O Sudário de Turim está na Catedral de San Giovanni Battista, em Turim, desde 1578. Foto: DR

O Sudário de Turim foi sempre objeto de debate entre aqueles que acreditam e aqueles que duvidam da sua autenticidade. Guardado na Catedral de San Giovanni Battista, em Turim, desde 1578, naquele manto de linho é possível visualizar as imagens da região dorsal e ventral do corpo de um homem desnudado, bem como inúmeras manchas de tonalidade avermelhada, com lesões contundentes e perfurantes compatíveis com as marcas da Paixão, em rigor mortis e com ausência de fluidos de decomposição, o que significa que o corpo não permaneceu mais do que 36 a 40 horas envolto naquele lençol, sendo o conjunto evocador da imagem de um flagelado e crucificado à maneira romana.

Tendo em conta estudos históricos e científicos, considera-se possível ser de facto o lençol funerário adquirido por José de Arimatheia, ou seja, aquele que envolveu o corpo de Jesus Cristo no sepulcro.

Sudário de Turim

Trata-se de um lençol de linho puro de elevada qualidade com uma malha de espinha de peixe, mais de quatro metros de comprimento (4,36 m) com um metro e 10 cm de largura, no qual, segundo defendem alguns cientistas e estudiosos do Sudário, ficou gravado uma ténue imagem, em tonalidade sépia, do corpo de Jesus crucificado. Contudo, “não é uma imagem de contacto”, explica Antero de Frias Moreira, mas sim uma marca da transformação de um corpo físico para metafísico, algo que “a ciência não consegue explicar”, apesar de todo o tipo de análises forenses, testes hematológicos, têxteis, químicos, biológicos e iconográficos, defende.

A imagem é como que um negativo de uma fotografia – e despertou maior interesse entre os cientistas precisamente após ter sido fotografado em 1898. Olhando para os negativos da imagem, via-se uma imagem “positiva”: o rosto de Cristo.

“Não há evidência do corpo ter sido removido do lençol”, assegura o membro executivo do Centro Português de Sindonologia. “Algo de estranho se passou que foi promover transformações químicas a nível das fibras do linho. O tecido foi tratado com uma solução e as fibras mais à superfície tinham uma envoltura de uma camada de natureza polisacarídica, ou seja, de açúcares”.

Assim sendo, diz, “algo aconteceu aquando do desaparecimento do corpo que atuou de uma forma culimada, ou seja, de uma forma direcional para cima e para baixo e foi provocar transformações químicas precisamente nessa camada, que é finíssima, que mede entre 200 a 600 nanómetros, onde ocorreram transformações químicas de desidratação, oxidação e conjugação com produção de grupos químicos carbonilo com ligações duplas de átomos de carbono. Isso acontece apenas nas fibras mais superficiais, duas ou três fibras mais à superfície dos fios”, explica.

Imagem apresentada durante a palestra da Academia Tubuciana de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

O corte de fibras onde ocorreram essas transformações mostrou que “existem fibras coloridas ao lado de fibras não coloridas. É o conjunto destas fibras coloridas que nos proporciona a imagem que vemos naquele lençol. Há uma proporcionalidade inversa entre a estrutura anatómica que produziu a imagem e a distância dessa mesma estrutura anatómica ao tecido. Ou seja, quanto menor a distância, mais carregada a imagem”, isto é, “porque existem mais fibras coloridas por unidade de superfície”, disse considerando “muito estranho”.

Dando conta de “várias teorias” sobre a formação da imagem “com suporte científico” Antero de Frias Moreira assegura que “não há nenhuma teoria cientifica que explique cabalmente os atributos macroscópicos, microscópicos, físicos e químicos da imagem patente no Sudário de Turim”.

Contudo, o médico sublinhou durante a palestra que a estudo do “Sudário de Turim é uma questão de ciência e não de fé”. Não obstante, assumiu-se como crente e defendeu que o Sudário “é o Evangelho vivo da Paixão de Jesus Cristo. É o sinal da sua Ressurreição”.

Constância acolheu no sábado uma palestra sobre ‘A Paixão de Cristo. O Santo Sudário e os Evangelhos’. Foto: DR

No entanto, em 1988 anunciava-se ao mundo tratar-se de um artefacto da Idade Média, após uma datação por Carbono-14 realizada em três laboratórios diferentes, em Zurique, Oxford e Arizona. Os resultados estavam em concordância de que o tecido seria do período entre 1260 e 1390.

Estes testes por Carbono-14 foram depois “completamente desacreditados”, referiu o investigador, “porque se concluiu, por estudos posteriores, que essa amostra não era representativa do resto do tecido”.

Além disso, o médico garante a existência de documentos anteriores à Idade Média que comprovam a existência do Sudário.

Antero de Frias Moreira enumerou datações alternativas pelo método micromecânico multiparamétrico, FTIR, Raman e WAXS. Também estudos de microscopia, infravermelhos, ultravioleta, e outros testes laboratoriais e múltiplos estudos químicos, de mineralogia, botânicos, imunológicos e genéticos, inclusivamente ADN nuclear e até de cloroplastos de plantas.

Não obstante referiu como “mais interessante” os estudos de imagem, designadamente tridimensionais, e de medicina forense.

Imagem apresentada durante a palestra da Academia Tubuciana de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

Independentemente da imagem corporal, cuja explicação não foi ainda encontrada pela ciência, é legítimo inquirir se as manchas avermelhadas correspondem a material hemático (sangue ou ‘derivados’ de sangue).

“Efetivamente foram encontrados globos vermelhos com morfologia humana. Foi determinada a presença do grupo Heme da hemoglobina que constitui os glóbulos vermelhos, a presença metahemoglobina, de elementos do sangue como o sódio, o potássio, o cloro, o magnésio, o ferro em concentrações semelhantes às encontradas no sangue humano. Foram encontradas proteínas do tipo albumina, globulinas e, talvez muito importante, elevadas concentrações de bilirrubina e mais recentemente foram descobertas também nanopartículas de creatinina a envolver nanopartículas de ferritina. Mostram que se trata de um soro de um indivíduo que sofreu um elevado stress traumático”, referiu durante a palestra, assumindo que “de acordo com toda a documentação histórica que existe e os estudos científicos, o Sudário de Turim é efetivamente o lençol que envolveu o corpo de Jesus no sepulcro”.

Para tal refere um cálculo matemático de probabilidades e considera sete aspetos comuns patentes na imagem do homem flagelado e crucificado do Sudário e do flagelado e crucificado Jesus Cristo, consoante descrito nos Evangelhos, nomeadamente o envolvimento do corpo no lençol. “Sabemos que a maior parte dos crucificados ficavam a apodrecer na cruz e eram atirados para uma vala comum, era uma raridade alguém ser retirado da cruz e ser envolvido num lençol. O enterro apressado, a tortura com a dita coroa de espinhos, o porte do patíbulo, a crucificação com pregos e não com cordas, a permanência curta do corpo no lençol”, tudo são condições muito específicas. Acrescenta que “a probabilidade da imagem patente no Sudário de Turim não ser de Cristo é de 1/200 mil milhões”, segundo Bruno Barberis, no estudo designado ‘Shroud, carbon dating and calculus of probabilities’.

Imagem apresentada durante a palestra da Academia Tubuciana de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

Nos anos 30 do século passado, o cirurgião do Hospital de S. Joseph-Paris, professor Pierre Barbet, um dos pioneiros do estudo médico-forense do Sudário, tendo visualizado de perto a relíquia numa exibição publica, identificou as manchas avermelhadas como de natureza hemática, provenientes do contacto do tecido com coágulos sanguíneos na superfície corporal.

Em 1973 o Vaticano autorizou uma comissão científica a estudar esta questão, todavia os testes de pesquisa de sangue foram negativos. Por conta do alegado material hemático ser muito antigo e muito seco, a dita comissão concluiu que “a resposta negativa às investigações conduzidas não nos permitem um julgamento absoluto sobre a natureza hemática do material investigado”.

Explica Antero de Frias Moreira que “de acordo com os estudos científicos sobre as manchas sanguíneas patentes no Santo Sudário, nomeadamente os mais recentes, é inequivocamente descartada a teoria de que correspondam a uma elaboração artística com pigmentos pictóricos, concluindo-se que são efetivamente de natureza hemática, correspondendo a exsudados de coágulos transpostos para o tecido pelo contacto com coágulos na superfície de um corpo, não havendo ainda explicação definitiva para a sua coloração avermelhada”.

Imagem apresentada durante a palestra da Academia Tubuciana de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

Dá então conta da existência de “múltiplas manchas sanguíneas correspondendo a variados tipos de lesões, nomeadamente perfurações arteriais, venosas, capilares, contusões hemorrágicas, sangue pre-mortem e post mortem, o que inviabiliza tal ação em termos artísticos”.

Além disso “a maioria das manchas sanguíneas tem à sua volta um halo de soro que só se torna aparente nas fotografias de fluorescência de ultravioletas soro esse extrudido pela retração fisiológica do coágulo-aspeto que não se verificaria se o sangue fosse pura e simplesmente pintado e também teria de ser sangue com elevado teor de bilirrubina não conjugada”, justifica.

Acrescenta ainda o médico que “do ponto de vista bioquímico há evidencia de extrema violência, o que é corroborado pela análise detalhada dos vários tipos de manchas patentes, concluindo-se do ponto de vista médico-forense que o homem do sudário foi flagelado com chicote romano, sofreu tortura com aplicação de um capacete de espinhos, e foi crucificado nos punhos e pés com cravos, sendo a sua morte confirmada com perfuração torácica por uma lança. O Sudário de Turim como significado religioso, é portanto o verdadeiro testemunho da Paixão de Cristo e também da sua Ressurreição” para os crentes, considera.

Victor Lobo (à esquerda), Antero de Frias Moreia (ao centro) e Paulo Falcão Tavares (à direita), durante a palestra sobre o Sudário de Turim. Créditos: mediotejo.net

Antero José Santos de Frias Moreira
Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Porto, especialista de Medicina Física e de Reabilitação, membro executivo do Centro Português de Sindonologia (associação não lucrativa de carácter cultural destinada ao estudo e divulgação do Santo Sudário). Estudioso do tema desde 2005, é autor do livro ‘Sudário de Turim, mortalha de Cristo ou fraude medieval?’. Mantém contactos privilegiados com investigadores internacionais do Sudário de Turim. Comentador até 2015 no blog norte-americano de discussão científica ‘Shroud of Turin Blog’. Publicou artigos de carácter científico sobre o Sudário de Turim no site do Centro Português de Sindonologia. Frequentou congressos sindonológicos internacionais e continua a acompanhar novos estudos. Proferiu várias comunicações sobre o tema em Portugal.

Recorda que a patologia forense permite estudar a caraterização dos aspetos lesionais, permite inferir os objetos das lesões, ou seja, a causa/etiologia das lesões, a cronologia das lesões, esclarecimentos das causas da morte e “acaba por ser como que uma autópsia virtual que é feita àquela imagem”, diz.

De acordo com Antero de Frias Moreira os patologistas forenses concluíram que aquele lençol terá sido a mortalha de “um individuo do sexo masculino de face semítica, com cerca de 1,73 metro de altura, desnudado e com múltiplas lesões contundentes e perfurantes em estado de rigor mortis”, ou seja, “um estado de rigidez cadavérica resultante da contratura muscular post mortem que se começa a estabelecer cerca de duas horas após a morte, e poderá durar dependendo das condições ambientais até cerca das 30 horas”.

Por outro lado, “os estudos químicos efetuados naquele tecido não mostram a presença de fluidos de decomposição, nomeadamente não encontrou resíduos de ácido butírico, propiónico, fenóis, glicerois ou escatol”, assegura.

Imagem apresentada durante a palestra da Academia Tubuciana de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

O membro do Centro Português de Sindonologia afirma ter “intrigado os cientistas aquela imagem que tem nela codificada informação que só pode ser extraída com instrumentos informáticos que foram desenvolvidos em finais do século XX”. Referia-se à codificação tridimensional mostrando uma imagem em baixo relevo anatómico da face do Sudário obtida com um dispositivo VP8 da NASA, à imagem holográfica do Sudário conseguida por Petrus Soons em 2008 e também uma imagem em 3D obtida pelo francês Castex em 2011.

Além disso “não há explicação de como o lençol poderá ter sido removido do corpo porque o estudo das manchas sanguíneas por ampliação mostra que as manchas estão imperturbadas, têm os contornos perfeitamente definidos, os estudos por fotografia de florescência ultravioleta mostra um halo de soro à volta, resultante da retração dos coágulos e os rebordos estão elevados e há uma depressão central, portanto aquilo é muito estranho porque parece que aquele corpo simplesmente desapareceu de dentro do lençol”.

Depois de ter concluído que as manchas hemáticas não são uma elaboração artística e são sim material hemático correspondente a exsudados de coágulos, o investigador abordou os diferentes tipos de manchas observáveis. Desde logo as lesões perfurantes na cabeça, possivelmente provocadas por um capacete de espinhos que está patente ao público no Centro Notre-Dame em Jerusalém.

De acordo com Antero de Frias Moreira “na região da cabeça é possível definir múltiplas lesões perfurantes de estruturas arteriais, venosas e capilares, produzindo trajetos perfeitamente aparentes bem como lesões mais do tipo circular/oval e o famoso épsilon ou 3 invertido, sensivelmente a meio da testa”. O patologista forense Sebastiano Rodante concluiu que tal dispositivo de tortura perfurava o couro cabeludo e até atingir o crânio.

Imagem apresentada durante a palestra da Academia Tubuciana de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

Os estudos revelam que “em mais de 60% da superfície corporal do homem do Sudário, particularmente na região dorsal, nádegas e região dorsal dos membros inferiores são visíveis cerca de 120 lesões com a forma sensivelmente de halteres, cerca de 3 cm de comprimento”, explica.

Dá conta que “essas lesões correspondem a uma brutal flagelação com o chicote romano tipo ‘flagrum taxillatum’, consoante um idêntico instrumento de tortura recuperado em achados arqueológicos na cidade romana de Herculaneum, sepultada sob a lava da erupção do Vesúvio em 79 A.D”. Esse chicote tinha duas a três tiras de couro cujas extremidades possuíam bolas de metal (plumbatae) ou ossos para provocar mais sofrimento no condenado. Consoante concluíram os estudos de patologia forense, “o homem do Sudário foi brutalmente chicoteado por dois carrascos, um de cada lado sendo o da direita mais alto que o da esquerda”, acrescenta.

Também na imagem corporal dorsal “é possível visualizar a nível das omoplatas particularmente à direita imagens de abrasão cutânea consentâneas com o porte de um objeto pesado, neste caso o ‘patibulum’ que é a parte horizontal da cruz, que pesava cerca de 20 quilogramas”, indica.

Estão patentes lesões “de crucificação com cravos sendo aparente na imagem ventral, a nível da região dorsal do punho esquerdo o local de saída do cravo, topograficamente na região do designado espaço de Destot (espaço virtual entre os ossos do carpo semi-lunar, piramidal, grande osso e ganchoso) e duas extrusões sanguíneas fazendo um ângulo de cerca de 15 graus, para além dos trajetos das escorrências nos antebraços. Assegura que “estas lesões são compatíveis com escorrências sanguíneas na posição de crucificação, ou seja com os membros superiores fazendo um ângulo de cerca de 65 graus com vertical, pois o seu trajeto foi determinado por ação da gravidade”.

Conclui o professor Pierre Barbet que “os trajetos que extrudem do punho esquerdo correspondem às duas posições que o crucificado tinha na cruz”.

Durante a reconstituição científica dos eventos lesionais até à morte do homem na cruz e envolvimento no lençol funerário, com base em estudos médico-forenses, Antero de Frias Moreira declarou que “o crucificado tinha extrema dificuldade em expirar e para o fazer passava de uma posição baixa para outra mais elevada através de um extremo sofrimento pela força exercida no cravo que transfixiava os pés e no dos punhos, e assim se teriam produzidos esses dois trajetos divergentes”.

Reprodução do corpo de Jesus Cristo na exposição ‘O Homem Misterioso’ na Catedral de Salamanca, em Espanha. Créditos: Diocese de Salamanca

A nível dos pés as imagens lesionais “são pouco claras na imagem corporal ventral, enquanto que na dorsal a impressão plantar do pé direito é um misto de imagem corporal e extrusões sanguíneas pre e post mortem, definindo-se o local de transfixiação do pé na região do segundo espaço intermetatarsiano”.

No lençol “apenas é visível a imagem da porção posterior do pé esquerdo, o qual foi colocado sobre o dorso do pé direito tendo o carrasco transfixiado os dois pés de uma assentada com um único cravo. Esta posição foi mantida pelo rigor mortis (rigidez cadavérica post morte) após a remoção da cruz”, refere.

Explica igualmente que na região do hemitorax direito “é possível visualizar uma extensa mancha hemática com cerca de 16 cm de comprimento e cinco cm na sua maior largura, a nível superior, com zonas mais claras correspondendo a um fluido de derrame cavitário, e que também fluoresce à radiação ultravioleta”.

Na região superior, correspondente à zona antero-lateral do 5º espaço intercostal, dá conta que os patologistas forenses “definiram uma zona sensivelmente ovalar com cerca de 4X1 centímetros correspondente ao local de perfuração do hemitorax direito sendo as dimensão compatível com as lanças romanas”.

Imagem apresentada durante a palestra da Academia Tubuciana de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

Nesse local , “após perfurar as pleuras e o pulmão, a lança atinge a aurícula direita (cavidade cardíaca), a qual se encontra repleta de sangue após a morte. Assim se explica a presença de sangue e de um fluido mais claro de derrame pericardico ou pleural, devido às brutais sevícias traumáticas sofridas” pelo homem do Sudário.

Tendo em conta os estudos, o investigador afirmou que o crucificado “ficou a agonizar na cruz. Estava desidratado, apresentava múltiplas lesões cutâneas e musculares, com dores neuropáticas excruciantes a nível dos pulsos, pés, cabeça, terão resultado derrames pleurais e pericárdico, muito provável rabdomiolise, também estado de pré choque hemorrágico, provável insuficiência renal e tudo isto provoca disfunção e falência multiorgânica e uma sensação de asfixia eminente”. O que culminou com a morte na cruz.

A primeira menção não evangélica ao Sudário data de 544, quando um pedaço de tecido, mostrando uma face que se acreditou ser a de Jesus, foi encontrado escondido sob uma ponte em Edessa, no sudeste da Turquia, onde permaneceu até 944 quando por ordem do imperador Romanus Lecapenus a imagem de Edessa (ou Mandylion) foi transferida para Constantinopla, onde esteve até 1204, quando desapareceu após o saque da cidade, pelos Cruzados da Quarta Cruzada. As suas primeiras descrições mencionam um pedaço de pano quadrado, mostrando apenas a face. Há um hiato histórico de 150 anos, desconhecendo-se o local onde se encontrava o Sudário, havendo historiadores que defendem a hipótese de ter estado na posse dos Templários.

No entanto, explica o palestrante, o “Mandylion” ou pano de Edessa – a relíquia mais venerada da Cristandade Oriental – e o Sudário de Turim “são uma e a mesma relíquia”. Para tal conclusão o médico aponta documentação como textos da ‘doutrina de Addai, ‘Actos Apécrifos de Thaddeus’ e ‘Codex Vossianus Latinus’ assim como estudos e imagem no Sudário ‘Raking light photograps’.

Em 1356 reaparece em poder de Godofredo de Charney, senhor de Lirey, próximo de Troyes, em França. Em 1453 passou para a posse da família de Sabóia e, em 1578, a peça foi levada para a Catedral de Turim, onde permanece.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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7 Comentários

  1. Os meus sinceros parabéns à Drª Paula Mourato pela excelente reportagem sobre a minha conferência.
    Com toda a sinceridade, já li muitas noticias sobre o Sudário de Turim, mas esta reportagem é absolutamente objectiva e exaustiva e transmite aos leitores aquilo que efectivamente se sabe e não se sabe sobre os aspectos focados.
    Apenas me cumpre esclarecer:
    No que respeita aos estudos de sangue foi determinada por microespectrofotometria a presença do grupo porfirínico «Heme» ( e não M) constituinte da hemoglobina.
    O «Mandylion» ou pano de Edessa era a reliquia mais venerada da Cristandade Oriental e de acordo com documentação a ele referente (textos da «doutrina de Addai, «Actos Apécrifos de Thaddeus» e Codex Vossianus Latinus) assim como estudos e imagem no Sudário de Turim («raking light photograps») permitem concluir que são uma e a mesma «relíquia».
    Sinto-me extremamente gratificado com a excelência deste jornalismo.
    Ao dispor para qualquer esclarecimento,
    cumprimentos
    Antero de Frias Moreira

  2. Um verdadeiro cientista muito conhecedor do tema e pelo seu percurso académico, profissional e pessoal, bastante estudioso, seja autodidacta ou com parcerias internacionais, que o conferem uma imparcialidade e o tornam deveras credível. Muitos parabéns pela reportagem também.

  3. Parabéns ao conferencista pela clareza num tema que é tão complexo e abrangente, ao afirmar que o Sudário de Turim é uma questão de ciência e não de fé, de facto assim é, mas, pelo estudo e pela razão pode ser esclarecida a fé, razão e fé complementam-se mutuamente Na carta Encíclica “A FÉ E A RAZÃO” de João Paulo II
    Que começa desta forma:
    “A FÉ E A RAZÃO constituem que as duas asas pelas quais quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade…”
    Neste lençol podemos contemplar o Mistério da Paixão e Ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
    Parabéns também pela qualidade jornalística

  4. Concordo com tudo o que diz o texto sobre a apresentação do Dr. Antero Frias Moreira. No entanto, não me parece que a altura da imagem (de Cristo), tenha apenas 1, 73 metros; porque penso que no livro “Veredicto Sobre o Sudário”, se não me engano, se aponta para cerca de 1, 93 metros.
    A outra dúvida é que ainda não foi bem explicado o erro do exame do Carbono 14 de 1988 realizado por 3 entidades, com resultado idêntico.
    O que mais me fascinou até agora foi, precisamente, a incapacidade de a ciência explicar a imagem (que eu só ainda não enquadrei por causa do tal exame de 1988).

    1. Não foi idêntico não, obtiveram resultados que variavam do ano 1100 a 1450. E com isso eles calculavam uma média. Lembrando que essas entidades conversavam entre si durante o processo.

  5. Não podemos esquecer que o biotipo representado no pano está mais para um europeu do que para um habitante da Palestina, acredito que seria interessante abordar esse ponto também.
    Na minha irrisória opinião, o Santo Sudário será para sempre um incógnita, seja pela falta de provas totalmente conclusivas dos dois lados (a não ser que a Igreja colaborasse novamente) – seja pela sua natureza talvez fora da nossa compreensão, como se feita exatamente para testar a nossa fé.

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