A visita oficial à Feira Mostra de Mação ocorreu na sexta-feira, dia 30 de junho, contando com presença do secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, João Paulo Catarino. Para o governante, Mação é “um exemplo nacional”, algo que deve ser motivo de orgulho para os autarcas e políticos locais, como para toda a comunidade, sendo o concelho com maior número de Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP), e estando “mais adiantado” no processo de candidatura. O secretário de Estado sublinhou ainda o facto de Mação ser quem “mais investiu na floresta à conta do orçamento municipal”.
Depois da tradicional arruada acompanhada pela Sociedade Filarmónica União Maçaense, e entre a comitiva de convidados, entre eles políticos nacionais e locais, bem como vários representante de entidades e associações do concelho e da região, seguiu-se a visita aos mais de 80 expositores do certame.
O secretário de Estado, natural de Proença-a-Nova e ex-presidente de Câmara, profundo conhecedor dos problemas da floresta e das regiões do interior, encontrou caras conhecidas e amigos de longa data, aproveitou a visita pelos stands para se inteirar e perceber a realidade maçaense e de cada produtor, artesão ou responsável pelas coletividades, empresas e instituições de solidariedade social do concelho.
Já no stand da autarquia, junto do expositor da AmarMação, os alunos do Curso Profissional de Restauração e Hotelaria serviram um beberete com comes e bebes feitos a partir de produtos endógenos e com recurso a produtores locais, onde não faltou o presunto e os enchidos, mas também o vinho maçaense, a água de Envendos, e ainda salgados e doces à base de queijo, mel e pão.
Ao lado, o expositor da Aflomação, com um balcão aberto à população no sentido de promover os projetos de implementação das nove Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP).
Na ocasião, foi apresentado e reforçado o projeto das Áreas Integradas de Gestão da Paisagem pelo presidente da Aflomação e vice-presidente da autarquia maçaense, António Louro.

António Louro fez uma apresentação explicativa e de sensibilização sobre este projeto e um ponto de situação, apelando aos proprietários florestais do concelho.
“Fecha-se, neste momento, um ciclo”, disse, aludindo aos pedidos de apoio e ajuda ao longo de vinte anos, enquanto o concelho ia sendo dizimado por fogos florestais e o concelho ia investindo a custas próprias na área florestal, para a prevenção de incêndios, a sustentabilidade da floresta e o ordenamento da mesma.
O autarca frisou a importância das verbas atribuídas por via do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que possibilitam a intervenção efetiva no terreno, e que poderá disponibilizar até 45 milhões de euros.
António Louro deu conta de estarem em conclusão a apresentação dos projetos de OIGP (Operação Integrada de Gestão da Paisagem), sendo os projetos de execução das nove AIGP. “Já entregámos o projeto dos Envendos, a Ortiga está praticamente concluído. O Castelo, Amêndoa e Penhascoso serão entregues durante o próximo mês. Está aqui ultrapassado mais um passo. Falta ir para o terreno”, contextualizou.
O presidente da Aflomação pediu aos proprietários que se informem, esclareçam e que ajudem a transmitir o projeto, mas que também leiam e façam a sua escolha e participem nesta vontade de fazer diferente.
“Só precisamos que façam uma escolha: que nos digam se querem gerir por si, ou se querem gerir conjuntamente através da entidade gestora”, disse, lembrando que “não se tira nada a ninguém” em termos de propriedade.
“A decisão dos proprietários é soberana, precisamos é que a assumam, precisamos que digam qual é a vossa vontade. Temos uma oportunidade história que nos é apresentada, o futuro será com certeza atroz se nós não formos capazes de a aproveitar. Na Aflomação tentamos fazer tudo o que está ao nosso alcance”, disse, notando que a Aflomação conta hoje com 20 funcionários, 7 dos quais técnicos a trabalhar todos os dias.
“Façam as vossas escolhas, informem-se. Não é obrigatório fazer escolha nenhuma, não é obrigatório gerir em conjunto. O que é obrigatório é escolher uma escolha. É preciso chegar ao pé de nós, e dizer «quero gerir por mim»”, insistiu, perante um plateia atenta e interessada no tema.
Agradeceu na pessoa do secretário de Estado ao Governo, pela “oportunidade histórica que se apresenta” ao concelho, à região e ao país, mas relevou também que a janela de oportunidade acarreta “uma enorme responsabilidade. Será imperdoável se não conseguirmos aproveitar”, vincou.
Como o foco da iniciativa esteve na floresta e na necessidade e oportunidade de transformar a paisagem e com isso alavancar o desenvolvimento sustentável e reordenamento do território, Vasco Estrela, presidente da Câmara de Mação, deixou algumas mensagens, a par da apresentação do vice-presidente da autarquia.
“A responsabilidade que temos em mãos, enquanto concelho de Mação, é de uma importância fundamental. Disse ao senhor Primeiro Ministro, e também agradeci esta oportunidade, que a partir de agora está nas nossas mãos fazer diferente para que, eventualmente, os resultados possam ser diferentes”, notou. “Se fizermos igual, os resultados vão ser iguais”, afirmou.
“Espero que realmente todos tenhamos consciência do momento histórico que estamos a viver”, disse, dirigindo-se a António Louro, referindo que “tens a Câmara Municipal de Mação, e a esmagadora maioria do concelho de Mação, ao teu lado, para fazer aquilo que tem sido feito. Até que eu possa sabes que contarás comigo para aquilo que for necessário”.
Lembrando que o secretário de Estado João Paulo Catarino foi responsável no passado pela Unidade de Missão para a Coesão Territorial, altura em que se colocou “na agenda política a coesão territorial”, introduziu este tema crendo que é altura de se avaliarem resultados da estratégia dos últimos anos.
Sobre a coesão territorial, o presidente de Câmara disse que “os resultados não são animadores”, considerando que a coesão territorial “é cada vez mais uma ilusão” e que os Censos 2021 vieram comprovar isso. “Nós, que aqui vivemos, sentimos diariamente este descoesão territorial. Sr. secretário de Estado, enquanto membro do Governo, queria também dar-lhe um recado”, disse.

Vasco Estrela aproveitou o momento para deixar alguns recados ao Secretário de Estado para que os levasse ao Governo, fazendo um discurso incisivo em temas fracturantes que estão na ordem do dia no concelho, região e país, focando-se na defesa do projeto para um aeroporto em Santarém em nome da coesão territorial e sobre o estado da Saúde e a falta de médicos na região e país para cuidados primários de saúde.
“Se os estudos o permitirem, Santarém deverá ser o local do futuro aeroporto de Portugal, que servirá Lisboa, mas que servirá também o país e poderá contribuir decisivamente (…) para a coesão territorial”, mencionou.
Lembrando que João Paulo Catarino foi também autarca local, reconheceu que também sabe da importância da política pública e investimentos públicos nos territórios no Interior do país. “Penso que nada melhor que um aeroporto, ainda por cima com custos muito pouco significativos – comparado com os outros – para o país, para que esta coesão pudesse ser alcançada”.
Em jeito de “desabafo e lamento”, abordou a situação da Saúde e cuidados de saúde primários no território de Mação, em problema que afeta também a região envolvente e o próprio país.
“Como é que é possível invertermos a tendência de despovoamento dos nossos territórios, como é que é possível chamarmos população para os nossos territórios, se temos estas realidades? A 100 metros de nós está o centro de saúde. Onde provavelmente esta noite alguns jovens e menos jovens estarão ainda aqui na festa, estarão pessoas de idade à porta daquele centro de saúde para terem esperança de conseguir uma consulta. Eu não peço milagres ao Governo, nem peço milagres ao país. Peço sinceridade”, afirmou.
Vasco Estrela lembrou que o Governo tem “obrigação de dizer a todos os cidadãos do país aquilo com que se pode contar em matéria de saúde”, o que, no seu entender, não tem sucedido nem apresentadas soluções.
“Temos de ter previsibilidade nesta matéria. E se as coisas realmente estão mal, estão muito mal, temos de as assumir e temos de dizer qual o horizonte onde eventualmente as coisas podem ser resolvidas”, defendeu.
Por fim, aludindo ao trabalho que tem sido feito para a dinamização do concelho e desenvolvimento económico, o autarca disse que têm sido feitas infraestruturas e reabilitações, tentando captar empresas.
“Temos investimentos importantes que vão ser iniciados em breve, como a requalificação urbana em Cardigos e em Mação, o núcleo museológico em Envendos e temos um pacote de mais de 5 milhões de euros para investir na área da Habitação. Espero que estes e outros investimentos possam ajudar a desenvolver o nosso concelho, são investimentos para médio/longo prazo, que espero eu, possam vir a dar frutos para que tenhamos um concelho mais próspero e mais desenvolvido”, discursou, apelando ao espírito de união e participação dos cidadãos.
Terminou agradecendo ao movimento associativo do concelho, estando 25 associações a colaborar com o município para a realização da Feira Mostra, seja nos espaços de restauração, seja nas atividades complementares do programa.
Seguiu-se o discurso de João Paulo Catarino, que prontamente respondeu a todas as questões colocadas em cima da mesa e demonstrou a sua visão das diversas matérias e problemas.

Após pedido formulado por António Louro sobre a prorrogação das isenções das tabelas de registo e notariado, disse o secretário de Estado que “está prevista e vai ser alargada para lá de agosto”.
Quanto ao projeto anunciado de investimento privado para um aeroporto em Santarém, João Paulo Catarino disse entender que “para a coesão nacional a localização de Santarém ou na região fará muito mais sentido” e deixou desafio ao PSD, na presença dos deputados João Moura, Inês Barroso e Isaura Morais, eleitos pelo distrito de Santarém, lembrando que o Primeiro-Ministro disse que gostava que a decisão nesta matéria fosse tomada por unanimidade.
“É importante que o PSD também se envolva, também nos ajude a defender essa localização, porque é a essa localização que mais interessa ao país”, afirmou.
Quanto à saúde, disse que é uma área que deve preocupar todos, garantindo que “se o problema da saúde fosse dinheiro, estava resolvido, porque todos os anos o orçamento da saúde aumenta em muitos mil milhões de euros”.
“Não é dinheiro, é gestão. Eu lembro-me de há 20 anos atrás, um Bastonário da Ordem dos Advogados dizia que estávamos a formar tantos médicos que íamos ver médicos nas caixas de supermercado. Esses, provavelmente, têm muita responsabilidade na falta de médicos que temos hoje em Portugal”, afirmou.
“É um conjunto de problemas que temos de resolver, não é falta de dinheiro, porque todos os anos o Orçamento de Estado põe mais dinheiro na saúde e nós estamos muito melhor, como todos nós sabemos. Os nossos problemas são efetivamente muitos, andámos e evoluímos imenso nos últimos tempos, mas precisamos evoluir muito mais, precisamos de o fazer”, notou, deixando uma palavra de esperança.
“E temos aqui uma oportunidade única na questão do poder florestal e agrícola e para isso estamos todos convocados a responsabilidade é tanto da Câmara, como da Aflomação, como do Governo, temos que o fazer em conjunto. Por isso, a palavra hoje é de esperança, sr. Presidente”, disse dirigindo-se a Vasco Estrela, indicando constatar “mais uma vez, o excelente trabalho que estão a fazer” no concelho de Mação.
Na cerimónia que concluiu a visita oficial à Feira Mostra de Mação foram ainda distinguidos os representantes das empresas do concelho que alcançaram o estatuto PME Líder destacando-se pelo seu desempenho em 2022, entre as quais Construmação – Construções e Terraplanagens, Unipessoal Lda, Distrimação – Supermercados Lda, Foresmad – Gestão Florestal, Lda, e Indústrias VIP Unipessoal Lda.