Nos últimos dias são muitos os assuntos que nos interpelam directamente. Dizem respeito à forma como vemos o Mundo, como intervimos ou como olhamos para o lado, como questionamos as nossas práticas, como nos solidarizamos, que escolhas fazemos.
Na Palestina, lá longe, continua a luta de um povo valente que resiste e luta por cada palmo de terra que lhe é roubado.
Em vários países as mulheres levantam-se e denunciam o assédio sexual, moral e laboral. E em Portugal também. Agitam-se as águas, há muitas incomodidades, mas como afirmou Catarina Furtado num programa de televisão, elas, as mulheres “apenas” querem construir um mundo diferente, livre e em igualdade.
E aí está também a grande questão mundial da actualidade – o levantamento das patentes das vacinas, de modo a que seja possível vencer esta pandemia em todo o lado. Biden, nos Estados Unidos juntou-se a este clamor, Guterres apoiou, o Papa Francisco saudou. Por cá, neste cantinho à beira-mar plantado, soçobrámos e o Governo, pela voz de Santos Silva refugia-se no “não é o momento”. Nunca é quando é preciso estar na linha da frente, só lá vamos atrás da França e da Alemanha.
Realizou-se a Cimeira Social da União Europeia e …. de concreto …. “uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma”. Claro, muitas intenções, proclamações. Mas não estamos fartos e fartas disto?
Não vou falar das audições na comissão de inquérito parlamentar sobre o Novo Banco, elas falam por si.
Mas não posso deixar de falar sobre o que se passa em Odemira. Há momentos em que parece que o país acordou e viu “temos trabalho escravo”, há momentos em que parece que o país acordou e só vemos pessoas escandalizadas porque casas pré-fabricadas sem ninguém, foram temporariamente requisitadas para atender a uma calamidade de saúde.
Se há situação em que não podemos olhar para o lado é precisamente a situação em que os migrantes se encontram e são explorados. Explorados no trabalho, na habitação, na saúde, como seres humanos. Há muito que há quem denuncie esta situação, mas os lucros dos mirtilos e framboesas exportados para o Norte da Europa têm falado mais alto.
É uma vergonha nacional. Só há uma saída: respeito pelos direitos e dignidade humana e, de uma vez por todas, vamos lá debater este modelo de agricultura intensiva com todas as suas consequências – humanas e ambientais. Há quem o queira para as terras ribatejanas.