À semelhança do ano passado, a Feira de Santa Iria, que acontece no mês de outubro na cidade de Tomar, foi cancelada este ano, pelo menos nos moldes tradicionais. A proposta de cancelamento foi aprovada por unanimidade em reunião de executivo, ficando em cima da mesa a possibilidade de uma mostra de frutos secos e encontro de tasquinhas.
A proposta de cancelamento da edição deste ano da Feira de Santa Iria, em Tomar, foi apresentada em reunião do executivo municipal esta segunda-feira, 10 de maio, pelo vereador Hélder Henriques, responsável pelo pelouro das feiras e mercados. O vereador explicou que a urgência em tomar já uma decisão definitiva quanto à feira serve nomeadamente para “dar a possibilidade aos operadores de orientarem a sua atividade profissional noutros locais onde eventos desta natureza se possam fazer”.
“Como o planeamento é feito a médio prazo, não podemos estar a fazer um planeamento relativamente à contratação de serviços ou bens para determinadas atividades, temos de fazer na globalidade. Depois acontece que, não se concretizando, corremos o risco de termos de indemnizar os serviços que contratamos”, explanou.
Áudio | Vereador Hélder Henriques explica motivos para cancelamento da Feira de Santa Iria
Anualmente realizada na zona envolvente ao Mercado Municipal, a presidente da Câmara Municipal de Tomar, Anabela Freitas, acrescentou a necessidade de “tomar uma decisão, do ponto de vista formal, de cancelamento da feira”, admitindo que não existem condições para “fazer uma festa naquele espaço”.
Criada por Carta Real de Filipe III de Portugal, a 3 de outubro de 1626, a Feira de Santa Iria acontece anualmente em outubro, em homenagem à padroeira de Tomar, tendo como ponto alto a procissão em honra de Santa Iria. Numa tradição em que são expostas diversas bancas de produtos locais, exposições automóveis, tratores agrícolas, sem esquecer a gastronomia e os sabores da região presentes nas tasquinhas e as diversões existentes ao longo da zona que circunda o Mercado Municipal, a Feira de Santa Iria integra também a Feira das Passas.
Áudio | Anabela Freitas, presidente da CM Tomar, explica a necessidade de se tomar uma decisão formal sobre a feira
Do lado da oposição, as propostas para uma alternativa fizeram-se ouvir, com a vereadora Célia Bonet (PSD) a declarar que cancelar de novo a feira é “um bocadinho prematuro ainda”.
“Eu acho que podíamos manter a Feira de Santa Iria noutros moldes. Há muitas pessoas que quando veem que a Feira de Santa Iria foi cancelada [dizem coisas como] ‘estão a querer acabar com a feira, vão dar cabo da feira’. Isto é uma tradição de Tomar, penso que poderíamos manter a Feira de Santa Iria só que nos moldes em que vamos ser capazes de a fazer, na altura que lá chegarmos. Obviamente, não vai ser possível se calhar programar divertimentos – ou até talvez dê”, disse, aludindo ao decorrer do plano de vacinação contra a Covid-19 a bom ritmo.
“Se não for com a grandeza que costuma ser, na altura terá que se adaptar e encolher a feira. Agora cancelar outra vez, quando até a perspetiva do Governo considera que vamos começar a melhorar, acho que era preferível manter a feira nos moldes em que for possível”, acrescentou.
Já o vereador José Delgado (PSD) apresentou a possibilidade de fazer uma Feira de Santa Iria “adaptada à realidade mas virada para a economia local”. “Desde os frutos secos, as hortícolas e produtos tradicionais dos produtores do concelho, as associações com os seus petiscos e limitávamos isto a entidades do concelho. Penso que criava aqui alguma uniformidade do sistema e acima de tudo uma oportunidade aos tomarenses”, disse.
Mostra de frutos secos e encontro de tasquinhas em aberto
Apesar do cancelamento formal da Feira de Santa Iria nos moldes tradicionais, a presidente do Município de Tomar admite existirem condições para a realização da Feira das Passas, habitualmente inserida na de Santa Iria, com a possibilidade de “ser mais alargada para outro tipo de produtos”.
No mesmo sentido, na proposta de cancelamento da Feira de Santa Iria (que foi aprovada por unanimidade do executivo camarário), é explanada a possibilidade aberta da realização de uma “mostra de frutos secos e encontro de tasquinhas”, a decorrer no mês de outubro nas imediações do Mercado Municipal.
Esta proposta de realização de uma feira de frutos secos assenta nos pressupostos de que o respetivo planeamento e execução do evento são feitos a curto prazo, “podendo ser revertidos caso a situação pandémica assim o exija”, para além de permitir que os produtores rurais possam “escoar os seus produtos”, contribuindo-se assim para o “reforço da sua economia doméstica”.
Por outro lado, permite que as associações do concelho possam gerar receitas para continuarem a sua atividade, dá a possibilidade a tomarenses e visitantes de adquirirem “produtos genuínos como as passas de figo, ameixa, pêra, pêssego e uva, amêndoas, nozes e castanhas”, conclui.