O último troço dos Caminhos do Ferro foi percorrido este domingo, dia 22, na primeira noite primaveril do ano. A caminhada final do programa de abril fez-se à vontade pois sobrou espaço na Praça da República e quem apareceu acabou por se cruzar com os protagonistas das músicas marcadas pelo ritmo folk do grupo fundado por Paulo Marinho. Das freiras de Santa Clara ao Diabo, todos caminharam pelo Médio Tejo através da música tradicional portuguesa.
Os Caminhos do Ferro chegaram ao fim este domingo depois de seis dias, distribuídos por dois fins-de-semana prolongados, em que artistas de diversas áreas percorreram a região do Médio Tejo pela rede de itinerância cultural “Caminhos”. O programa do mês de abril ligou os concelhos de Abrantes, Constância, Entroncamento, Mação, Tomar e Vila Nova da Barquinha e o último momento ficou reservado para o concerto dos Gaiteiros de Lisboa na Praça da República, em Tomar.

Não houve enchente, mas os caminhantes apareceram para assistir a mais um dos espetáculos gratuitos que o projeto da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo proporciona nos três programas anuais. Nos Caminhos do Ferro, o último foi o do grupo fundado em 1991 por Paulo Marinho, que se dedica à gaita-de-fole há quase quatro décadas como músico, investigador, docente, compositor e construtor.
Carlos Guerreiro, Sebastião Antunes, Carlos Ferreira, Paulo Charneca e Miguel Quitério juntaram-se a ele no palco, por onde passaram instrumentos de todos os géneros. Dos mais tradicionais aos mais clássicos deram música às vozes que entoaram temas como “Chamateia”, junção das danças açorianas, a “Chama Rita” e a “Sapateia”, ou “Romance Da Lhoba / Romance da Loba”, interpretado em mirandês.

As crianças foram desafiadas com a “velha bufelha, relha saracutinbrelha casada com um velho relho, velho saracuntibrelho” na mesma noite em que as freiras de Santa Clara percorreram o troço final do evento cultural associado às vias férreas da região. As “irmãs” tiveram companhia de Judas com sarampo e dos “passarinhos, pássaros e passarões” que desfilaram em parada depois de andarem à bicada para ver quem ficava no poleiro.
Quase hora e meia de concerto decorrida surgiu o anúncio do tema “Roncos do Diabo” e o Diabo esteve mesmo para ser o último a percorrer os Caminhos do Ferro. Não choca pois o ferro precisa do fogo para se transformar em carril e fogo é o que não falta lá em baixo. No entanto, as 11 badaladas da Igreja de São João Baptista deixaram o aviso e os últimos caminhantes acabaram por ser o “pai” e a “mãe” do encore com a mensagem “toca gaiteiro que nós dançaremos”. Não fosse o Diabo tecê-las…

Os caminhos voltam a ser ligados pela água no programa de julho, entre os dias 13 e 15 e 19 e 22. Não a benta, mas a dos rios para inspirar os artistas e o público dos Caminhos da Água nos concelhos de Abrantes, Alcanena, Ferreira do Zêzere, Mação, Sertã, Torres Novas e Vila de Rei.
Em outubro, chega a pedra que dá forma às vias rodoviárias e os Caminhos da Pedra percorrem-se nos dias 12 a 14 e 18 a 21 pelos concelhos de Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha.
Partilhamos alguns momentos da atuação dos Gaiteiros de Lisboa no encerramento dos Caminhos do Ferro 2018: