educação. A docente deixou um apelo à compreensão dos encarregados de educação, relativamente à necessidade de continuarem a luta por melhores condições de trabalho e pela valorização da carreira.
“Os encarregados de educação e é um apelo que eu também lhes faço, no sentido de verificarem que a escola é uma segunda casa e que nós estamos aqui pelos seus educandos e é só para isso que nós trabalhamos. Portanto, tudo aquilo que fazemos é em prol de uma melhoria das condições, condições essas que nos estão a ser retiradas gradualmente e ao longo de décadas como já se verifica”, afirma.
A “exaustão e a falta de respeito” foram um dos vários motivos apontados por Cristina Barros e que a levaram a juntar-se aos protestos. “Foi isso que nos levou à rua, a mim principalmente, tenho feito uma luta muito silenciosa e agora decidi realmente manifestar-me publicamente e em voz alta”.
“A nossa luta não porá em risco qualquer aluno. E portanto, se querem tentar desvirtuar todo o nosso respeito, toda a nossa dedicação para com os alunos, não conseguem, de maneira nenhuma. Não está em causa o futuro dos alunos. Quem põe em causa o futuro dos alunos é a nossa tutela, não são os professores”, aponta a docente.
Os professores prometem continuar a luta até uma resposta satisfatória por parte da tutela. “Enquanto não houver uma melhoria de condições, enquanto não houver o respeito pela nossa carreira e manter uma certa igualdade entre o continente e as ilhas, com certeza não nos calamos”, conclui a professora da Escola Jacome Ratton.
O secretário-geral do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL/Fenprof), José Feliciano Costa, anunciou adesões à greve superiores a 90% no distrito de Santarém, com Tomar a registar uma adesão de 99%, com apenas dois professores a trabalhar em todos os agrupamentos do concelho.
“Os professores estão aqui a demonstrar claramente que querem respeito, querem uma carreira respeitada e querem, acima de tudo, uma negociação séria”, disse à Lusa.
Feliciano Costa afirmou que, na reunião com o Governo agendada para quinta-feira, os sindicatos vão exigir respeito pela lista graduada, pois não querem conselhos locais de diretores a colocar professores, e, “acima de tudo”, exigem a contagem do tempo de serviço.
A greve nacional de professores por distritos foi convocada por oito organizações sindicais – Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), Federação Nacional dos Professores (FENPROF), Pró-Ordem dos Professores – Associação Sindical/Federação Portuguesa dos Professores, Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (SEPLEU), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (SINAPE), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU).
A greve teve início em 03 de janeiro e decorreu até dia 31 de janeiro ao primeiro tempo de aulas de cada docente. No dia 16, ao longo de 18 dias úteis e terminando em 08 de fevereiro, arrancou ainda uma greve por distritos, não se cumprindo greve ao primeiro tempo no distrito em causa.
Hoje, a greve distrital decorreu em Santarém, tendo a concentração de professores e educadores no Largo do Seminário, na capital de distrito, reunido mais de um milhar de profissionais provenientes de vários concelhos, alguns dos quais depois de desfiles nas respetivas cidades. A greve distrital de professores continua e chega esta quinta-feira a Setúbal.

O secretário-geral do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL/Fenprof), José Feliciano Costa, anunciou adesões à greve superiores a 90% no distrito de Santarém, com Tomar a registar uma adesão de 99%, com apenas dois professores a trabalhar em todos os agrupamentos do concelho.
“Os professores estão aqui a demonstrar claramente que querem respeito, querem uma carreira respeitada e querem, acima de tudo, uma negociação séria”, disse.
Feliciano Costa afirmou que, na reunião com o Governo agendada para quinta-feira, os sindicatos vão exigir respeito pela lista graduada, pois não querem conselhos locais de diretores a colocar professores, e, “acima de tudo”, exigem a contagem do tempo de serviço.
C/Lusa