Os gritos de protesto começaram a ouvir-se em Espanha e foram-se repetindo, como um eco, ao longo de todo o percurso do rio Tejo, até este se perder no mar, em Lisboa. Aos milhares que se mobilizaram em Espanha, juntaram-se várias centenas de pessoas na tarde de sábado, 26 de setembro, em 14 localidades ribeirinhas em Portugal, pela defesa de um “rio vivo” e contra a poluição das suas águas.

“Em todo o país ter-se-ão juntado perto de um milhar de cidadãos, que vieram para as praias fluviais e parques ribeirinhos das suas terras e mostraram a sua indignação pelos baixos caudais, pelos transvases e pelos recorrentes casos de poluição do Tejo dos seus afluentes”, disse o porta-voz do proTEJO – movimento pelo Tejo, entidade que organizou a iniciativa em solo nacional, no final da iniciativa, que classificou como “de sucesso”.

“Esta iniciativa foi um sucesso por reunir tantas localidades em defesa do Tejo e por ter sensibilizado milhares de pessoas pelas redes sociais para os problemas de poluição que têm vindo a acentuar-se nos últimos tempos”, defendeu Paulo Constantino.

Em Vila Nova da Barquinha, onde estiveram concentradas cerca de 50 pessoas, a manifestação envolveu diversas atividades náuticas, no âmbito da defesa de um rio com caudais mínimos e ecologicamente sustentáveis, e contou com várias intervenções dos presentes.

Manuela Poitout, 75 anos, deslocou-se da vizinha cidade do Entroncamento “pela preocupação ambiental generalizada, num ato de cidadania que deve tocar a todos os cidadãos”.

As principais preocupações desta professora aposentada “centram-se na poluição, nos transvases e na falta de caudais sustentáveis”.

Em Tramagal, Abrantes, onde se juntaram cerca de 80 pessoas, António Falcão de Carvalho, empresário agrícola, destacou a impossibilidade da empresa onde presta consultadoria poder trabalhar devido à poluição das águas do rio.

“Tudo o que vive do rio está limitado e em condições muito deficientes em termos do que se entende como um habitat saudável. Trabalho numa empresa que funciona em modo de produção biológica e que pura e simplesmente não pode usar esta água pelo nível de contaminação, o que impede que a atividade se desenvolva.”

Trinta quilómetros a montante, em Ortiga, Mação, Arlindo Marques foi um dos cerca de 50 manifestantes presentes na iniciativa, tendo lembrado à Lusa que o rio era, nos seus tempos de menino, o local onde brincava, pescava e se banhava.

“Hoje o rio está doente, com muita poluição, e, enquanto cidadão, estou revoltadíssimo com isto porque o rio é de todos nós e alguém o está a poluir. É preciso alertar e exigir a quem de direito que não deixe o Tejo morrer”, defendeu.

Abrantes: Manifestação contra a poluição no rio Tejo marcada pela fraca adesão

Pouco mais de uma dezena de participantes esteve presente na margem sul do Aquapolis, em Rossio ao Sul do Tejo, no concelho de Abrantes, para a manifestação nacional de protesto contra a poluição do Tejo.

Manuel Valamatos, vereador responsável pela área do ambiente na Câmara Municipal de Abrantes, marcou presença na manifestação e salientou que a autarquia tem «ao longo destes últimos anos vindo a fazer o seu trabalho junto das entidades competentes, nomeadamente do Ministério do Ambiente, e das estruturas regionais e locais, alertando para a degradação que o rio Tejo tem apresentado».

O responsável salientou ainda o investimento que o país fez nos últimos anos nas zonas ribeirinhas com os programas Polis e que, neste momento, com os baixos caudais e a poluição «todo o investimento que foi feito nos últimos anos está em causa».

«Estamos muito satisfeitos com este movimento cívico e aquilo que gostávamos de ver é que estas manifestações tivessem o peso bastante para passar a ideia de que alguém tem de rapidamente tomar conta da qualidade da água do rio e a estrutura toda da biodiversidade», salientou.

Francisco Marques, 64 anos, de Rio de Moinhos, no concelho de Abrantes, foi um dos participantes, clamando a necessidade de uma intervenção rápida no rio.

Como pescador, recorda que a situação do Tejo já esteve pior anteriormente: «Há 20 ou 30 anos não se podia chegar ao pé do rio, a água cheirava mal, todos os esgotos eram para ali descarregados e, nessa altura perderam-se muitas espécies de peixes”, nomeadamente as ostras de água doce, o berbigão e camarão do rio.

Defende a urgente chegada a acordo com as autoridades espanholas para a regularização dos caudais do Tejo, bem como o investimento em sistemas de limpeza e ETAR´s para tratamento das águas. E, claro, o aumento das multas às entidades poluidoras.

Residente na aldeia ribeirinha de Ortiga, em Mação, Sebastião Matos, um dos apoiantes da iniciativa, criou o “Observatório Ambiental” do rio Tejo nas redes sociais, onde conta já com mais de 2 mil adesões. A criação deste grupo de apoio ao Tejo, explica, “advém da revolta por assistir a tantas descargas poluentes no rio e da necessidade de dizer às empresas que não podem transformar um recurso natural num esgoto a céu aberto”.

Autarquias defenderam de forma unânime “a pertinência” da iniciativa

“Todos somos poucos para defender o Tejo e encontrar soluções para os vários problemas que enfrenta. Está na hora de falar do rio Tejo por bons motivos e não sempre por casos de poluição ou má gestão dos seus caudais”, defendeu o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela (PSD).

Também a autarca de Constância, Júlia Amorim (CDU) esteve presente na iniciativa, tendo destacado a sua “pertinência, pela temática que envolve” e as “preocupações comuns em termos de poluição, gestão dos caudais, transvases e as questões ambientais e ecológicas”.

O autarca de Vila Nova da Barquinha, Fernando Freire (PS), afirmou “não compreender como é que, por razões economicistas, se esquece uma questão que é de direito europeu, com metas definidas para a questão ambiental, como os cursos de água e a sua sustentabilidade, a qualidade e a própria alimentação do homem”.

O autarca disse “acreditar” que, “com ponderação e bom senso, é possível ter os caudais diários razoáveis e regulares necessários a uma boa gestão do Tejo, conjugando o interesse económico com o ambiental”.

“Preocupações são legítimas e demonstram sensibilidade ambiental” – Secretário de Estado

Em declarações à agência Lusa, o secretário de Estado do Ambiente disse que as preocupações das populações “são legítimas e demonstram sensibilidade ambiental”.

Quanto às questões da poluição e fiscalização, “as duas principais preocupações”, observou Paulo Lemos, “o trabalho que se está a desenvolver hoje em Portugal é melhor que noutros anos”, tendo destacado o reforço das ações inspetivas e da articulação das inspeções com a participação da GNR/SEPNA, Agência Portuguesa do Ambiente (APA), e Inspeção Geral do Ambiente.

“Este ano já foram realizadas mais de 1600 ações de fiscalização, das quais resultaram autos de notícia e notificações às empresas poluidoras, e não hesitaremos em tomar medidas mais drásticas se a situação o exigir”, afirmou.

“Estamos a trabalhar como nunca se trabalhou e a atuação das populações também é importante porque a sua indignação, a par da atuação do Estado, irá ajudar a fazer pressão junto das empresas prevaricadoras para evoluírem na sua postura ambiental”, defendeu o governante.

Locais de concentração onde decorreram as manifestações em defesa do Tejo:

PORTUGAL:

Nisa: Barragem de Cedilho;

Vila Velha de Rodão: Cais de Vila Velha de Ródão;

Gavião: Praia Fluvial do Alamal;

Mação: Praia Fluvial da Ortiga;

Abrantes: Aquapolis – Sul (Rossio ao Sul do Tejo);

Tramagal: Porto da Barca;

Constância: Praia Fluvial de Constância;

Vila Nova da Barquinha: Cais Fluvial da Hidráulica;

Chamusca: Porto das Mulheres;

Alpiarça: Praia Fluvial do Patacão;

Santarém (rio Tejo): Praia Fluvial de Santarém;

Santarém (rio Maior): Ponte de Asseca / Vale de Santarém;

Azambuja: Praia Fluvial da Casa Branca;

Lisboa: Cais das Colunas no Terreiro do Paço.

 

ESPANHA:

Puente Viejo, Candeleja (Castilla y León);

Plaza del pan, Talavera de la Reina (Castilla-La Mancha);

Puente de Hierro, Talavera de la Reina (Castilla-La Mancha);

Plaza de España, Carpio del Tajo (Toledo, Castilla-La Mancha);

Plaza Santiago Ruseñol, Aranjuez (Madrid);

Sacedón (Guadalajara);

Complexo Valdecañas, El Gordo (Extremadura);

Aparcamiento Azarquiel, Toledo (Castilla-La Mancha).

Puente de Alcántara

Plaza de Zocodover

*C/LUSA

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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