Silêncio. O Rei e a rainha acabam de entrar. Altivos, desfilam pelo centro da sala. Ouvem-se aplausos. Que comece a boda. Foi assim o início do Jantar Real, que animou o emblemático espaço do Refeitório dos Frades no Convento de Cristo, em Tomar, na noite desta sexta-feira, 6 de julho. Uma iniciativa no âmbito da “Festa Templária” onde, além dos sabores medievais, não faltou o bobo, os saltimbancos, as prostitutas, a dança e a música. De fora ficaram os talheres e os copos, com os comensais, trajados à época, a terem que saborear a comida apenas com a ajuda de uma colher de pau… e muito boa disposição.
Queijos, chouriço e empadas de carne para entradas. Sopa de abóbora, javali com favas, couves à D. Prior. Cerejas, ameixas e outras frutas de caroço para sobremesa, a par da sericaia e da tarde de maçã. Em apenas dois dias, esgotaram-se as 192 inscrições disponíveis, encontrando-se ainda muitos estrangeiros no evento. A comida chegou ali em malas térmicas e é empratada na cozinha, antes de ser levada até às mesas onde o ambiente é descontraído.

Ana Duarte veio de Lisboa. É a primeira vez que participa no Jantar Real e chegou com um grupo de amigos, atraída pelas características do evento. “Pelo convívio, pela comida, pela Festa que nos faz andar para trás no tempo”, explicou, desconhecendo os sabores que se preparava para provar. Mais divertidos, um casal de ingleses dizia estar a adorar tudo. “Achamos o evento fantástico. Vamos voltar, de certeza. É interessante estarem a honrar a herança templária com este evento.”
Nascimento Costa, na organização desde a primeira festa templária, explicou-nos que a ideia deste jantar real surgiu para complementar a recriação dos tempos medievais. A preparação do mesmo engloba um staff de 20 pessoas, atendendo-se ao mais ínfimo pormenor. As aprendizagens surgem, por exemplo, através da participação de workshops de cozinha medieval que foram ministrados para elementos da organização.

“A sopa não leva batata mas sim abóbora. Depois temos javali, que abundava na altura, e as couves à D. Prior, que leva carne entre outras especiarias. Este é um prato que se serve em muitos restaurantes da região. Para beber temos limonada, que se começou a fazer porque na altura a água nem sempre tinha o melhor sabor, e o limão disfarçava esse sabor”, explica Nascimento Costa, que integra a associação Comenda Real.
Sob as mesas longitudinais, foi colocada loiça de barro e apenas uma colher de pau. O guardanapo, claro, é de pano rasgado. Só os telemóveis são permitidos e acabam por fazer parte da indumentária para registar os momentos, numa sala onde a acústica é fenomenal.

Pelas 20 horas, os convidados começaram a aparecer, vestidos a rigor. A animação do jantar, pontuada por momentos cómicos, esteve a cargo da “Conteúdos Mágicos”, com a intervenção destes atores a emprestar a magia à recriação. Para quem organiza este evento, o mais gratificante é proporcionar um momento de convívio num jantar diferente.
“A maioria das pessoas que participa vem com o desejo de viver algo completamente diferente. E o que é certo é que este é um jantar diferente do habitual, tanto pelo ambiente, como pela comida e até pelo desafio de se terem que desenrascar apenas com uma colher de pau, tal como na altura”, atestou, acrescentando que ficam sempre muito agradados.

Paulo Leite, que trabalha para a Conteúdos Mágicos, explicou ao mediotejo.net que toda a encenação foi preparada especificamente para este jantar real, com o alinhamento a ser pensado ao pormenor. O rei e a rainha também são atores contratados e, apesar de não falarem muito, são uma peça fundamental. “Temos um guião com textos e o alinhamento. Temos contadores de histórias, um grupo de meninas, música dança e o bobo. Tudo o que acontecia nas ceias medievais”, relata.
Após o jantar, os convivas dirigiram-se ao exterior, até às muralhas do castelo, onde assistiram à recriação do cerco feito pelos mouros, a 13 de julho de 1190. Uma recriação que contou, entre mouros e templários, com cerca de 70 atores e figurantes, muitos dos quais são nabantinos.
Uma história que termina com a vitória dos cristãos, “com a valentia de D. Gualdim e a força de Deus, para bem de Tomar e de Portugal”.