O Círio de Nossa Senhora da Piedade e a Festa dos Tabuleiros são candidatos às “7 Maravilhas da Cultura Popular”, nas categorias de Procissões e Romarias e Festas e Feiras, respetivamente. Estes dois patrimónios tomarenses incluem-se na lista de 32 candidatos da região do Médio Tejo a esta edição das 7 Maravilhas.
Quanto ao Círio de N. Sra. da Piedade, trata de uma tradição religiosa que se realiza no primeiro fim de semana de setembro em Tomar, levando fiéis a percorrerem alguns quilómetros da cidade até à Ermida de Nossa Sra. da Piedade, no alto de um monte com vista panorâmica para toda a cidade e para o Convento de Cristo.
A Ermida é local de culto que é realizada uma missa campal para centenas de fiéis, que formam procissão com charretes, burros, crianças vestidas de anjos, mulheres com fogaças à cabeça, sendo o círio (uma vela de grandes proporções) entregue pelo pároco local, a uma jovem que o transportará a cavalo. Também o andor é carregado em ombros, sendo costume o acompanhamento da procissão por um grupo musical. As fogaças são leiloadas depois da missa, e os lucros revertem para obras de recuperação da capela situada na Ermida.

Antigamente, a procissão do Círio subia os cerca de 300 degraus das Escadinhas de Nossa Senhora da Piedade, mas devido à participação de animais mudou-se o itinerário desde há alguns anos.
Na obra ‘Tradições Religiosas entre o Tejo e o Sado’, o historiador Luís Marques refere que o Círio é uma confraria popular que anualmente se desloca a um santuário (por vezes afastado) em cumprimento de uma «promessa antiga», coletiva, que teria feito a povoação nos tempos idos (míticos).
A Festa dos Tabuleiros, festa-maior de Tomar e do povo tomarense, é uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal e que se realiza de quatro em quatro anos por decisão da população, que elege também o mordomo da festa. Em 2019, Maria João Morais foi a primeira mulher a ser eleita mordomo da Festa dos Tabuleiros.
Também no ano passado se iniciaram os trabalhos de investigação para sustentação da candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Nacional e posteriormente a Património Imaterial da UNESCO.
A primeira saída da festa acontece no domingo de Páscoa, com a Procissão das Coroas e Pendões do Espírito Santo. Segue-se o Cortejo dos Rapazes, passando o testemunho aos mais novos para que a tradição não se perca, geração a geração.

O trabalho de confeção das flores para os tabuleiros e para a ornamentação das ruas decorre ao longo de vários meses nas 11 freguesias do concelho, abrindo-se as Ruas Ornamentadas até ao encerramento da festa, quando é feita a distribuição do Bodo ou Pêza.
Segue-se na programação o Cortejo do Mordomo e no dia seguinte os Cortejos Parciais dos Tabuleiros. Dia em que se disputam as finais dos jogos populares e se expõem os tabuleiros na Mata dos Sete Montes.
O momento alto é o Grande Cortejo e bênção dos tabuleiros na Praça da República, onde se perfilam os pares a preceito e onde se assiste ao momento de tirar o fôlego: o erguer dos tabuleiros, com o sino da Igreja de São João Baptista a tocar, todos ao mesmo tempo.
Os tabuleiros da festa de Tomar, únicos com esta forma nas tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país, têm na base um cesto de verga que é enfeitado com um pano bordado ou em renda.
No cesto são espetadas cinco ou seis canas, dependendo da altura da rapariga que o vai transportar, que levam cinco ou seis pães (no total têm de ser obrigatoriamente 30), numa estrutura que é enfeitada com coloridas flores (papoilas e espigas são obrigatórias) e encimada com uma coroa que leva uma pomba branca ou a cruz da Ordem de Cristo.
A rapariga traja de branco com uma faixa da cor dominante do tabuleiro que transporta à cabeça (com cerca de 10/11 quilogramas), cor que o rapaz usa também na gravata e na cinta que enfeitam o fato de camisa branca e calça preta.

Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu caráter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel.
Dada a sua complexidade, a festa realiza-se de quatro em quatro anos, tendo havido apenas uma edição em que o povo decidiu adiar a sua realização por um ano, por coincidir com a Expo 98, evento no qual participou com um cortejo a convite do então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Refira-se que a região do Médio Tejo tem 32 patrimónios nomeados e candidatos às 7 Maravilhas da Cultura Popular entre o total de 471 nomeados de norte a sul do país e das ilhas. Com usos, costumes e tradições candidatos a esta edição do concurso estão representados os concelhos de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Sardoal, Sertã, Tomar, Torres Novas e Vila de Rei. Nos concelhos limítrofes também Chamusca e Ponte de Sor apresentaram candidaturas. A 7 de junho serão apresentados num programa em direto, na RTP1, os sete patrimónios eleitos de cada região, no total de 140 finalistas regionais, que irão participar nas seguintes eliminatórias.