De todos os pontos do país, milhares de paraquedistas rumaram a Tancos, à Casa-Mãe que os viu nascer militarmente, para “matar saudade”, reencontrar velhos amigos, camaradas, reviver memórias e trocar histórias de vida.
Um mar de carros, autocarros e motas rumou a Tancos com militares no ativo e antigos combatentes com as tradicionais boinas verdes, família e amigos para celebrar o 67º aniversário do Regimento Paraquedista, com filas intermináveis de veículos que iam chegando ao longo do dia, embora muito deles tivessem já estacionado de véspera, vindos dos mais diversos pontos do país, numa grande festa de família.

Eduardo Mendes Ferrão, Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), presidiu à cerimónia oficial, ressalvando a importância das forças que estiveram presentes em missões internacionais nos últimos anos.
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O General CEME disse que conta com as associações de paraquedistas para, no futuro, ajudarem a recrutar novos militares, e deu ainda a conhecer alguns investimentos que estão a ser feitos no Regimento, nomeadamente a nível de material, que elevará as unidades para um novo patamar tecnológico.
Depois da cerimónia militar, onde foram condecorados alguns paraquedistas e onde desfilaram os batalhões, foram ainda executados saltos de paraquedas com bandeiras de diferentes países.
Quando terminou o momento oficial do evento, seguiu-se um almoço convívio, onde os camaradas se juntam no meio do pinhal, fora do quartel com uma refeição recheada de memórias e histórias.
No meio do pinhal muitos são eram os pontos de piquenique, com um banquete de sardinhas, porco no espeto, febras, queijo, enchidos, vinho e cerveja, onde militares, ex-militares, famílias e amigos se unem e “matam as saudades” de tempos antigos.
Todos dizem que hoje, nada fariam diferente, voltariam e seriam paraquedistas de novo, mesmo sofrendo em tempo de recruta dentro do quartel, ou em missões internacionais, já os mais velhos recordam a guerra do Ultramar, que tanto uniu o regimento ao continente Africano, ligações que ainda hoje se mantêm vivas.
Apesar de histórias de vida e guerra serem contadas, o dia foi de festa, e só havia espaço para alegria. Fernando Pires, é de Montalvo, e entrou para o Regimento de Paraquedistas no ano de 1985, batalhão 31, comandado pelo Oficial Capitão Vítor Santos.

Para o ex-militar este é o dia da sua vida “um dia dos amigos, dia de camaradagem, onde nós brincamos e confraternizamos”, afirmou, ressalvando que “ser paraquedistas não é para todos”, e que apesar de não ter estado presente em nenhuma missão, teve sempre na Unidade, mas que não foi mais fácil.
Questionado se voltaria a 1985, Fernando Pires, disse que “com muito orgulho voltava a saltar, voltava a fazer tudo o que fiz há 38 anos atrás”.
Da Damaia a Tancos, à 25 anos, José Figueiredo rumou para começar a jornada de ser paraquedista. Teve três vezes ao longo da sua vida militar em missões, duas vezes em Timor, que referiu como a “melhor missão do mundo”, e também no Kosovo.
“Este é um dia em que reencontramos toda a gente, e por muito que eu já tivesse cá estado há 25 anos, há sempre alguém mais antigo que nós e temos de ter respeito por essas pessoas”, comentou.
“Se eu soubesse que ia ser tudo igual, que ia calhar com as mesmas coisas, mesmas pessoas da minha formação, voltaria, porque somos uma família e no dia 23 estamos sempre aqui todos”, frisou.
Da Figueira da Foz veio Nuno Silva e o seu filho Gonçalo, que vem todos os anos à Casa-mãe para ver os seus camaradas. O seu filho, de boina verde na cabeça, já vive o dia 23 de maio, e diz que um dia quer ser paraquedista como o pai, porque gostava de um dia saltar de paraquedas.

Nuno Silva, foi paraquedista há 24 anos, e nunca falta no dia 23 de maio, porque é um dia muito importante para todos os que passaram pela Casa-Mãe, e que é uma “alegria imensa ver os seus camaradas de curso”. Nuno ao longo da sua jornada militar teve em missão no Timor, Kosovo e na Bósnia, mas se tivesse de repetir, “faria tudo igual”.
“Uma vez paraquedista é-se paraquedista até morrer”, e a maior demonstração desta afirmação é o dia 23 de maio, onde ex-militares e militares, homens e mulheres, com orgulho, colocam a sua boina verde e entram mais uma vez no quartel que os viu crescer, para celebrar, viver, confraternizar e brincar. Para todos, uma boina, uma formação para a vida, uma segunda casa e um lema “que nunca por vencidos se conheçam”.

Muito bom