A tela “Lamentação sobre Cristo morto”, de Josefa de Óbidos, de cerca de 1670, encontra-se a ser restaurada nos laboratórios do Instituto Politécnico de Tomar (IPT). De acordo com declarações de António João Cruz, responsável pelo Laboratório de Conservação e Restauro do IPT ao mediotejo.net a tela está a ser tratada no âmbito do Mestrado de uma aluna.
JOSEFA2A oportunidade, explica, surgiu quando o IPT foi contactado pela Câmara Municipal de Óbidos, no sentido de se vir a estabelecer um protocolo entre esta autarquia e o IPT.

“Trata-se de uma peça muito relevante pela sua qualidade, porém nunca apresentada em qualquer exposição realizada sobre esta prolífera pintora”, afirma a autarquia, realçando que a iniciativa de restauro se insere na parceria entre a edilidade, o Instituto Politécnico de Tomar e a paróquia de Santa Maria de Óbidos.

A tela, atualmente em restauro, foi pintada por Josefa aos 40 anos, encontrava-se numa capela de A-da-Gorda, nos arredores de Óbidos, e “revela o piedoso ambiente pós Concílio de Trento (1545-1563) expresso num tema de si mesmo doloroso, ligado ao ciclo da Paixão de Cristo”, segundo fonte da autarquia.

Segundo a câmara obidense, “o realismo da ‘Lamentação’ apresenta um exímio estudo de luz, complementando a sua tradicional paleta, é uma espécie de antítese do que geralmente conhecemos em Josefa, próxima da gramática de uma outra pintura, com um tratamento temático violento, em que representa ’Cristo Flagelado’, mostrando as costas ensanguentadas”.

“Conhecida pelos seus piedosos ‘Meninos Jesus’, pelas suas generosas mesas de doces e pelas ‘Naturezas Mortas’, a sua obra sacra destinada às igrejas e conventos não deve ser, contudo, desconsiderada”, afirma a autarquia, acrescentando que, “do ponto de vista formal, tem-se considerado que Josefa tinha sérias dificuldades de representação da anatomia humana, apresentando rostos ‘abonecados’, no entanto, a presente obra poderá lançar uma nova luz sobre esta questão, já que nela se pinta o corpo sem vida, parcialmente desnudo, de um homem removido da cruz e velado por três personagens lacrimosas: Madalena, Maria e João Evangelista, este mesmo também figurado como a vera efígie de um jovem à moda do século XVII, com incipiente barba e bigode”.

Josefa de Ayala (1630-1684), nascida em Sevilha, seguiu os passos do seu pai, Guilherme Baltazar Gomes, “tornando-se herdeira da oficina de pintura de Óbidos e a sua protagonista”.

Recentemente, realça a autarquia estremenha, “a obra desta artista e a sua personalidade têm vindo a ser objeto de estudo e de interesse pela comunidade científica e museológica nacional e estrangeira, permitindo reconhecer o labor de Josefa como um valor relevante no panorama da afirmação do Barroco em Portugal”.

A câmara obidense afirma que “este é o início de um processo de conservação e restauro do património artístico de Óbidos” que pretende “levar a cabo nos próximos tempos”.

O restauro desta tela de Josefa d’Óbidos faz parte do mestrado de Verónica Ribeiro, sob a coordenação de Carla Rego, Teresa Desterro e Sérgio Gorjão.

O Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, teve patente, de maio ao setembro deste ano, a exposição “Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português”, que contou com mais de 25 mil visitantes.

*C/LUSA

Atualizada a 11 de dezembro 2015

 

 

Aos 12 anos já queria ser jornalista e todo o seu percurso académico foi percorrido com esse objetivo no horizonte. Licenciada em Jornalismo, exerce desde 2005, sempre no jornalismo de proximidade. Mãe de uma menina, assume que tem nas viagens a sua grande paixão. Gosta de aventura e de superar um bom desafio. Em maio de 2018, lançou o seu primeiro livro de ficção intitulado "Singularidades de uma mulher de 40", que marca a sua estreia na escrita literária, sob a chancela da Origami Livros.

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