Foto: mediotejo.net

A aldeia de Amioso está em polvorosa, com a realização do 3º evento “Tradições, usos e costumes na eira”. Esta mostra estreou em maio de 2014, e a partir daí, já assinala três edições contando com a realizada em 2016 e com a que arrancou este sábado, dia 28 de abril, sendo que tem sido levada a efeito de dois em dois anos pela comunidade, nomeadamente através da mão-de-obra da equipa da coletividade local, a Acramioso. Ali, vive-se uma aldeia de outros tempos “em miniatura”.

Fernando Nunes, presidente da direção desta associação há catorze anos, tem dirigido os trabalhos, não fosse perito nas lides de artesão, e até com dotes de carpintaria e tanoaria.

Em declarações ao mediotejo.net, o responsável e porta-voz das gentes da sua terra referiu que este terceira edição surge com o mesmo esforço e trabalho de quando tudo começou. “Muito, mesmo muito trabalho, desde dezembro até ao dia de hoje, todos os fins-de-semana”, confessou.

“Se não houvesse a Associação, o Amioso não era o que era” e este certame só foi possível através do esforço concertado de uma equipa “de sete a dez pessoas e outros a ver, conviver, conversar, e a trazer alguns donativos como comes e bebes que se consumia durante o dia de trabalho, que era sempre ao domingo”, explicou.

“O Amioso não seria a mesma coisa se não fosse o Fernando”, ouve-se, lá de trás, de uma das populares envolvidas no certame, enquanto tirava a broa do forno.

Este ano, entre as várias representações dos usos e costumes que foram a economia-base, durante o século passado, daquela terra, acrescenta-se a novidade: um lagar de vara. E foi “a grande dor de cabeça” de Fernando.

Fernando explica a construção do novo elemento, a réplica de Lagar de vara, ao presidente da Câmara, Farinha Nunes, e ao vereador Rogério Fernandes. Foto: mediotejo.net

“Quando vemos as coisas feitas, parece tudo muito fácil. Mas quando nos lançamos a elas… tornam-se muito difíceis. Mas com força de vontade conseguimos”, afirmou, acabando por pormenorizar um pouco do mecanismo. “É uma réplica de um lagar de vara antigo” com uma “galga feita em madeira”, com “uma azenha cá fora, é tocado a água” e “daí a galga ser leve, para não ser necessária muita água para poder tocar a pedra”.

Na eira, cedida por particulares, Fernando perde-se entre “a tanta coisa” que ali está, naquela representação da aldeia em ponto pequeno, que reaviva a memória e história daquelas gentes.

Por vários pontos, estão distribuídas as tarefas, que são bastantes. Desde serragem de madeira à antiga, descamisada, debulhadora do milho, demonstração de rega à picota, curral de animais/ordenha e fabrico de queijo, expositores de artesanato, fabrico de coscoréis e filhós de forma, demonstração de habitação antiga, gastronomia tradicional da aldeia, moinho a água, fabrico de aguardente de medronho, fumeiro tradicional, tasquinhas e licores, fabrico de broa e pão no forno a lenha, adega tradicional do Amioso, demonstração da resinagem, o lagar de vara, réplica da fonte antiga onde a população ia buscar água para seu consumo, tecelagem em tear antigo, apicultura, e uma mais moderna quermesse com variados prémios artesanais.

Moinho de água. Foto: mediotejo.net

“Tudo isso é uma escola para o futuro, para os nossos jovens é uma lição”

Fernando Nunes não esconde o orgulho em poder contribuir para que as gerações mais novas possam contactar com as memórias antigas do concelho, neste caso concreto, através dos costumes da aldeia de Amioso. “Conseguimos nesta eira fazer uma aldeia em miniatura”, disse.

Questionado sobre o futuro do certame e sobre hipotéticas novas réplicas a integrar o espaço, Fernando Nunes reconhece que, com tanto trabalho, aparece muitas vezes a vontade de desistir. Mas no dia do evento, ao ver tudo nos conformes, fica de tal maneira satisfeito que o orgulho se sobrepõe ao cansaço. “Quando chego a este dia e ao decorrer o evento, eu fico satisfeitíssimo ao ver isto (…) há uma força que me leva a continuar”, exprimiu, notando que quanto ao futuro… “o futuro nos dirá”.

Presente na abertura solene desta atividade, que é já uma marca da localidade, esteve José Farinha Nunes, presidente da CM Sertã, juntamente com os vereadores Cláudia André e Rogério Fernandes e o presidente da Junta de freguesia da Sertã, José Nunes.

Farinha Nunes reconheceu a importância da atividade da associação para a comunidade, referindo que “é muito dinâmica e deve-se muito ao presidente da associação e a todos os elementos que a compõem”.

O autarca mencionou o importante papel da associação para a dinamização da aldeia, afirmando que com o trabalho da mesma “o Amioso tem condições para se viver, para as pessoas se sentirem bem aqui, e atrair pessoas de Lisboa com muita facilidade, quando há uma iniciativa”, algo que atribui ao facto de “as pessoas serem muito unidas”.

Tear, na Casa de Pasto. Foto: mediotejo.net

Para José Farinha Nunes, as aldeias do concelho da Sertã precisam ser mais dinâmicas como o caso de Amioso, notando que “nas aldeias onde não há associação há uma falha muito grande, e acabam por não ter melhoramentos, porque não há quem os peça, não há quem puxe pelas aldeias, ao contrário do que acontece aqui”, retorquiu.

Quanto ao caráter lúdico desta atividade, que costuma ser visitada por alunos do primeiro ciclo do concelho da Sertã, o autarca não tem dúvidas de que é uma ferramenta de sucesso. “Estamos a viver e a contar a história dos primeiros tempos” e “se isto não fosse feito, a primeira fase da agricultura [praticada no Amioso e no resto do concelho] não seria conhecida e perdia-se”.

A programação do certame dura até segunda-feira, dia 30. Este domingo terá lugar um almoço com comidas tradicionais, pelas 12h00, seguindo-se celebração da Eucaristia na Capela Antiga, pelas 15h00. Às 17h00 o acordeão volta a animar o evento, com o jovem João Miguel, e o mesmo sucede pelas 16h00 de segunda-feira, com atuação prevista do Grupo de Acordeão da Sertã.

A Acramioso, Associação Cultural e Recreativa do Amioso, foi fundada em janeiro de 2004, desenvolvendo desde então atividades recreativas, desenvolvimento sociocultural e desportivas/lazer, e promovendo o convívio e bem-estar da população em geral.

Espreite na fotogaleria abaixo um pouco do que poderá encontrar neste certame, que convida a uma visita.

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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