«Padre Manuel Antunes, s.j. – Um Pedagogo da Democracia e da Liberdade» é nada mais, nada menos, que uma viagem pela vida e obra deste padre jesuíta sertaginense, nascido a 3 de novembro de 1918, considerado o “Padre António Vieira do século XX português”. Na Casa da Cultura da Sertã, esta segunda-feira, dia 26 de março, foi inaugurada uma exposição itinerante que marcou o início das comemorações do I Centenário do Padre Manuel Antunes. A exposição estará patente ao público até 6 de abril. O programa do Centenário conta com várias iniciativas ao longo do ano, nomeadamente um Congresso Internacional em novembro com a parceria da Fundação Calouste Gulbenkian.
Um “filho maior da terra” [Sertã], que ali nasceu e se projetou no mundo e um “conciliador de pessoas, de mundos, que pensou o mundo clássico e o moderno/contemporâneo”, assim foi caraterizada esta figura maior da cultura portuguesa, que desde 2005 tem vindo a ser redescoberto por estudiosos e curiosos.
Uma pessoa discreta, que optava por passar despercebida, a “pessoa que esteve por trás, invisível, dos grandes acontecimentos do século XX, mas que deixou a sua marca” e que “contribuía para criar harmonia onde havia desarmonia” torna-se assim bem visível junto do público, dos conterrâneos e dos que, por esta ou outra circunstância, possam vir a querer conhecer mais da sua obra. Ou lembrá-la, como foi o caso de alguns familiares de Manuel Antunes, presentes na iniciativa.
Esta “figura invisível”, como caraterizou José Eduardo Franco, estudioso sobre a vida e obra do Pe. Manuel Antunes e coordenador da Comissão Científica da programação do I Centenário, pretende-se que seja reconhecida, valorizando a sua herança e legado, na esperança de que, dando a conhecer às novas gerações, as possa inspirar para “Repensar Portugal” enquanto um “exemplo para o futuro”.

É neste sentido que a exposição itinerante, patente até dia 6 de abril na Casa da Cultura da Sertã, pretende ser “um aperitivo para conhecer mais sobre a obra do Padre Manuel Antunes”, facilitando a compreensão da viagem da sua vida num “livro aberto que se lê em cinco minutos”, constituído de 12 painéis.
A infância, os jesuítas e a Companhia de Jesus, a literatura, o quotidiano, a revista Brotéria de que foi diretor, a sua ligação ao ensino universitário e à reforma deste, a política, Portugal e a Globalização do Mundo, o futuro, terminando com uma cronobiografia e os 126 pseudónimos d’ “O homem de múltiplas faces” formam esta viagem com ponto de partida em 1918, ano do nascimento “de um dos maiores pensadores do século XX”, referiu José Farinha Nunes, presidente da CM Sertã, o que confirmou igualmente José Eduardo Franco ao longo do seu discurso.
O responsável pela organização e cumprimento do programa, que resulta de parceria com o Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes e com a Universidade Aberta, através da Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização, explicou ainda que ao longo do ano está prevista a “internacionalização” da obra do Padre Manuel Antunes, pretendendo-se a sua tradução “em três ou quatro línguas”.

Na sessão de inauguração foi também apresentado um vídeo evocativo sobre o Centenário, com testemunhos sobre a vida e obra de Manuel Antunes, havendo oportunidade de uma “visita guiada” pela voz e indicação de José Eduardo Franco.
José Farinha Nunes, autarca sertaginense, frisou a importância de lembrar a memória deste pensador que foi “cidadão do Mundo”, “espírito conciliador” e que apesar de “insistentemente convidado para Ministro da Educação, recusou sempre o cargo”, mantendo-se nos bastidores dos grandes movimentos e iniciativas, justificando tudo isto a pertinência de ser prestada homenagem durante este ano, reconhecendo as várias dimensões do sertaginense Manuel Antunes: humana, inteletual, social e religiosa.
O presidente da Câmara Municipal mencionou ainda o “homem que nunca esqueceu as suas raízes”, e cuja herança merece ser lembrada, integrando na longa lista dos seus 126 pseudónimos vários topónimos de aldeias e lugares da sua terra, Sertã. É considerado o autor português que mais pseudónimos utilizou, segundo consta na própria exposição evocativa.

As celebrações da vida e obra do Padre Manuel Antunes acontecerão ao longo deste ano, nomeadamente com a realização de um Congresso Internacional “Padre Manuel Antunes: Liberdade do Saber e o Saber como Liberdade”, entre os dias 3 e 6 de novembro, numa parceria entre a Casa da Cultura da Sertã e a Fundação Calouste Gulbenkian, a inauguração da nova sede da Brotéria, no Bairro Alto (Lisboa), a produção de um documentário televisivo, a publicação de uma biografia ilustrada, e outras iniciativas, que envolvem Maratona de Leitura, Obra seleta, Livro de Aforismos, Manual para Políticos, História Infanto-Juvenil e Busto Comemorativo.
As comemorações serão coordenadas por José Eduardo Franco, presidente da Comissão Organizadora, enquanto Guilherme d’Oliveira Martins será o coordenador da Comissão Científica. As comemorações antunesianas contam com o Alto Patrocínio da Presidência da República Portuguesa.

O Padre Manuel Antunes, sj (1918-1985) é considerado um dos pensadores e pedagogos mais notáveis do século XX português. Ensinou várias gerações de estudantes, cerca de 15 mil, que frequentaram as disciplinas que lecionou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, desde 1957 até à sua morte, em 1985. Como confirmam os testemunhos recolhidos até hoje, Manuel Antunes é uma referência enquanto pedagogo e enquanto hermeneuta arguto e prospetivo da cultura e das sociedades clássicas e contemporâneas. Ainda hoje, é lembrado com saudade e como um modelo de pensamento e de sabedoria por aqueles que foram seus alunos e pelos que tiveram o privilégio de com ele privar.
Está já disponível um site que reúne todas as iniciativas e programa no âmbito das Comemorações deste I Centenário http://centenariopadremanuelantunesj.pt/
Mais fotos da inauguração da exposição na fotogaleria abaixo: