Há 50 anos, a Acção Revolucionária Armada (A.R.A.) perpetrava um atentado contra a Base Aérea 3, em Tancos, freguesia de Praia do Ribatejo, no concelho de Vila Nova da Barquinha. Nesta ação, que decorreu na madrugada de 8 de março, foram armadilhadas uma série de aeronaves que se encontravam no hangar nº 2, em Tancos. Apesar do alvo dos sabotadores serem as aeronaves, o hangar ficaria também bastante danificado.
Em resultado do atentado foram destruídos um Puma e quatro Alouettes III (Helicópteros), três DO-27 e três Cubs (aviões de pequeno porte). Ficariam ainda seriamente danificados dez Alouette III, dois Alouettes II, duas Do-27 e um avião Chipmunk.
As aeronaves estavam todas no hangar nº 2 já que o nº 1 estava em reparação. O facto das aeronaves estarem “amontoadas” num espaço reduzido fez com que o grau de destruição fosse maior.
Os autores do atentado foram Carlos Alberto da Silva Coutinho, António João Eusébio e Ângelo Manuel Rodrigues de Sousa, este último o elemento “infiltrado”, pois frequentava o curso de pilotagem de helicópteros precisamente em Tancos.
O que era a ARA (Ação Revolucionária Armada)?
A ARA surgiu publicamente em outubro de 1970 com a publicação de um comunicado em que reivindicava a sua primeira ação armada, em 26 desse mês, contra o navio Cunene, um navio de transporte utilizado na logística das guerras coloniais de Portugal em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, e suspendeu a luta armada em 1 de maio de 1973.
A Ação Revolucionária Armada foi criada pelo Partido Comunista Português com o objetivo de lutar contra as guerras coloniais desencadeadas por Portugal e impulsionar a luta pelo derrube da ditadura portuguesa implantada em 1926.
O levantamento da organização iniciou-se em 1964,com ações de caráter logístico, recolha de explosivos, armas e locais para o seu armazenamento assim como recrutamento de ativistas. Este trabalho foi dirigido por Rogério de Carvalho (1920-1999), membro do Comité Central do PCP a viver na clandestinidade na região de Lisboa, e por Raimundo Narciso (1938 – ), estudante de engenharia do Instituto Superior Técnico, e teve a participação de António Pedro Ferreira, então tenente miliciano do Exército e estudante de Economia, e ainda do tenente paraquedista do quadro permanente, Cassiano Bessa, colocado no Regimento de Paraquedistas em Tancos.
A atividade de organização teve um novo impulso em janeiro de 1965 com a deslocação a Moscovo e a Cuba de Rogério de Carvalho e de Raimundo Narciso que, sem estar detetado pela PIDE, passara à clandestinidade, a pedido do PCP, em 1964, para a criação da “organização das ações especiais” que viria a ter o nome de Ação Revolucionária Armada.
A ARA, criada e seguindo as orientações do PCP tinha, no entanto, uma estrutura autónoma e muito compartimentada, dirigida, na fase operacional, por um Comando Central de três elementos, Jaime Serra, Francisco Miguel, e Raimundo Narciso. Jaime Serra era um dos mais responsáveis dirigentes do PCP, com muitos anos de prisão e de clandestinidade. Francisco Miguel era membro do CC do PCP e já sofrera 21 anos e meio de prisão e fora o último prisioneiro português a abandonar o campo de concentração do Tarrafal.
A PIDE só concluiu que a ARA seria uma organização do PCP após a sabotagem da frota de aviões e helicópteros no interior da Base Aérea de Tancos por considerar que nenhuma outra organização antifascista teria capacidade e meios para uma ação de tal envergadura.
Uma característica peculiar da ARA e rara neste tipo de organizações, noutros países, como aliás sucedera com outras organizações que combateram com armas a ditadura portuguesa, como a LUAR (Liga da Unidade e Acção Revolucionária) anterior à ARA e as Brigadas Revolucionárias surgidas uns anos depois da ARA, era o facto de todas terem a preocupação de não causar danos pessoais com as suas ações.
De facto, no que diz respeito à ARA, apenas na ação contra a escola técnica da PIDE, em 1970, houve uma morte, a de um jovem transeunte vitimado acidentalmente pela explosão, alta madrugada, da bomba colocada à porta da referida escola.
A ARA foi responsável por quinze operações de entre as quais se destacam a destruição de helicópteros e aviões dentro da base militar de Tancos ou a sabotagem ao COMIBERLANT – Comando Ibérico da Área Atlântica da NATO.
Fontes:
Diário de Notícias
Wikipédia
Com todo o respeito pelo artigo e pelo componente histórico em encerra e que perpetua, tenho que referir que a Base Aérea n.3, assim como todo o Polígono Militar, não está localizado em Tancos mas na Freguesia de Praia do Ribatejo, outrora Payo de Pelle. É verdade que se chama Polígono Militar de Tancos, mas nunca foi localizado em Tancos, mas na Praia do Ribatejo. Os militares das diversas unidades chegaram a estar recenseados na Freguesia de Praia do Ribatejo.
Porém, agradeço o artigo, pois acho que urge a existência de mãos artigos como o seu, onde não se deixa no esquecimento a história local que abanou a história nacional.
Obrigada