Aquele que se assume como um Centro I&D&I – Investigação, Desenvolvimento e Inovação -, desempenha o papel de um polo de inovação. Como resultado da sua atuação, dinamiza-se a cadeia de valor dos produtos florestais e procura-se alcançar um dos principais objetivos do SerQ: a promoção da competitividade, sustentabilidade e circularidade, através da transferência tecnológica, investigação, demonstração e inovação.
Além disso, o centro localizado na Sertã afirma-se como uma “associação científica, tecnológica, de formação e consultoria”, que aposta na melhoria da qualidade das matérias-primas, desenvolvimento, validação e certificação de novos produtos e soluções, contribuindo para o aumento da competitividade do setor.
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A associação que nasceu em 2015, fruto da vontade de 3 entidades públicas – Município da Sertã, Universidade de Coimbra e Laboratório Nacional de Engenharia Civil -, conta atualmente com vários associados e parceiros empresariais e universitários, bem como outras associações e entidades públicas.
Sofia Knapic, investigadora e coordenadora do SerQ explica que o seu maior foco “tem a ver com a promoção da madeira para a construção, ou seja, fazer uma ligação bastante efetiva entre a floresta e a construção em madeira ou a produtos à base de madeira”.
A fim de alcançar os seus objetivos, o SerQ desenvolve atividades de investigação, desenvolvimento e inovação, valorização e divulgação de resultados, formação de recursos humanos e ainda atividades que contribuam para a modernização e desenvolvimento local, nomeadamente dos setores florestal e dos materiais naturais, bem como dos setores do ambiente e do desenvolvimento rural e sustentável.



Dotado de uma área de investigação, o centro tem “uma área forte de inovação e de desenvolvimento”, explica a investigadora. “Estamos equipados para fazer ensaios à escala real, todo o tipo de ensaios, desde mecânicos a físicos e alguns químicos são feitos aqui. Ensaios aos produtos que podem ser ou por colaborações em projetos com outro tipo de instituições, ou por solicitações diretas das empresas e aí numa modalidade de prestação de serviços”.
Os domínios de atuação do SerQ não se restringem à produção e desenvolvimento de produtos. Pelo contrário, abrangem toda a cadeia de valor desde a produção até à colocação do produto de base florestal no mercado. Aliam a floresta à indústria transformadora de madeiras, que por sua vez se interliga com a construção e com a sustentabilidade, através da promoção de uma economia circular.


“A forma como essas quatro áreas estão interligadas e o facto de elas existirem, está muito sustentado na qualificação dos recursos humanos que nós temos aqui dentro, nas áreas de especialidade de cada um. Neste momento temos recursos humanos com especialização em engenharia florestal e engenharia civil, também em economia, em gestão e design”, refere a investigadora. “Portanto, nós conseguimos aqui ter pessoas que trabalham nestas áreas todas e por isso é que é fácil de as interligar, porque tempos conhecimento para o fazer”, acrescenta.
No entanto, os domínios de toda a cadeia de valor interligam-se por si só, dada a natureza do processo. “Se estiver a falar de construção baseada em produtos de origem florestal tem de ser sustentável. Só isso por isso já é fácil embrulhar todas estas áreas, só pela definição do que é que é a construção sustentável com base em produtos naturais e de origem florestal”, diz Sofia.

A coordenadora afirma que no SerQ se procura “dar primazia a produtos endógenos. Ao nível dos produtos, a lógica é a valorização dos mesmos e tentando sempre que essa valorização se repercuta ao longo da cadeia toda de valor da floresta, que vem desde a árvore, onde eu tenho o produtor e a gestão florestal, até ao produto final”, refere Sofia Knapic.
A produção de conhecimento aliada à promoção da construção em madeira
Na base da cadeia de valor setorial do SerQ encontra-se a floresta. O foco passa pela valorização da madeira e dos produtos derivados enquanto matérias-primas de excelência para o processo de construção. A produção de conhecimento gera a sua transmissão, pelo que o SerQ procura encontrar soluções que permitam aos proprietários e produtores florestais otimizar e valorizar os seus recursos florestais.
O trabalho de pesquisa e investigação leva ao desenvolvimento de utilizações inovadoras para os recursos florestais e resíduos da exploração, que resultam em novos produtos ou produtos melhorados para fins energéticos e para a construção civil à base de produtos de madeira, ou outros produtos de base florestal.
A localização estratégica, numa região de grande densidade florestal, foi um importante incentivo à criação do Centro de Inovação e Competências da Floresta. Para Sofia Knapic, “deve-se à nossa localização no centro do país, no meio do pinhal e, portanto, isso também foi uma das razões de querer ter aqui este centro para dinamizar toda a região”.
Para além de produzir conhecimento e auxiliar no desenvolvimento de algumas empresas do setor, o SerQ é também um importante mecanismo de auxílio à economia da região. “Emprega pessoas e, portanto, traz aqui um acréscimo de recursos humanos na região, mas também porque depois tem uma forte interatividade com as escolas da região”, sublinha a coordenadora.
O centro localizado na Sertã desempenha também um importante papel no ensino, apoiando universidades e escolas da região. “Ajudamos algumas teses de mestrado e de doutoramento, muito em colaboração com a universidade de Coimbra. E depois a parte das escolas e aí com o apoio de algumas atividades que dinamizamos para as escolas, aí já na Sertã, portanto escolas básicas e secundárias”.
Do FabLab à incubadora de empresas: as diversas vertentes do SerQ
É no FabLab que a criatividade ganha asas e é posta em ação. Trata-se de um espaço criativo, aberto a toda a comunidade, para o desenvolvimento de novas ideias e produtos inovadores. Neste espaço, equipado com vários equipamentos para o desenvolvimento e prototipagem, “a imaginação é o limite”.





“Aí eu posso aliar a madeira e os produtos de madeira às ideias e à conceção de design e arquitetura. Não há muito limite a não ser a nossa própria imaginação (…). No Fab Lab temos máquinas que nos dão auxílio ao que nós queremos criar, mas é um processo artístico de criação”, vinca a investigadora.
Equipado com máquinas fresadoras, máquina de corte de vinil, máquina de corte e gravação a laser e, ainda, impressoras e scanner 3d, no FabLab trabalham-se diferentes materiais. A madeira e os derivados adquirem um papel de destaque, no entanto, os equipamentos permitem o recurso a outros materiais tais como alumínio, PVC, acrílico, pele, vidro, etc.
O Centro de Inovação e Competências da Floresta integra também uma vertente de incubação, estando para isso dotado com espaços dedicados à incubação física de empresas em início de atividade (start up).
As empresas incubadas no SerQ dispõem de um espaço com eletricidade, acesso à internet e telefone, podendo ainda contar com apoio logístico de receção e encaminhamento de chamadas. Além da incubação física existe também a possibilidade de incubação virtual.
Neste momento são seis as empresas incubadas, a LABSEAL, a Geoterme, Present Technologies, a Alpha-IT, 2BFOREST e a Casa Lourenço. Sofia Knapic destaca as vantagens da vertente de incubação para as empresas.
“Têm acesso obviamente a apoio da nossa parte (…). Empresas que sejam mais da nossa área têm mais vantagens de estar aqui connosco, por exemplo, a 2BFOREST já participou em candidaturas a projetos connosco. Sempre que vemos que nos nossos projetos, nas nossas ações, há algum tipo de know how que podemos ir buscar a essas empresas, estabelecemos pequenas colaborações com elas nesse sentido e isso é uma das vantagens aqui para a região”, explica.
Obstáculos e desafios a um centro de investigação no interior do país
Para além dos sócios fundadores, o SerQ assenta também num conjunto de associados, refere a investigadora. “Associados indústria e associados ID, ou seja, temos desde indústrias ligadas à construção e à madeira e depois temos uma quantidade de centros de investigação, universidades e institutos politécnicos que são todos nossos associados (…) e que nos permitem depois também ter esse know how completo e fazer essa ligação”.
A missão passa, assim, por “uma transferência da tecnologia e do conhecimento”, tanto aquele que é gerado no centro, como o que é transmitido pelas universidades e centros de investigação associados. O impacto no setor empresarial da região é notório, uma vez que ajuda a fazer “essa transferência toda para o tecido industrial de apoio à indústria madeireira aqui da região centro”, diz Sofia Knapic.
Sendo um centro de investigação localizado no interior do território, o SerQ enfrenta diariamente alguns obstáculos. Para a coordenadora, o primeiro prende-se com a dificuldade de atrair recursos humanos.
“É conseguir atrair recursos humanos em quantidade e qualidade suficiente para levar a cabo aquilo que nós pretendemos fazer. Até agora temos tido bastante sorte com isso, mas é sempre um desafio e o desafio tem muito a ver com a localização. Nem sempre é fácil atrair pessoas para vir para o interior, como se sabe”, refere.
Às dificuldades relacionadas com a localização geográfica somam-se as do domínio do financiamento. “É um bocadinho por isso que nós agora começámos a diversificar bastante algo que no início estávamos muito mais focados, na investigação e desenvolvimento sempre aliados às empresas e muito alicerçados em projetos. Neste momento estamos a abrir o leque para a prestação de serviços a empresas porque começámos a ser bastante solicitados, um bocadinho resultado das parcerias todas com os projetos”.


Sofia Knapic acrescenta que “uma coisa acaba por alimentar a outra, mas sentimos necessidade também de abrir esse leque para alargar a diversidade de fontes de financiamento, porque quando uma pessoa está só ligada às fontes de financiamento da investigação e desenvolvimento, muitas vezes tem momentos como por exemplo acabar um quadro comunitário e começar outro. Há sempre ali períodos que não são tão agradáveis e que às vezes são um bocado desafiantes para conseguir gerir e ter resultados”.
O trabalho tem dado frutos e os desafios para o futuro já têm chegado às instalações do Centro da Sertã. “Cada vez mais temos uma maior solicitação por parte das empresas com que trabalhamos e mesmo dos outros centros, desafios para novas parcerias e agora, felizmente também já começa a haver desafios que vêm de fora. (…) Já temos outras propostas para outros passos e pronto, é assim que vamos progredindo”.
Para o futuro, a investigadora e coordenadora do SerQ deixa um desejo: o de “crescer sustentavelmente e continuar a fazer o que fazemos melhor”, conclui Sofia Knapic.