Com cerca de 3.500 habitantes e um único médico de família a prestar serviço a todo o concelho de Sardoal e freguesias de municípios limítrofes, o centro de saúde de Sardoal vai contar a partir desta segunda-feira com um reforço de um médico três dias por semana, entre as 17h00 e as 20h00, disse hoje ao mediotejo.net o presidente da autarquia. Miguel Borges defende uma “norma travão” à saída de médicos recém- formados para o privado ou para o estrangeiro e que os mesmos devem contribuir para a solução, integrando o SNS .
Altamente crítico pela falta de médicos de família no concelho e no país, Miguel Borges (PSD) afirmou que a falta de médicos “está a matar pessoas” e defendeu a criação de uma “norma travão” que, “atendendo à situação de emergência nacional, “impossibilite que médicos recém-formados vão para o privado ou para o estrangeiro, sem antes darem o seu contributo ao país”, integrando durante alguns anos o Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma medida que a classe política devia assumir e que, entende, resolveria o problema.

ÁUDIO | MIGUEL BORGES, PRESIDENTE CM SARDOAL:
O autarca, questionado sobre as suas expectativas pela criação de uma Unidade Local de Saúde (ULS) no Médio Tejo, situação que vai resultar da extinção do ACES e do CHMT e deixar a cargo de uma única organização a gestão dos cuidados de saúde primários e hospitalares, a partir de janeiro de 2024, disse que a medida poderá ser boa, pela articulação entre serviços e rentabilização de recursos, mas que o problema de fundo é a falta de médicos e que, sem eles, “não há milagres”.
“Estamos abertos à mudança”, começou por dizer Miguel Borges relativamente à decisão da criação da Unidade Local de Saúde do Médio Tejo, um sistema defendido pela Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) por ser um modelo que integra numa mesma organização órgãos de gestão e administração conjuntas. A medida já havia sido debatida em reunião de executivo.
Ou seja, “pode-se ganhar alguma escala” se “houver uma mudança de mentalidades” permitindo “uma articulação maior entre as duas partes”, afirmou Miguel Borges, tendo feito notar que tal sistema “promove um quebrar de barreira entre cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares”, a par da “rentabilização de recursos”.
No entanto, as dúvidas do presidente subsistem uma vez que, segundo considera, “ninguém está a a mexer no problema de fundo: a falta de médicos”.
“O problema subsiste e é muito mais profundo; é a falta de médicos”, uma vez que “os hospitais têm falta de profissionais e quase diariamente recebo informações que determinados serviços hospitalares estão encerrados, os centros de saúde estão como estão, e não sei como vamos fazer o milagre da multiplicação dos pães” – isto é, dos profissionais de saúde.
“Preocupamo-nos com a covid-19, muito bem! Preocupamo-nos com a guerra na Ucrânia, muito bem! Mas acho que não nos estamos a preocupar devidamente com um problema que mata pessoas. Um diagnóstico ou um tratamento que não é feito atempadamente, mata! E é isto que se está a passar neste país.“
Miguel Borges
Em Sardoal “continuamos com uma médica de família que tem sido uma excelente profissional, que tem trabalhado bastante. Mas continuamos com uma coisa que me custa muito: às 7h00 é lamentável ver pessoas na fila no nosso Centro de Saúde à espera para consulta. […] Uma coisa é certa: temos um problema que mata pessoas. Preocupamo-nos com a covid-19, muito bem! Preocupamo-nos com a guerra na Ucrânia, muito bem! Mas acho que não nos estamos a preocupar devidamente com um problema que mata pessoas. Um diagnóstico ou um tratamento que não é feito atempadamente, mata! E é isto que se está a passar neste país. Devíamos ir muito mais longe”, afirma Miguel Borges, considerando ser caso de “emergência nacional” e lamentando “o retrocesso enorme do SNS, uma das maiores conquistas de Abril”, que celebrou 49 anos. Defendeu ainda a ideia da criação de um “pacto de regime” sobre este assunto.
c/PAULA MOURATO
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