Chamava-se Cipriano Antunes, mas todos o conheciam por Pai Natal. E era o Pai Natal mais conhecido e mais solicitado do país, ou, como o próprio dizia, “o rei dos Pais Natais”.
Cipriano Antunes morreu esta semana e foi sepultado no dia 11 de outubro em Amora, na margem sul do Tejo. O que pouca gente sabe é que Cipriano nasceu em Cernache do Bonjardim, no Concelho da Sertã, em 1947, no seio de uma família pobre de 11 irmãos.
Numa entrevista concedida ao jornal Público em 2011, recordou o seu atribulado percurso de vida. Logo aos cinco anos começou a pastorear cabras e ovelhas na sua terra natal para ajudar a matar a fome à sua numerosa família. A era fome era tanta que o seu pai foi preso por burla. Andou por Cernache e arredores a pedir para a festa religiosa desse ano, mas a família encarregou-se de comer os chouriços e presuntos angariados. Não só o pai foi condenado em tribunal, como a família foi proibida de ir à Missa do Galo.
Farto da miséria, aos sete anos fugiu para Lisboa e aos 11 anos estava a trabalhar numa mercearia, continuando a passar dificuldades. Dois anos depois foi paquete do Hotel Avenida Palace. Aos 16 anos foi resgatado à rua por um oficial da Marinha que o encontrou a dormir na Avenida da Liberdade. Com esse “padrinho”, fez-se marinheiro e foi na Marinha que ficou durante mais de 40 anos.
Chegou a fazer comissões na Guiné e em Angola onde, segundo a Revista da Armada, foi o último militar português a içar a bandeira portuguesa em território angolano. A aposentação chegou aos 62 anos quando estava na Polícia Marítima.
Cipriano Antunes nunca deixou de praticar exercício físico e de cuidar do seu corpo marcado pelo curso de Fuzileiros Especiais e de 15 anos como pugilista. Graças à sua figura alta, forte e bem cuidada, era requisitado para anúncios e participações em novelas.
Foi cowboy num anúncio da Vodafone, lenhador na série Floribela (SIC), xerife na telenovela Rosa Fogo (SIC) e pirata num anúncio da cadeia de fast food KFC, entre dezenas de participações.
Mas foram as suas longas e cuidadas barbas brancas que fizeram dele o ícone dos Pais Natais. Nessa qualidade era solicitado por superfícies comerciais, centros comerciais, empresas e instituições para fazer de Pai Natal, papel que desempenhava com sucesso.
Esta semana Cipriano partiu com a consciência de que deixou muitas crianças felizes com as suas conversas e o seu inconfundível “oh, oh, oh”.