Fogaréus © Paulo Jorge de Sousa

21h00. O movimento circundante ao centro histórico já se fazia notar. A pé, os crentes, quer aqueles que se movem pela fé, quer os que se movem pela beleza de um património histórico e cultural que é tradição sardoalense, dirigiam-se para a Praça da República, junto ao pelourinho. Pelas ruas, ouviam-se passos, sussurros, respirava-se misticismo. As ruas escuras eram traçadas a pontos de luz nos muros, sacadas das janelas e portas. Aproximava-se a hora da procissão do Senhor da Misericórdia, comummente conhecida como Fogaréus.

A todo este cenário se juntaram centenas de crentes à formação que daria minutos mais tarde forma à mais imponente das procissões da Semana Santa de Sardoal, partindo da Igreja da Misericórdia, com as Bandeiras da Misericórdia, os archotes, as candeias, bem como as réplicas dos painéis, aproximadamente datados do século XVIII, e que são pertença da Misericórdia, representando Cenas da Paixão de Cristo.

Passo a passo, na batida da marcha fúnebre entoada pela Filarmónica União Sardoalense que vinha em direção à Igreja do Convento de Santa Maria da Caridade, na Santa Casa da Misericórdia de Sardoal, local onde se celebrou o Sermão do Mandato. No ar, o cheiro a cera derretida das velas e petróleo que já ninguém estranha.

Dos mais novos aos mais velhos, a fé e a força de vontade viam-se estampadas no rosto iluminado pelas velas cuidadosamente seguradas em frente ao tronco, que aqueciam as mãos numa noite em que o vento soprava frio, mas não o suficiente para demover a comunidade de cumprir, em mais um ano, por fé ou promessa, esta procissão.

No Centro Cultural a iluminação roxa combinava em harmonia com este primeiro grande evento da Semana Santa. Pela escadaria, entre a avenida de freixos centenários, faziam-se ouvir suspiros de missão cumprida. Aos poucos, nos patamares e degraus, ia-se sossegando a alma depois de mais um ato de fé. O primeiro de três até domingo de Páscoa, com a celebração da ressurreição de Cristo.

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Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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