Fez-se luz na cidade templária. Não luz estática para iluminar a noite chuvosa desta quinta-feira, dia 7, mas outra que gera movimento no Complexo Cultural da Levada, na Igreja de São João Baptista e no Claustro de D. João III no Convento de Cristo até ao próximo domingo. Uma luz que conta histórias da História local e nacional através de espetáculos multimédia e que nos levou a mergulhar no passado enquanto percorremos a rota do Flux Tomar.
A música com essência vintage começa a fazer-se ouvir enquanto nos aproximamos do complexo outrora industrial e agora cultural. A expetativa cresce e a passada acelera para descobrirmos o que nos reserva o primeiro dos três espetáculos multimédia produzidos pelo atelier “Ocubo” na segunda edição do Flux Tomar, iniciativa que junta a cidade templária, Alcobaça, Batalha e Coimbra na rota de Lugares Património Mundial da Região Centro.
Chegados à rua João Carlos Everard sente-se o ritmo vivido por quem assegurava o ganha pão a trabalhar no conjunto de edifícios próximos da Ponte Velha, desde os tempos d’El Rei aos da produção industrial dos séculos XIX e XX. Sente-se e vê-se pois as paredes desaparecem e conseguimos acompanhar as tarefas executadas no interior dos lagares, da carpintaria, da serralharia, da fundição e da central elétrica.

Seguimos pela antiga Corredoura, trajeto que muitos operários da Levada também terão feito, e a história contada pela luz, vídeo e som poucos metros depois é outra. O ritmo torna-se mais suave e passamos da ação à contemplação quando chegamos à Igreja de São João Baptista, na Praça da República. No entanto, quem por ali abranda o passo pode escolher se quer limitar-se a assistir.
O espetáculo criado para o templo religioso datado do século quinze e reconstruido no século seguinte é interativo. Os azulejos do interior inspiram as imagens projetadas na fachada que engloba o portal manuelino e a torre sineira e misturam-se com os movimentos do público em padrões caleidoscópicos. Tudo serve para criá-los, das placas coloridas disponibilizadas ao simples rodopio do chapéu-de-chuva, adereço indispensável nesta noite.

Continuamos na rota do Flux Tomar e a subida ao Convento de Cristo representa uma descida no mergulho do tempo até ao século XII. Somos acompanhados pela luz vermelha desde a entrada e percebemos que, afinal, não fomos tão fundo quanto pensávamos. Na verdade, saímos da cidade templária no instante em que entrámos no Claustro de D. João III e o ambiente mítico funde-se com a época dos Descobrimentos.
Cada cenografia visual transporta-nos até um cenário diferente e viajamos, sem sair do lugar, por África, Índia, Brasil, China e Japão quando Portugal era sinónimo de império. A música envolve-nos e adensa-se até se dar o apagão final, mas isso não implica que o espetáculo tenha terminado pois, à semelhança dos que assistimos no centro da cidade, as projeções são curtas e sucedem-se entre as 21h30 e a meia-noite.

Uma vez atingido o ponto mais profundo das histórias sobre a História local e nacional que integram a rota do Flux Tomar, chegou o momento de nadar até ao topo. Saímos do monumento Património da Humanidade e regressamos ao presente que, nos primeiros minutos, parece demasiado estático e silencioso. O boom de cor e luz terminou nesta noite de reflexos na água do rio Nabão e do chão. Ficou a chuva e a curiosidade sobre o que a terceira edição tem reservado para o futuro.