Alguns dos produtores e profissionais presentes na plataforma. Foto: DR

Há quase dois anos que Mafalda Matias e Miguel Ferrão, ambos naturais da Sertã, partilham uma ideia em comum: ajudar pequenos negócios a crescer no seu percurso de comércio online. Foi daí que nasceu o ‘Feito com Alma’, “numa altura em que as preocupações ambientais, humanas e sociais ganham força num mundo dominado pelo consumismo”, refere Miguel Ferrão, em declarações ao mediotejo.net

“Este projeto surge nas nossas cabeças com o intuito de apoiar quem, de forma tradicional ou artesanal, se dedica a criar. Queremos dar visibilidade à ruralidade, ao bem-fazer e ao que é autêntico”, destacou.

Embora entre os dois promotores já existissem várias convergências de ideias, a dupla demorou algum tempo a “pôr no papel” tudo o que pretendia fazer. Só em abril de 2020 é que conseguiram iniciar atividade como empresa e em novembro abriram a loja online www.feitocomalma.pt.

O projeto foi desenvolvido “num círculo muito próximo” com um investimento inicial na ordem dos 4 mil euros. “Muito trabalho surge voluntaria e gratuitamente por parte de amigos que apoiaram o projeto, a quem desde sempre temos estado muito gratos por todo o suporte”, explica Miguel.

Para já ainda não conseguiram qualquer apoio direto, à exceção dos referidos amigos, mas tencionam apresentar candidaturas a programas de financiamento.

Mas afinal de contas o que é o “Feito com Alma”? Trata-se de uma plataforma online para pequenos produtores e para profissionais independentes que podem vender os seus produtos, promover-se e captar novos clientes para os serviços que prestam.

Da perspetiva do consumidor, é um mercado online. No “Feito com Alma” é possível comprar produtos locais, artesanais ou, de alguma forma, originais, bem como conhecer e contactar diretamente profissionais para o serviço de que precisa.

O que têm em comum pequenos produtores e profissionais independentes? “O negócio depende só deles, desde o sonho à execução. O seu trabalho reflete muito do que eles próprios são e, por isso, são genuínos e autênticos. Dedicam toda a sua alma àquilo que fazem”, argumenta Miguel Ferrão.

Mafalda Matias e Miguel Ferrão são os empreendedores. Foto: DR

A plataforma começou a funcionar em novembro com 10 profissionais e cinco produtores e desde então os promotores têm tido vários contactos e já estão a preparar o lançamento de novos profissionais e produtores.

Balanço positivo

Nas primeiras semanas, o balanço foi “francamente positivo”, revela Miguel. “Mais do que likes ou visitas à plataforma, é no contacto pessoal ou por telefone que sentimos este feedback, onde as pessoas nos abordam pela originalidade e simplicidade do projeto. Esse contacto é muito motivador e faz-nos acreditar que estamos no caminho certo. Temos ainda tido uma significativa procura pelos nossos produtos e sobretudo nas adesões a Produtor e Profissional”, acrescenta.

Para aderir ao projeto o processo é simples. Basta visitar a plataforma e preencher o respetivo formulário que chega aos promotores via email ou entrar em contacto direto pelos diversos canais, tais como email geral (geral@feitocomalma.pt) ou redes sociais.

Para os produtores as vantagens passam por, segundo o nosso interlocutor, “poder estar presente num mercado online com artigos com um posicionamento comum, podendo assim gerar mais vendas. Dar-se a conhecer, à sua história e ao seu valor acrescentado a quem compra. Numa perspetiva mais prática, é também uma maneira de terem presença e venda online, o que muitas vezes se torna difícil de gerir e implementar com poucos recursos humanos”.

Já quanto aos Profissionais, as vantagens são “a divulgação do seu perfil e trabalho e pertença a uma comunidade com identidade e posicionamento comuns”. Neste caso é apenas pago o valor da adesão, sem qualquer comissionamento cobrado por contacto de cliente obtido.

Para quem compra, aponta-se como benefícios “a oportunidade de adquirir produtos que não encontra à venda em espaços comerciais massificados e, sem dúvida, conhecer quem os faz, estabelecendo uma ligação mais próxima e identificada com o produtor. Oportunidade, ainda, de comprar produtos que trazem consigo uma componente forte de identidade e valor, por serem feitos à mão”.

E para comprar, o processo é fácil. Basta aceder ao www.feitocomalma.pt, explorar a loja, adicionar os produtos ao cesto de compras e criar uma conta para poder adquiri-los. Depois de confirmado o pagamento, o cliente recebe em casa os produtos diretamente do produtor.

As entregas são da responsabilidade da empresa, que recolhe no produtor e entrega diretamente ao cliente. Se a encomenda incluir produtos de dois produtores diferentes, por exemplo, o cliente vai receber duas encomendas diferentes, sempre e diretamente do produtor.

Em alguns casos, os produtos são recolhidos pelos CTT na morada (casa ou espaço de trabalho) do produtor e entregues no dia seguinte em casa do cliente.

No caso de produtos hortícolas, como cabazes de frutas ou legumes, o cliente tem de fazer a recolha diretamente na morada do produtor porque nem sempre é possível articular a entrega com o próprio produtor, a não ser que este se manifeste disponível para tal.

Quanto aos meios de pagamento dos produtos, a empresa garante uma gama variada de possibilidades: transferência bancária, cartão de crédito, referência multibanco, MBWAY e Paypal.

E quando perguntamos a Miguel Ferrão acerca dos efeitos que tem a pandemia neste tipo de comércio online, a resposta vem cheia de vantagens: para quem vende, pode ser uma alavanca de vendas num período onde o turismo e as deslocações são muito reduzidas. Para quem compra, realça a possibilidade de ter ao alcance produtos que se não for desta forma, através de uma plataforma com foco em produtores locais, não conseguem adquirir.

Se o “Feito com Alma” nasceu na Sertã e continua a crescer, o objetivo dos empreendedores a médio e longo prazo passa por implementar o negócio em todo o território nacional e incluir, durante 2021, centenas de produtores locais e profissionais dos vários recantos do nosso país, revela Miguel.

Apesar da plataforma ter sido lançada recentemente, já se estudam os passos seguintes, procurando este ano 2021 “alargar o espectro ao consumo de proximidade, com o conceito de Lojas de Bairro e procurar sempre novas sinergias que potenciem a economia local e acrescentem valor às comunidades”, anuncia.

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

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