A centenária tem uma memória impressionante. Foto: mediotejo.net

“Sinto-me feliz por chegar a esta idade e graças a Deus com saúde”, diz Maria da Conceição Lopes na sua casa em Codiceira, concelho da Sertã. Ti Maria, como é tratada, completa 104 anos a 28 de fevereiro, mas quem a vê no seu dia-a-dia não lhe dá aquela idade, tendo em conta que se mantém lúcida, independente e “cheia de genica”, como a própria revela em entrevista ao mediotejo.net. Fomos conhecer este fenómeno de longevidade e energia numa pequena aldeia a poucos quilómetros da vila.

Codiceira, assim se chama o aglomerado que nem sequer consta do Google Maps. Orientados por um barbeiro da vila, lá chegámos à aldeia, depois de atravessarmos a zona industrial e um túnel debaixo do IC8. Entre a meia dúzia de casas, não se vê vivalma. Foi preciso bater a uma porta, depois de os cães se acalmarem, para nos indicarem a casa da Ti Maria.

À porta da centenária estava uma carrinha. Era a viatura do moleiro, como é designado o vendedor que conduz uma verdadeira mercearia ambulante, apetrechada com todo o tipo de produtos para casa.

Ti Maria gosta de estar à lareira. Foto: mediotejo.net

Desconfiada de que se tratasse de algum caso de burla, não foi fácil conseguir a entrevista com Ti Maria. Mas com os argumentos e a companhia do moleiro, lá acedeu a conversar um pouco sobre a sua longa vida de mais de um século.

É na Codiceira (Sertã) que Maria da Conceição vive com o filho mais velho. Foto: mediotejo.net

O que mais impressiona em Maria da Conceição é o facto de se manter autónoma e de possuir uma lucidez e memória impressionantes. O único problema de que se queixa é a falta de audição. Por isso foi necessário fazer as perguntas em voz alta e pausada.

“Sinto-me feliz, estou bem, ainda tenho um bocado de genica”, garante esta “supermulher”, que partilha a casa com o seu filho mais velho, de 80 anos. Mas é ela que trata “do comer, da roupa e das galinhas”, só contando com a ajuda de uma mulher nas limpezas da casa. Até há poucos anos ainda amanhava a horta, mas agora fica-se pelas plantas espalhadas nos vasos.

No centro de saúde da Sertã, nas raras vezes que tem de lá ir, médicos e enfermeiros perguntam-lhe qual é o seu segredo de longevidade e saúde. É que Ti Maria toma apenas um comprimido por dia e é para controlar a tensão. De resto, “sinto-me bem”, garante.

A centenária tem uma memória impressionante. Foto: mediotejo.net

Há mais de 70 anos casou-se e do casamento nasceram dois filhos. Vive com o mais velho enquanto o mais novo reside em Lisboa. Já conta com seis netos e quatro bisnetos. Uma família unida, da qual a matriarca sente muito orgulho.

Junta à lareira, a conversa flui sempre numa lógica de comparação entre o “antigamente”, “no tempo do Salazar”, e o período pós-25 de Abril. “Antigamente não era como agora, os meus pais eram pobres. O 25 de abril foi uma grande coisa”, realça. Uma das conquistas com que está mais grata é a “reformazinha”.

Orgulha-se de não precisar do dinheiro dos filhos. “Não posso dizer que sou uma desgraçada. Basta dizer que tenho a minha reformazinha que para mim chega, não chega para viver à rica, mas para mim chega”.

Ti Maria, prestes a completar 104 anos, mantém-se autónoma na sua casa. Foto: mediotejo.net

Em casa raramente está parada e não gosta de dar trabalho aos outros. Também por isso, quando lhe perguntamos se pensa ir para um lar, responde: “Até que possa rebolar, estou aqui.”

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

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