V Encontro Museus do Médio Tejo, em Sardoal. Jorge Simões. Créditos: mediotejo.net

Cada vez mais os museus assumem uma nova dinâmica no que diz respeito à oferta de serviços e à sua relação com a sociedade. Deixaram de ser meros repositórios de artefactos do passado para terem a capacidade de gerar estímulos nos seus visitantes e podendo ir até mais longe; conseguir que o visitante seja agente interessado no desenvolvimento dos territórios, apresentando ideias inovadoras. Esta é certamente uma das conclusões do V Encontro Museus do Médio Tejo.

Para além dos Encontros – já na sua quinta edição – a ideia passa por partir para “mais projetos, em conjunto no Médio Tejo. Dar maior unidade” a esta Rede de Museus, começou por afirmar ao nosso jornal o 2º secretário executivo da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT), Jorge Simões, a propósito de um evento que decorreu esta segunda-feira, em Sardoal.

À margem do evento, o secretário executivo da CIMT deu conta de existem projetos em desenvolvimento, por cada museu individualmente “e que têm muito a ver com o conhecimento que todos os museus vieram ‘beber’ em conjunto”, nomeadamente no que diz respeito a candidaturas, como por exemplo aos prémios da Associação Portuguesa de Museologia (APOM).

A Rede de Museus do Médio Tejo acredita que “o contacto permanente entre as equipas está a produzir resultados ao nível da própria qualidade e equidade que os serviços dos museus e das coleções visitáveis do Médio Tejo estão a dar às suas comunidades”, num potenciar de sinergias que a todos beneficia.

Falando sobre a problemática da atração de visitantes pelos museus, Jorge Simões revela, no que diz respeito ao trabalho de proximidade, que “muita coisa está a ser feita. Entre museus, escolas, centros de dia e outros grupos específicos de cada uma das comunidades, projetos muito interessantes; pessoas que nunca tinham entrado num museu e que estão a entrar”, assegura.

Os profissionais do setor já perceberam que um museu “não é apenas um repositório cultural de cada uma das comunidades. Tem de ser um repositório que transforme o património numa mais valia para a comunidade”. Ou seja, “como um museu pode, na sua comunidade, ser transformador e catalisador de uma maior sustentabilidade para aquele território. É muito importante!”, considera o responsável.

Museu de Arte e Arqueologia de Abrantes (MIAA) . Foto: CMA

No fundo, ver (e trabalhar) um museu como impulsionador da inovação. “Tem de transformar esse conjunto patrimonial em mais valias para o futuro de cada uma das comunidades. Isso é o mais importante que os museus podem fazer”, defende Jorge Simões, afirmando que tal tem sido prática no Médio Tejo.

“Basta ver os exemplos que vão aparecendo de projetos de interação com as próprias comunidades, no caminho de crescimento que se está a verificar”, indicou.

Ainda assim, o trabalho em Rede “vai ter de ser otimizado e aprofundado” trilhando um caminho para o qual ainda não se partiu através destes Encontros: “ produzir coisas em conjunto. Tem-se feito a partilha de conhecimento” mas para Jorge Simões este é o momento da organização em conjunto dos museus.

“Não precisam de ser todos mas alguns, por áreas temáticas, apresentarem ofertas combinadas” dentro da sub-região Médio Tejo, designadamente “os templários, o património religioso, o património industrial, bastante relevante. Áreas temáticas que possam trabalhar em conjunto para oferecer também serviços e oportunidades de visitas enriquecidas, em conjunto, por áreas temáticas do património do Médio Tejo”.

ÁUDIO | JORGE SIMÕES, SECRETÁRIO EXECUTIVO CIM MÉDIO TEJO:

ÁUDIO | SECRETÁRIO EXECUTIVO DA CIMT, JORGE SIMÕES

Foi no sentido de inovação que decorreu a primeira conferência do Encontro, por Mariana Espel de Oliveira (diretamente do Brasil) com o tema “Museus, boas práticas para o desenvolvimento sustentável”.

V Encontro Museus do Médio Tejo, em Sardoal. Créditos: mediotejo.net

A coordenadora científica do Projeto Desenvolvimento Sustentável, em execução na Rede de Museus de Famalicão, trouxe ao Centro Cultural Gil Vicente a Agenda 2030 das Nações Unidas e de como os museus a podem utilizar como ferramenta para olhar além dos seus muros e contribuir, com a sociedade civil, de forma mais assertiva e ter como uma das suas missões, cooperar com o desenvolvimento ordenado da sociedade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da comunidade que o rodeia.

Tendo em conta o mote do V Encontro de Museus, Mariana Espel de Oliveira lembrou o conceito de desenvolvimento sustentável, oficializado em 1987.

Surgiu como resposta ao crescimento da desigualdade entre países ricos e pobres, aumento populacional, alterações climáticas e necessidade de garantir um crescimento para todos. O termo sugere que os países procurem “um desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras”.

Mariana referiu que “a produção de riqueza também pode ser predatória. Tem de ser regulamentada”, especialmente no que diz respeito ao “processo produtivo, onde entram as questões ambientais. O crescimento económico é importante mas tem de ser um elemento de desenvolvimento da sociedade”, defendeu, mostrando a diferença entre crescimento e desenvolvimento.

Isto é, o desenvolvimento prende-se com a qualidade de vida. Portanto, o foco passa por direcionar os recursos e ações para o que é realmente necessário. E como tal, a Agenda 2030 da ONU deve ser aplicada nas boas práticas para o desenvolvimento sustentável dos museus.

A elaboração de um modelo, permitiu conhecer quais são as ações e atividades da rotina de um museu que contribuí com as metas e indicadores para o desenvolvimento sustentável e medi-los de forma quantitativa.

Tendo por exemplo a meta da erradicação da fome, na Agenda 2030, o museu pode apoiar projetos locais de recolha de resíduos orgânicos para fins de compostagem, promovendo a plantação de géneros alimentícios nas residências. Ou disponibilizar o espaço exterior do museu para formação sobre a produção de vinhas e hortícolas. Ou ainda definir critérios para doação de alimentos produzidos nas hortas e vinhas e controlar de forma sistemática a sua produção.

V Encontro Museus do Médio Tejo, em Sardoal. Créditos: mediotejo.net

Por seu lado, na CIMT procura-se “trabalhar com várias equipas temáticas. É a forma mais prática de fazer as coisas acontecerem entre tantos municípios”, explicou o secretário executivo.

A Rede de Museus do Médio Tejo “inclui todos os municípios com os seus museus e sítios visitáveis mas também particulares, museus que não são tutelados pelos municípios”. Uma Rede “incentivada” em 2018 pelo Instituto Politécnico de Tomar, assumindo-se nestes encontros como uma reunião entre técnicos, diretores e responsáveis por museus e coleções visitáveis no sentido de trabalharem as melhores técnicas a implementar, a divulgação dos museus, a sustentabilidade dos museus ou como se organizam reservas.

“No fundo é um processo de aprendizagem em conjunto”, explicou.

Jorge Simões, em nome da CIMT, manifesta satisfação pela sub-região ter dois Museus do Ano, ambos em Abrantes – o Museu Metalúrgica Duarte Ferreira (em 2018) e o Museu de Arte e Arqueologia de Abrantes (em 2023) – mas lembra que outros museus do Médio Tejo mereceram distinções como é o caso do Museu Ferroviário (Entroncamento), o Museu do Santuário de Fátima (Ourém) e o Museu Carlos Reis (Torres Novas).

“É uma coisa que nos orgulha e se esses museus puderem trabalhar em conjunto, todos juntos, penso que todos ficarão a ganhar”, disse.

Museu Metalúrgica Duarte Ferreira, no Tramagal. Foto: CMA

O secretário executivo da CIMT admite que os “resultados práticos” destes encontros “podem não ser assim tão visíveis” mas na realidade estes cinco anos de encontros – anuais – “têm contribuído para que as equipas se organizem melhor no seu funcionamento, de museu e da sua proximidade à comunidade”.

O V Encontro Museus do Médio Tejo foi aberto pelo anfitrião. O presidente da Câmara Municipal de Sardoal, Miguel Borges, recorreu aos 500 anos de História da vila para referir Gil Vicente e a sua obra, bem como a importância de perceber como um património como séculos pode estar ao serviço de todos.

ÁUDIO | PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SARDOAL, MIGUEL BORGES

Rita Jerónimo, subdiretora-Geral da Direção-Geral do Património Cultural, salientou a importância do Guia de Autoavaliação de Sustentabilidade de Museus e a sua aplicabilidade aos museus portugueses bem como o compromisso social que será apresentado pela DGPC no próximo dia 6 de dezembro.

ÁUDIO | SUBDIRETORA-GERAL DA DIREÇÃO-GERAL DO PATRIMÓNIO CULTURAL, RITA JERÓNIMO

Já Rita Anastácio, pró-presidente do IPT, avançou que o Instituto encontra-se a desenvolver iniciativa na área da museologia. Sugeriu também que as “conclusões” do Encontro possam ser partilhadas no sentido de “ser criada uma região mais sustentável e inclusiva para todos”.

ÁUDIO | PRÓ-PRESIDENTE DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR, RITA ANASTÁCIO

Por fim, na sessão de abertura, falou o presidente da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, Manuel Jorge Valamatos, dizendo ser esta “uma região rica em história, tradição e cultura”, dando tónica na “preservação do património para a tornar mais atrativa para as gerações mais novas”, muito ligadas ao digital.

O autarca de Abrantes frisou ainda a importância de “reforçar os museus” mas “não como armazéns de artefactos”, sendo “locais de encontro de memória e futuro, motores de notoriedade para o desenvolvimento sustentável”.

ÁUDIO| PRESIDENTE DA COMUNIDADE INTERMUNICIPAL DO MÉDIO TEJO, MANUEL JORGE VALAMATOS
V Encontro Museus do Médio Tejo, em Sardoal. Créditos: mediotejo.net

Após os discursos de abertura foi entregue um ramo de flores à engenheira Paula Remédios, especialista em projetos intermunicipais e uma das responsáveis pela criação da Rede de Museus do Médio Tejo.

Organizado pela Rede de Museus do Médio Tejo, desta vez em estreita parceria com o Município do Sardoal, este quinto Encontro foi tido como um dos momentos de maior projeção do grupo de trabalho intermunicipal, significando uma atividade anual que se pretende realizar de forma alternada em todos os municípios da sub-região do Médio Tejo.

A Rede de Museus do Médio Tejo foi constituída em 2018, resultado de um protocolo entre a CIMT e o Instituto Politécnico de Tomar (IPT).

Trata-se de uma estrutura informal composta por museus e núcleos museológicos integrados na Rede Portuguesa de Museus, outros museus municipais, entidades museológicas do Estado Português e privadas que, entre outras iniciativas, tem realizado um Encontro anual.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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