Portugal atravessa uma situação de seca, que é mais severa no sul, mas atinge todo o território nacional e a situação preocupa também Sardoal. O executivo municipal já equaciona reativar alguns furos, nomeadamente para regar jardins e espaços verdes, como poderá acontecer no Ribeiro Barato. Mas para Miguel Borges importa mudar consciências e perceber que a água é um bem escasso.
Devido à situação de seca o Governo decidiu, no final de janeiro, travar a produção de energia elétrica em algumas barragens, designadamente em Castelo de Bode. A preocupação com a seca esteve em cima da mesa no dia 03 de fevereiro, na reunião da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, mas já tinha sido levada a reunião de executivo de Sardoal no dia anterior.
O vereador do Partido Socialista alertou para a situação de seca e para a necessidade de “racionalização do consumo da água” deixando um apelo nesse sentido. “Todos temos visto nas notícias que as reservas estão a níveis completamente alarmantes, associado a isso o facto de, para o próximo mês, não haver qualquer previsão de eventuais chuvas, ao que parece vamos ter uma situação de seca severa”, referiu Pedro Duque falando na eventualidade de “recorrer a fontes de captação alternativas, que existiam no passado”.
ÁUDIO | VEREADOR DO PS, PEDRO DUQUE:
À margem da reunião de Câmara, o presidente Miguel Borges (PSD) defendeu, em declarações ao nosso jornal, “uma atitude preventiva” em relação à escassez de água. “A racionalização da água que é um bem escasso”, disse lembrando que alerta para o facto “há muito tempo” nomeadamente quanto aos tarifários reduzidos.
No momento, toca a todos os cidadãos, e não apenas aos políticos, “pensar o que cada um pode fazer para reduzir o consumo de água”. Num futuro próximo e a nível mundial “se nada for feito, a água pode provocar situações geoestratégicas de alguma gravidade e como tal temos de racionalizar o nosso uso destes recurso que é finito”, analisou.
Miguel Borges concorda com a decisão governamental de limitar a produção de energia elétrica a partir de recursos hídricos. Em Sardoal “aquilo que fazemos é aquilo que sempre fizemos. Aliás esta situação não é nova”, nota, recordando uma situação de seca no verão há cerca de três anos que levou à implementação de medidas.
E admite que a mitigação do problema, em Sardoal, pode passar pela reativação de alguns furos “não para consumo mas, por exemplo, para rega de alguns jardins, porque para consumo humano temos o abastecimento da barragem de Castelo de Bode”. Um desses furos encontra-se no Ribeiro Barato.
No entanto, nota que, com a rega através de furos, embora evite gastar água da rede de abastecimento público, se estará a “gastar um recuso hídrico. Não é por a água vir de um lado ou vir de outro, importa reduzirmos a nossa prática”, eventualmente reduzir o número de regas, porque “mesmo a água que venha do furo tem de ser racionalizada”, defendeu.
ÁUDIO | PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL, MIGUEL BORGES (PSD):
O mês de janeiro foi o quinto mais quente desde 2000, tendo-se registado a temperatura máxima mais alta dos últimos 90 anos, e foi também o segundo mais seco, segundo dados divulgados no sábado, dia 05 de fevereiro.
De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a temperatura média do ar fixou-se nos 9,5 °C no mês passado, o quinto valor mais elevado desde 2000.
Os valores diários de temperatura máxima foram quase sempre superiores ao valor médio mensal, com destaque para os períodos entre os dias 1 a 3 e 27 a 31 de janeiro, em que se registaram desvios superiores a 4 °C.
Por outro lado, desde 1931 que não havia um janeiro com uma média da temperatura máxima tão elevada, que chegou aos 15,29 °C, mais 2,20 °C em relação ao valor normal registado no período 1971-2000.
O valor médio de temperatura mínima do ar foi de 4,02 °C, inferior à normal (menos 0,52 °C) e, segundo o IPMA, apesar de ter começado com valores acima da média, foi quase sempre inferior a partir do dia 13, com destaque para o período de 17 a 26 de janeiro.
Quanto à precipitação, o mês passado foi o sexto mais seco em 90 anos e o segundo pior desde 2000, superado apenas por janeiro de 2005.
O relatório do IPMA acrescenta que o valor médio da quantidade de precipitação foi muito inferior ao normal registado entre 1971 e 2000, correspondendo a apenas 12%.
“Verificou-se um agravamento muito significativo da situação de seca meteorológica, com um aumento da área e da intensidade, estando no final do mês todo o território em seca com 1% em seca fraca, 54% em seca moderada, 34% em seca severa e 11% em seca extrema”, refere o instituto.
Relativamente ao índice de percentagem de água no solo, registou-se uma diminuição significativa em relação ao final do mês de dezembro, e o IPMA destaca os valores inferiores a 20% nas regiões Nordeste e Sul, com muitos locais dessas regiões a atingir “o ponto de emurchecimento permanente”.
c/LUSA