Reunião de Câmara de Sardoal. Créditos: mediotejo.net

As redes sociais fizeram hoje estalar o verniz entre o presidente Miguel Borges (PSD) e a oposição socialista. Em causa estão declarações de Miguel Borges à comunicação social relativamente ao desemprego no concelho de Sardoal. A transcrição de parte de uma entrevista no perfil do presidente na rede social Facebook e as observações da oposição que consideram as “reflexões” do presidente “ofensivas”, levaram Miguel Borges a apresentar uma declaração política.

Há muito tempo que as redes sociais são utilizadas como instrumento e canal para fazer política. Em Sardoal não é diferente e foi nesse enquadramento que as considerações de Miguel Borges à comunicação social, relativamente ao desemprego no concelho de Sardoal a propósito de uma nova empresa nas antigas instalações da Sarplás, fizeram estalar o verniz entre o presidente da Câmara Municipal e os vereadores da oposição.

Enquanto Miguel Borges criticava a postura dos eleitos do Partido Socialista, esta quarta-feira, 5 de junho, durante a reunião de executivo, os vereadores Pedro Duque e Carlos Duarte criticavam a posição do presidente relativamente ao desemprego no concelho.

Pedro Duque indignou-se com as palavras do presidente por ter passado a mensagem, segundo diz, que os desempregados do concelho “não querem trabalhar” e Carlos Duarte notava que “as reflexões” do presidente na sua página pessoal do Facebook, que envolvem uma frase de um dramaturgo irlandês, poderiam ser “ofensivas”.

Em resposta Miguel Borges disse ser “mentira” e leu uma transcrição da entrevista à rádio Antena Livre publicada na referida rede social. Depois disso, Pedro Duque admitiu poder ter feito “uma interpretação extensiva” pedindo esclarecimentos, e Miguel Borges insistiu que “tudo o que for além disto, e está gravado pelos órgãos de comunicação social, é uma interpretação abusiva das minhas palavras”. No final da discussão, o presidente decidiu apresentar uma declaração política.

“Ao longo dos últimos meses, tenho vindo a ser confrontado com uma nova realidade do Século XXI – A utilização das redes sociais. Sou um claro adepto desta nova forma de comunicação, no entanto, como em tudo na vida, tem o seu revés, ou seja, a má utilização destas mesmas ferramentas”, começou por dizer.

E continuou: “A criação de perfis falsos, procurando assim encobrir a falta de coragem que alguns têm, a ilegitimidade de abordarem determinados temas, ou o facto de terem, como diz o povo ‘telhados de vidro’, tem provocado a utilização cobarde destes meios numa tentativa de denegrir a minha imagem, o meu caráter e o de todos os que comigo estão. Não quero de modo algum estabelecer qualquer tipo de relação entre o anteriormente dito e os eleitos locais da oposição, mais concretamente o Partido Socialista. No entanto, não posso deixar de afirmar que ultimamente a postura do PS nas redes sociais, em nada contribui para o bom ambiente político”, nota.

Miguel Borges fala então da “interpretação abusiva”, que assegura “nada terem a ver” com as suas palavras, referindo-se à instalação de uma nova empresa nas antigas instalações da Sarplás.

“Naquilo que, em algum Concelho seria motivo de júbilo, ou o é quando se passa noutros Concelhos, o PS viu uma janela de oportunidade para colocar os sardoalenses contra mim, repito, através da interpretação abusiva das minha palavras, com uma enorme falta de ética e de cultura democrática. O que eu disse, repito-o sem problema algum, comprovadamente. Quem põe na minha boca aquilo que não disse, está a utilizar-se dela para dizer o que pensa mas não tem coragem para dizer” afirmou.

Na oportunidade, Miguel Borges indicou que “na passada segunda-feira, num encontro de Gabinetes de Apoio ao Emigrante, o Senhor Secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, disse: ‘As nossas empresas estão com grande dificuldade em recrutar mão-de-obra, não só especializada assim como indiferenciada’. Se têm dúvidas perguntem-lhe, faz parte do Governo Socialista”, sugeriu.

Por fim lamentou “ver eleitos locais do PS tecerem comentários que revelam uma grande ignorância e enorme impreparação para desempenharem cargos para os quais foram eleitos. Dou um exemplo – a criação de um gabinete de apoio ao desempregado (se não fosse um assunto sério, até daria vontade de rir). Este eleito não sabe que desde 1 de setembro de 2015, o Sardoal tem a funcionar um Gabinete de Inserção Profissional, na Loja do Cidadão, que na passada sexta-feira interrompeu o seu funcionamento, pelo menos nos mesmos moldes que até aqui, porque o Governo, atualmente Partido Socialista, considerou que já não se justifica”.

No entanto, admitiu não conseguir “avaliar qual é o comprometimento em tudo isto dos senhores vereadores Pedro Duque e Carlos Duarte”.

E conclui que “infelizmente a política está cheia de casos em que não se olham a meios para atingir os fins. Conhecemos o que é possível ler e comprovar nas redes sociais mas sabemos que muito mais é dito, na tentativa de enganarem os sardoalenses”.

Recordou o seu discurso de tomada de posse como presidente da Câmara do Sardoal no segundo mandato, referindo “a indignação que causou no Partido Socialista. Eu sabia do que falava e o tempo tem-me dado razão, também aí não retiro nem uma palavra. A nossa honra, a nossa dignidade, o nosso carácter, o nosso passado, falam por nós. É este o nosso escudo contra quem não sabe estar nesta vida, quer ela seja política ou não.”

À margem da reunião de Câmara Municipal, em declarações ao jornal mediotejo.net, o vereador Pedro Duque disse tratar-se de uma declaração política “genérica” de situações que considera “banais” e “na sequência dos últimos acontecimentos”, apesar do presidente referir que “nos últimos meses ocorreram determinadas situações, não estou a ver quais são as situações a que se refere. Se há situações com as quais se deparou nas redes sociais diria que são questões decorrentes” do exercício de cargos de soberania, “é o ónus de quem exerce esses cargos”, reforçou.

Considerou importante a ressalva de Miguel Borges relativamente ao PS Sardoal. “Quando temos uma posição não nos escondemos atrás de qualquer perfil, eu ou o vereador Carlos não temos qualquer problema em confrontar o presidente na sede própria ou nas redes sociais”, observou Pedro Duque.

Recusando “sobrevalorizar a questão em causa”, ainda assim considera “inoportuno falar nas questões” enunciadas em reunião de câmara por Miguel Borges, ou seja, as questões abordadas na tomada de posse.

“Falou numa alegada campanha escura da nossa parte, e foi precisamente o contrário. Quem foi vítima de uma campanha obscura, de várias cartas anónimas, de várias maledicências, de várias vilipendiações do património pessoal, nomeadamente viaturas, fui eu e o candidato à Junta de Freguesia de Sardoal. Foi o PS”, afirmou.

Pedro Duque disse que na época convidou o presidente “a materializar, a identificar os factos em causa e não conseguiu. É uma campanha da vitimização que já nos vai habituando”. No entanto, não considera que este episódio vá “condicionar” a conduta dos eleitos do PS ou a “relação” no futuro.

“É um declaração política. Não lhe dou valor substancial”. Carlos Duarte disse subscrever as palavras do seu camarada de partido.

Também à margem da reunião, Miguel Borges reconheceu ao mediotejo.net haver “muita interpretação errada nas redes sociais”.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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