No dia em que se completaram quatro meses desde a tomada de posse, a 14 de outubro, o novo Presidente da Câmara Municipal da Sertã concedeu uma entrevista ao mediotejo.net. Carlos Miranda (PS) fala sobre as suas primeiras impressões desde que tomou posse, as principais dificuldades e surpresas, as prioridades, o seu estilo de governação, o relacionamento com as juntas de freguesia e como idealiza o seu concelho. Afirmar a Sertã como polo de inovação e desenvolvimento da região e potenciar a sua centralidade no território são os dois principais objetivos.
– Já passaram quatro meses desde que tomou posse. Como têm sido estes primeiros tempos à frente do Município?
– Têm sido tempos intensos, mas também bastante agradáveis. Tem sido muito interessante porque é uma experiência nova, diferente. Temos tido muito trabalho, naturalmente, mas tem sido interessante porque esta posição permite-nos ter um conhecimento diferente, mais aprofundado, sobre a realidade do concelho.
“Estarmos a contribuir para o bem-estar da população e para o desenvolvimento do concelho dá-nos uma enorme satisfação”
– Quais foram as principais surpresas, a maior deceção e a maior alegria?
Não é fácil. Eu diria que não é propriamente uma deceção, mas aponto a lentidão dos procedimentos nesta máquina autárquica. Tem a ver com a burocracia na administração local e do Estado de uma forma geral. Isso foi uma coisa que me dececionou um pouco. Muitas vezes queremos avançar e não podemos avançar com a velocidade que nós pretendíamos. Desilude um pouco mas temos de seguir em frente. Quanto à surpresa positiva não destaco nada é particular, mas tenho ficado muito satisfeito com os contactos que tenho tido com a população, com as várias entidades, com as empresas. Realmente tem sido bastante útil para mim. Noto que as pessoas têm expectativas em relação ao nosso Executivo. Tenho tido reuniões bastante produtivas que têm decorrido com enorme cordialidade, as coisas têm corrido muito bem a esse respeito. Depois há uma série de projetos a pôr em prática. Esta sensação de estarmos a contribuir para pôr as coisas a andar, para que as coisas mudem para melhor, estarmos a contribuir no fundo para o bem-estar da população e para o desenvolvimento do concelho dá-nos uma enorme satisfação. Por isso é que eu disse: são tempos complicados, de muito trabalho e de muita intensidade, mas também é muito agradável e compensador estar nesta posição.
– Uma das prioridades foi definir uma nova estrutura orgânica. Qual é o objetivo?
O objetivo é adaptar o funcionamento da Câmara àquilo que são as nossas ideias. A estrutura não é tão diferente assim da anterior. Foram feitas algumas alterações no sentido de termos uma estrutura que esteja o mais próximo do ideal no funcionamento da câmara. É um processo que ainda não está fechado, mas a ideia é termos uma estrutura mais ágil, mais flexível que nos permita responder da melhor forma. Foi uma preocupação, mas tivemos outras no início. Em primeiro lugar conhecer um pouco a casa porque a Câmara é uma máquina complexa, tem muitos colaboradores e presta muitos serviços.
– Outra prioridade por razões de calendário era a elaboração do orçamento…
É uma fase complexa e trabalhosa, é um documento fundamental para o funcionamento da autarquia e foi um processo que caiu logo ali, logo a seguir à tomada de posse. Foi feito a contra-relógio o que nos obrigou a que estivéssemos muito rapidamente por dentro de todos os assuntos.
Mais de duas centenas de reuniões
– Como foram os primeiros contactos com as forças vivas do Concelho?
Foi muito importante contactar-nos com empresas, instituições e pessoas individualmente, provavelmente tive mais de duas centenas de reuniões feitas também em contra-relógio porque as pessoas também querem apresentar os seus problemas e eu também tenho interesse em falar com essas pessoas. As instituições são fundamentais para o desempenho da nossa função. Também tivemos de tomar algumas medidas muito urgentes no sentido de pôr em prática projetos que vinham de trás, que nós queremos que avancem e para não perdermos alguns fundos que estavam associados a esses projetos. Tivemos de avançar rapidamente com os concursos de modo a não perdermos algumas candidaturas que existiam à partida. Estamos também a começar a elaborar projetos novos para agarrar as oportunidades que vão surgindo.
– Como encontrou o município em termos financeiros?
Isso nunca foi um problema. O município tem uma situação financeira estável, não me queixo relativamente a isso. É normal, quando entramos numa instituição encontramos coisas positivas e coisas negativas. Estamos aqui para tentar aproveitar aquilo que é positivo e tentar corrigir aquilo que não está a funcionar bem.
– Imaginamos que nestes primeiros tempos tenha sido bombardeado com pedidos por parte dos munícipes. O que mais lhe pedem?
Efetivamente tenho sido bombardeado, mas é normal, é a expectativa das pessoas, naturalmente. O que eu noto é que há aqui muitas coisas por resolver que vêm de trás. As pessoas por vezes têm a ilusão de que se pode resolver tudo em pouco tempo. Há alguns problemas com anos, alguns podem ser resolvidos de imediato, outros vão ter que esperar algum tempo e eventualmente outros que nem sei se será possível resolvê-los. São situações que carecem de análise aprofundada. Eu tento apelar à compreensão das pessoas. Não é humanamente possível ir ao encontro de todas as expectativas e necessidades das pessoas. Precisamos de algum tempo para resolver esses problemas.

“Estamos a trabalhar com grande intensidade”
– Um desses problemas é a revisão do PDM que é um desafio difícil. Está confiante nesse processo?
Estou a fazer tudo para que seja resolvido a curto prazo, mas reconheço que é uma situação complicada que nós herdamos. Vamos tentar resolver sem que haja problemas para o Município. É um processo muito complexo que envolve muitas entidades e envolve prazos. Não se pode fazer do dia para a noite.
– Em relação ao relacionamento com as juntas de freguesia? Como tem sido?
Acho que tem sido muito positivo. Temos dialogado em reuniões com os Presidentes de Junta, numa atitude de grande abertura, todos eles têm o meu número de telemóvel e sabem que eu estou sempre disponível. Acho que esta Câmara já tem feito uma ação muito visível no terreno, nas freguesias, resolvendo problemas das populações. Estamos a trabalhar com grande intensidade para resolver os problemas das populações. Uma preocupação que temos é a de descentralizar, procuramos que todas as freguesias tenham a sua quota-parte na vida social e cultural do Município. É uma forma de dizermos que todas as freguesias contam, todas as pessoas contam, todas têm direito a ter eventos, todas têm direito a ter acesso à cultura e, por outro lado, é uma forma de obrigar as pessoas a circular um pouco mais pelo território, conhecer melhor o seu Município, isso ajuda a criarmos um Município mais unido e solidário. É uma forma de promovermos também a coesão territorial. Essa descentralização tem sido uma marca muito visível neste curto espaço de tempo.
– Como é que define o seu estilo de governação camarária? Que marca pretende deixar?
Acho que sou uma pessoa acessível, tenho o espírito aberto, sou uma pessoa dialogante, gosto de dialogar com todos, gosto de ouvir as partes envolvidas e gosto que, depois da decisão tomada, que ela seja concretizada. Eu diria que as marcas deste Executivo são o planeamento – gosto de pensar as coisas, gosto de ter uma visão global e abrangente das situações -, o diálogo – gosto de ouvir todas as partes -, e depois, a tomada de decisão e a eficácia na resposta.

– Daqui a 4 anos como é que espera ver a Sertã?
O meu desejo é que esteja melhor do que está agora. Naturalmente que é o desejo de qualquer autarca. O que eu quero para a Sertã é que seja um polo de inovação e desenvolvimento na região Centro. Temos de aproveitar a centralidade da Sertã e deixar de falar nesta questão da interioridade que nos penaliza, mas sim falarmos na centralidade, isso é um fator positivo. Temos uma posição central. Estamos exatamente no centro de Portugal, a menos de duas horas do Porto, a hora e meia de Lisboa e a 40 minutos de Coimbra, também não estamos muito longe de Espanha. No fundo nós temos uma posição privilegiada, temos acessos que são razoáveis ou bons e há que potenciar essas características.
– O seu horizonte como Presidente da Câmara são os 12 anos, ou seja, os três mandatos?
Não sei. Faz hoje quatro meses que tomei posse e esse horizonte é muito distante. Eu não estou nada preocupado com isso, se vou ficar quatro, oito ou 12 anos. Da mesma forma que não estava nada preocupado em ganhar as eleições. Fiz o meu melhor, com um projeto no qual acredito. Mas se não ganhasse, a minha vida seguia o seu caminho, sem qualquer tipo de problema ou preocupação. Vou fazer o meu melhor, as pessoas podem confiar que eu estou aqui e estarei aqui a dar sempre o meu melhor. Depois, daqui a quatro anos, logo se decidirá acerca de uma eventual recandidatura.