Na plateia, ninguém segurava ou consultava telemóveis de última geração. Apenas um olhar firme na direção do palco onde seis jovens músicos davam vida aos seus instrumentos. E, claro, um aceno da cabeça ondulado pelo ritmo da música improvisada dos “Home”, a banda que marcou este sábado o regresso das noites de Jazz ao antigo refeitório das Fábricas Mendes Godinho, atualmente transformado no Complexo Cultural da Levada, em Tomar.
O espaço, de onde se destaca uma grande janela panorâmica para o Rio Nabão (fechada à noite), foi transformado numa sala de espetáculos com um pequeno bar à disposição do público. O jogo de luzes confere as condições ideais para um concerto que se pretende intimista.

A iniciativa, organizada pela autarquia, levou cerca de cem pessoas a sair de suas casas na fria e chuvosa noite de sábado, 28 de janeiro. Para João Barradas, líder do grupo vencedor do Prémio Jovens Músicos 2016, é isso que é mais gratificante. “São pessoas que fizeram um esforço e saíram do conforto de suas casas para nos virem ver atuar e descobrir a nossa música”, disse ao mediotejo.net no intervalo do concerto. Ao longo de duas horas, os Home tocaram originais, sendo que algumas músicas se revelaram como uma explosão de sentidos tal a intensidade que atingiram graças à fusão dos instrumentos.

Luís Silva e João Évora, amigos, foram dos primeiros a chegar. “Sou músico profissional, trompetista e venho porque gosto de vários tipos de jazz. Há grupos notáveis e há sempre curiosidade de ouvir o que de novo se está a criar”, refere Luís Silva. Para João Évora, este tipo de iniciativas deviam repetir-se mais vezes.
Na primeira fila, José Silva mora na zona de Tomar e não quis perder esta oportunidade. “Oiço música diariamente e o jazz é uma delas. Quando há concertos de jazz na zona, por exemplo no Sardoal, venho sempre”, refere, acrescentando que não gosta da música convencional. “Jazz é uma música que se sente, que fala com o nosso coração. É muito profundo”, atesta.

João Barradas, que além de compor também toca acordeão, define o estilo da banda como “música improvisada com uma forte influência da imposição jazzística, da música minimal e da música com passos compostos”. Foi a primeira vez que atuaram em Tomar, enquanto Home, sendo este um dos primeiros concertos da banda que vai percorrer os Festivais de Jazz de norte a sul do país, tendo ainda poucos meses de constituição. “O espaço é lindíssimo. Quando chegámos tínhamos esta grande janela aberta e achamos muito bonito. Eu, para já, sou fã de Tomar e depois porque o espaço é acolhedor para ouvir este tipo de música”, refere.


Dando sequência a uma ideia que já percorreu 2016, a Câmara de Tomar pretende organizar um concerto de jazz por mês. O próximo está marcado para dia 18 de fevereiro com o André Fernandes Quarteto, seguindo-se Carlos Barreto Lokomotiv (25 de março) e Unity Band (17 maio).
Os “Home” são constituídos por João Barradas (Acordeão), Mané Fernandes (Guitarra), Eduardo Cardinho (Vibrafone), Gonçalo Neto (Guitarra), Ricardo Marques (Contrabaixo) e Guilherme Melo (Bateria). O nome significa “Lar” uma vez que os elementos da banda provém de lugares distintos tais como Porto, Lisboa ou Algarve. Na noite de sábado, fizeram com que os espectadores também se sentissem em casa.